Título: Economia peruana coloca país na pauta global
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/05/2008, Internacional, p. A12

Lima, 19 de Maio de 2008 - A economia do Peru cresce a passos largos e isto coloca o país sul-americano na atual pauta global. Nos últimos dois anos, o berço da nação Inca registrou taxas de crescimento recordes e em patamares quase chineses, entre 8% e 9%, uma das mais altas na América Latina. Conquistou também a classificação de grau de investimento antes do Brasil e foi incluído este ano no rol das economias mais competitivas pelo instituto suíço IMD, um dos mais conceituados em economia do mundo. O Peru, que não estava na lista dos 55 países mais competitivos em 2007, ficou atrás do Chile, que ocupou a 26ª colocação no ranking publicado desde 1989. O primeiro lugar foi dos Estados Unidos e o Brasil ficou na 43ª posição. Essa inserção do Peru no cenário internacional acabou catapultada na passada, quando o país anfitrião da V Cúpula América Latina e Caribe e União Européia (ALC-UE), encerrada no sábado (17), ficou no centro das atenções diante da presença dos presidentes e chefes de Estado e representantes das 27 nações da UE e das 33 da ALC. O Produto Interno Bruto (PIB) peruano cresceu 9% no ano passado e foi o segundo maior índice na América Latina, atrás apenas do Panamá, que teve alta de 11,2% no PIB de 2007, conforme dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Informática, entidade de pesquisa governamental. Para este ano, as expectativas de especialistas são de que o PIB do país mantenha o mesmo percentual do ano passado. O presidente peruano, Alan García, empossado novamente em 2006, espera que a taxa do PIB supere dois dígitos. "Há dois anos, a média de crescimento era de 5%. Seguramente queremos que o Peru cresça a 11% ao ano e até triplicar as taxas de crescimento anteriores", disse ele no sábado em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma platéia de 200 empresários brasileiros e peruanos. O fato de os governos anteriores terem adotado políticas macroeconômicas seguindo a cartilha do Consenso de Washington é um dos consensos sobre o porquê desse crescimento acelerado. Economia aberta, baseada na exportação de commodities minerais, como ouro e cobre, também ajudaram, na opinião de economistas. Entre 2003 e 2008, o ouro registrou um aumento de 198%, atingindo um dos maiores patamares das últimas décadas. A cotação do cobre saltou 411% no mesmo período, conforme o Banco Central peruano. Apesar de a inflação dos últimos 12 meses ter saído da meta do BC e somado 5,5%, pressionada pela alta das commodities, ainda é uma das mais baixas do mundo. O índice de preços subiu 3,9% em 2007. "O Peru vem sendo beneficiado pelas medidas adotadas no passado e que foram continuadas pelos dois últimos governos para incentivar o investimento estrangeiro no país e também pela atual conjuntura externa, que favorece o país com a forte alta dos preços das commodities minerais", analisou o economista Ismael Muñoz, coordenador do programa de governabilidade e administração pública do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica do Peru (PUCP). A mesma opinião é compartilhada pelo empresário peruano, Ricardo Vega Llona. Na opinião do economista da PUCP, a recuperação econômica do Peru mais acelerada teve pontapé inicial na década de 90, com a perda da influência do Sendero Luminoso no país, mas acabou recuando com a crise asiática e só retomou o ritmo em 2002. E, para confirmar esse bom momento do Peru, um relatório do Fundo Monetário Internacional, divulgado na semana passada, elogia a "notável expansão econômica do país, que resultou na mais elevada taxa de crescimento e superávit fiscal em uma década, com redução de vulnerabilidades externas e importantes avanços em matéria de emprego e luta contra a pobreza." O professor Muñoz esfria os ânimos dos que chegam a falar em um "milagre" econômico. "O problema da distribuição de renda persiste no país. Mais de 40% da população vive na situação de pobreza e mais de 15% dentro desse montante vive em situação de extrema pobreza. Com isso, a economia peruana tem duas realidades, dois Perus que crescem de maneira distinta. É um paradoxo do crescimento econômico peruano e por isso não chamaria de milagre." Para o economista, tanto García quanto o ex-presidente Alejandro Toledo, possuem seus méritos pelo forte crescimento no país. No entanto, ele critica ambos por terem feito pouco para a redução da desigualdade. "A informalidade é muito elevada e chega a atingir cerca de metade das micro e pequenas empresas no Peru", disse. O setor de transporte é o mais informal pois o desemprego faz com que o táxi seja alternativa de renda. Ex-vice-ministro do governo de Alejandro Toledo, Waldo Mendonza Bellido, professor do departamento de economia da PUCP, destacou que um dos principais fatores para o crescimento sustentável da economia peruana é a autonomia do Banco Central do país, que existe desde o governo de Alberto Fujimori, no início dos anos 90. Bellido também destacou o fato de os governos darem continuidade à estratégia de abertura comercial. "O modelo de desenvolvimento aberto, sem muitas mudanças e com políticas de redução da dívida pública, foi importante para garantir o crescimento", disse. "Não é milagre, mas sensatez que muitas economias não têm." O ex-vice-ministro citou também os acordos comerciais de livre comércio (TLC) do Peru como responsáveis pelo impulso das exportações - o TLC com os Estados Unidos está em vias de entrar em operação e há outros em negociação com China e Cingapura. "A entrada do Peru na Apec (Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico) também foi muito importante." Ao longo da última semana, Alan García conseguiu garantir o compromisso de alta de investimentos de países de peso na balança comercial do país, que já apresentaram um ritmo de crescimento significativo nos últimos anos. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, assegurou que existe espaço para que o investimento brasileiro no Peru aumente. Conforme Lula, o estoque de capital brasileiro no país já supera a marca dos US$ 2 bilhões. Somente o memorando de entendimento assinado por Braskem, Petrobras e Petroperu no sábado prevê investimentos de US$ 2,5 bilhões. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12)()