Título: Cai a rentabilidade da pecuária leiteira
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/09/2004, Agribusiness, p. B-12

Nos últimos 12 meses, os preços dos insumos subiram mais do que o valor pago pelo leite. O produtor de leite perdeu rentabilidade este ano. Os custos de produção aumentaram mais que os preços pagos pelo produto. Com isso, muitos pecuaristas reduziram a área de gado e intensificaram a produção para ganhar escala. No últimos dois anos, as pastagens para a pecuária foram 5 milhões de hectares menores.

Além do aumento dos custos, os pecuaristas no Sul do País enfrentaram estiagem no inverno, que prejudicou a produção e elevou ainda mais os gastos.

Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo, nos últimos 12 meses, os gastos com alimentação do gado utilizando cana-de-açúcar subiram 14,7% para os produtores com média diária de 30 litros ao dia e 14,8% para a produção de até 15 litros ao dia. No caso do uso de milho, a alta foi de 18%. De acordo com o pesquisador Leandro Ponchio, a dieta alimentar responde por 35% a 40% do custo total de produção de leite.

"Os insumos subiram mais do que o preço do leite pago ao produtor", diz Marcelo Costa Martins, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Segundo ele, nos últimos 12 meses, o leite teve reação de 4,89%, enquanto o preço médio das rações subiu 17,57%.

Martins acrescenta que um fato que pode influenciar a rentabilidade do produtor é o aumento do custo da ração pela não incidência da isenção da Programa de Integração Social e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (PIS/Confins). Segundo levantamento da CNA, para sistemas de produção altamente tecnológicos o aumento do custo de produção será de R$ 0,05 e, para os pequenos, R$ 0,02 por litro.

Perda de renda

O analista Maurício Palma Nogueira, da Scot Consultoria, diz que, em razão da alta nos custos, a rentabilidade do pecuarista está baixíssima. Segundo ele, os gastos na produção estão muito próximo ao preço de mercado. Nogueira estima um custo médio de R$ 0,50 por litro. Segundo levantamento do Cepea/USP, o preço médio pago ao produtor em agosto - para o leite entregue em julho - foi de R$ 0,56 por litro. Para Ponchio, se o preço do leite ficar abaixo de R$ 0,40 o litro, será insustentável a continuidade da produção, devido aos custos altos. "Com certeza, se o preço cair, compromete a rentabilidade", avalia Nogueira.

Com a rentabilidade em baixa, os analistas verificam que o produtor vem investindo na melhoria da qualidade do leite e no aumento da produtividade. Prova disso, segundo a Scot Consultoria, é a diminuição da área de pastagem.

Gustavo Mônaco, analista da FNP Consultoria, diz que nos próximos meses, com a entrada da safra de leite e entressafra de grãos, a situação do pecuarista tende a piorar, pois a tendência é de aumento dos custos e queda nos preços pagos pelo produto.

Na avaliação de Eduardo Dessimoni, presidente da Comissão de Leite da Federação de Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), diante desse quadro, a expectativa é de produção estável para este ano - 6 bilhões de litros no estado. "O pecuarista não tem como diminuir a produção porque o gado demora a responder quando a alimentação é menor", avalia Dessimoni. Segundo ele, os preços só estão estáveis porque este ano as exportações registraram alta.

No Sul, no entanto, a tendência é de redução na produção de leite, devido à estiagem que atingiu a região. Maria Sílvia Digiovani, da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), diz que a seca afetou o pasto de inverno e, agora, a pastagem de verão está demorando a rebrotar, o que fez com que os produtores buscassem suplementação alimentar, aumentando os gastos.

A federação, no entanto, não sabe estimar em quanto seria este acréscimo. No Rio Grande do Sul acredita-se que a seca - no verão e posteriormente no inverno - afetará a produção, estimada em cerca de 2,1 bilhões de litros no ano - com redução de 15%.