Título: Disputa por Jirau será acirrada, dizem analistas
Autor: Scrivano, Roberta; Severo, Rivadavia
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/05/2008, Nacional, p. A5

19 de Maio de 2008 - Analistas apostam em uma disputa bastante acirrada hoje, em Brasília, no leilão da hidrelétrica de Jirau (3.300 megawatts de capacidade instalada), a segunda usina do Complexo Madeira, com leve favoritismo para consórcio liderado pela Odebrecht/Furnas, na avaliação dos especialistas. Seu único adversário, o consórcio encabeçado pela Camargo Corrêa, porém, entrará para a disputa mais fortalecido - em relação ao primeiro leilão, o de Santo Antônio -, por causa da parceria com o grupo franco-belga Suez. O leilão de Jirau está marcado para as 14 horas e será realizado via sistema eletrônico em ambiente fechado. O preço-teto estipulado para o certame é de R$ 91 megawatt-hora (MWh) - ganha o pregão o consórcio que der o menor lance. A previsão do governo é que as primeiras turbinas da hidrelétrica entrem em operação em 2013 e estejam em plena carga em 2015. Especialistas divergem em relação ao preço que será oferecido pelo consórcio vencedor para arrematar o empreendimento. As apostas para o valor da energia gerada por Jirau vão de R$ 70 a R$ 85 por MWh. "Seguramente quem ganhará o leilão será o consórcio Jirau Energia, liderado pela construtora Odebrecht e pela estatal Furnas, com um lance entre R$ 70 e R$ 78 o MWh", diz Humberto Viana Guimarães, consultor de energia. "Será uma tremenda surpresa para o mercado qualquer resultado diferente disso", acrescentou o analista. Guimarães justifica sua afirmação dizendo que "a empresa conhece o empreendimento e, como já ganhou o leilão da hidrelétrica de Santo Antônio, em dezembro de 2007, terá condições de otimizar os custos, visto a proximidade das duas barragens". Odebrecht e Furnas foram os responsáveis pelos estudos de viabilidade das usinas do Complexo Madeira, e usaram essa vantagem para ganhar o leilão de Santo Antônio, ao darem o menor lance para o preço da energia (R$ 78,87/MWh), valor que representou um forte deságio de 35% em relação ao preço máximo estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a usina, de R$ 122 o MWh. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), classifica a disputa como "equilibrada, mas com favoritismo para a Odebrecht/Furnas". "Esse leilão será um pouco diferente. Em primeiro lugar porque são apenas dois consórcios concorrendo. E, em segundo, porque no leilão de Santo Antônio a dupla Odebrecht/Furnas tinha `obrigação¿ de ganhar pois já havia investido muito dinheiro para realizar os estudos de viabilidade. Agora a obrigação é menor", pondera. Pires, apesar de acreditar no favoritismo do grupo, aposta em um deságio menos expressivo que o oferecido no arremate da primeira usina. "No máximo eles chegarão a R$ 85 o MWh". Nivalde de Castro, coordenador do grupo de estudos do setor elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita em uma competição acirrada. "Os dois grupos são fortes, mas o grupo da Odebrecht/Furnas é o favorito. É preciso pensar que esse consórcio está tratando do assunto `Rio Madeira¿ há pelo menos seis anos, contra apenas oito meses de envolvimento da Suez e Camargo Corrêa". Castro acredita que, com conhecimento profundo do empreendimento, o consórcio pode definir com precisão o custo da usina. "O valor do investimento está previsto em R$ 8,7 bilhões, mas estudando a obra é possível definir o custo com precisão". Lúcio Reis, superintendente executivo da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), prefere não prever quem será o vencedor, mas acredita que o preço do MWh ficará em torno de R$ 78, ou seja, mesmo valor do definido no leilão de Santo Antônio. Porém, percentualmente, caso o preço fique em R$ 78 MWh, o deságio será de 14%, portanto bem abaixo dos 35% oferecido no primeiro certame. "Se a Odebrecht levar, haverá a facilidade logística, já que o grupo estará construindo, simultaneamente, a usina de Santo Antônio. Mas do outro lado, há a Suez que normalmente tem estratégias agressivas". A Suez, ao lado da Camargo Corrêa, Chesf e Eletronorte, já partiu para uma estratégia inovadora e ousada ao fechar um "pré-leilão", realizado na sexta-feira (o resultado não foi divulgado), um dia útil antes do certame para construção da usina. O objetivo foi definir os preços de 30% da eletricidade a ser gerada por Jirau que obrigatoriamente deve ser negociada no mercado livre. "Com a definição de 30% do preço, fica mais fácil calcular o valor do deságio a ser oferecido", completa Reis, da Anace. Castro, da Gesel/UFRJ, também ressalta o bom momento econômico que o Brasil está passando. "Já alcançamos investment grade, além disso as condições de empréstimo do BNDES estão melhores agora que na época de Santo Antônio". O fundo de investimentos do FGTS, criado em outubro de 2007 como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), tem R$ 2 bilhões disponíveis para a usina, segundo a Caixa Econômica. O BNDES também melhorou as condições de financiamento em relação às estabelecidas para a usina de Santo Antônio, e o prazo para liberação dos recursos é até o fim deste ano. Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc Energia, que atua no mercado livre, acredita que o preço da eletricidade será arrematado em R$ 80/MWh ou R$ 85/MWh. "Os grupos estão muito bem formados e prometem um disputa boa". O Consórcio Jirau Energia tem a Odebrecht (com 18,6% de participação) e Furnas (39%) como líderes, além da Andrade Gutierrez Participações (12,4%), a Cemig (10%) e o Fundo de Investimentos e Participações Amazônia Energia, formado pelos bancos Banif e Santander, com os 20% das cotas restantes. O outro consórcio, denominado de Energia Sustentável do Brasil, é formado pela associação da Suez Energy, com 50,1%, Camargo Corrêa, com 9,9%, Eletrosul, com 20%, e Chesf, com 20% de participação. Na concessão de Santo Antônio, o consórcio da Odebrecht levou apenas sete minutos para fazer a oferta decisiva do pregão. Com a intenção de vencer novamente a disputa, a Odebrecht repetiu os mesmos sócios de Santo Antônio em Jirau. Para enfrentar esse consórcio, a Suez e a Camargo Corrêa uniram forças. No leilão passado, elas participaram em times diferentes e foram derrotadas pelo menor preço oferecido por Furnas e Odebrecht. Além dos consórcios, 39 empresas de distribuição participarão como compradoras de energia. Expectativa do governo O resultado do leilão de Jirau também será fundamental para o governo mostrar que as obras do PAC estão andando. Para evitar surpresas de última hora, o governo tem um batalhão de advogados e procuradores de prontidão para caçar qualquer liminar que tente postergar a data da licitação que já sofreu dois pequenos atrasos. A expectativa do governo é que o preço teto estipulado em R$ 91 por MWh tenha um deságio grande e caia para a casa dos R$ 70. O deságio oferecido para a usina de Santo Antonio, de 35%, foi muito comemorado pelo governo. No próximo balanço do PAC, marcado para a primeira semana de junho, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, quer anunciar, mais uma vez, que a energia que será comercializada no futuro tem baixo custo. O Planalto acredita que o consórcio da Odebrecht vença a disputa e os argumentos não são diferentes dos analistas: a vantagem do grupo está no fato de já ter levado a construção de Santo Antônio, o que traz vantagens de escala, porque os canteiros das obras da duas usinas serão próximos e por ter realizado, junto com Furnas, os estudos de viabilidade econômica das hidrelétricas, o que lhe confere maior conhecimento sobre os custos do projeto e pode ser fator decisivo na hora de dar um lance no leilão. Outra novidade do leilão é que ele estaria mais atrativo para os investidores, segundo alguns analistas, com a saída da ministra Marina Silva da pasta do meio ambiente. Ela foi resistente a liberação da licença ambiental prévia para a construção do complexo de usinas no rio Madeira. O novo ministro, Carlos Minc, é tido como mais flexível na liberação das licenças. Jirau ainda necessitará da licença de instalação para que as obras comecem a andar e a posterior licença de operação. O leilão será promovido pela Aneel e a operacionalização será da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), sob delegação da agência reguladora. Domínio das hidrelétricas A entrada das duas usinas do Complexo Madeira no sistema elétrica, que somam 6.450 MW, reforçar ainda mais a predominância da geração hidrelétrica, que responde por 70,66% da oferta total de eletricidade do País. Segundo a Aneel, existe 677 usinas, que geram 77,1 mil megawatts. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)()