Título: Núcleo duro do governo se afasta do PT
Autor: Correia, Karla
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/05/2008, Politica, p. A7

Brasília, 19 de Maio de 2008 - Mais discreto, menos presidenciável - já que, até o momento, conta com apenas uma candidata em potencial com vista a 2010 - e bem mais descolado do PT que o grupo que o antecedeu, o novo núcleo duro do Palácio do Planalto tem nas eleições municipais de 2008 a chance de estender seu círculo de influência. O objetivo é firmar posição na guerra surda travada com a ala petista que perdeu espaço no governo com a queda do antigo núcleo. Aquele que, no primeiro mandato, tinha em José Dirceu, Antonio Palocci e Luiz Gushiken seus principais expoentes. O novo núcleo terá, contudo, de enfrentar antes sua própria versão da "maldição" que assombra a coordenação política. Em sucessivas ondas, Dirceu, Palocci, Gushiken e Walfrido Mares Guia foram decepados da órbita mais próxima ao gabinete presidencial. Apenas dois personagens da configuração original desse círculo sobreviveram aos cataclismas. Mantiveram-se intactos nas proximidades de Lula o secretário-Geral da Presidência, ministro Luiz Dulci, e o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. .As ambições em torno da sucessão do presidente são o ponto em comum entre o atual núcleo duro - formado pelos ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro e da Justiça, Tarso Genro - e seu primo distante do primeiro mandato, essencialmente petista, cujas decisões encontravam consonância com o pensamento da cúpula do partido. São também o principal motor da tal maldição que tem vitimado nome por nome dos círculos mais internos da Presidência No primeiro mandato, as brigas eram internas. José Dirceu e Antonio Palocci que disputavam a primazia no processo sucessório de 2010. Dirceu também se altercava com Gushiken, só que pela influência sobre Lula. A tensão interna colaborou para aprofundar as rachaduras e para a desagregação do grupo, abatido pelos escândalos que vitimaram Gushiken e Dirceu, e da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, que derrubou Palocci. "O grupo anterior tinha como ponto fraco o excesso de estrelas em busca de um caminho para o Planalto, mas era próximo ao PT, o que lhe dava apoio", lembra um petista de alto calibre, com trânsito no Planalto.O atual núcleo duro não escapa das disputas interiores e deixa escapar, por vezes, a alta octanagem do ambiente que cerca Lula. O comentário de um atrito ministerial vazado para a imprensa já foi suficiente para Dilma se indispor com José Múcio, conhecido por sua diplomacia no ambiente político. A hostilidade entre o PT e Dilma Rousseff cumpre papel importante na crise que se aproxima perigosamente da ministra, cada vez mais tratada pelo presidente Lula como sua mais provável candidata ao Planalto em 2010. O fato de Dilma ter vindo do PDT é explorado por grupos interessados em fazer seus próprios candidatos dentro do PT para minar a influência da ministra no partido. Na avaliação do cientista político David Fleischer, o atual momento do grupo que centraliza a coordenação política será fundamental na definição dos rumos de 2010. "Se a ministra Dilma passar pelo escândalo do dossiê dos cartões de FHC sem grandes arranhões em sua imagem, se ela se preservar como virtual candidata à sucessão presidencial, vai adquire uma força política difícil de dobrar", acredita Fleischer. De acordo com o especialista, os efeitos desse "teste de resistência" se refletirão em todo o núcleo duro, que agora se movimenta não só para escapar dos estilhaços do dossiê para o governo, mas também para firmar sua zona de influência nas eleições municipais. "Trata-se de um grupo mais heterogêneo que o anterior no que diz respeito à origem regional, então é mais difícil consolidar essa influência. Mas o efeito teflon de uma eventual superação da crise, somada à consolidação de espaços em prefeituras importantes dará a Dilma e aos demais integrantes da coordenação política o condão de não ter mais que se preocupar com o fogo amigo do PT", finaliza. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)()