Título: Correa e Uribe trocam farpas em reunião para criar a Unasul
Autor: Correia, Karla
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/05/2008, Internacional, p. A12

Brasília, 26 de Maio de 2008 - Mal terminou a abertura da reunião de cúpula que selou ontem a criação da União Sul-Americana de Nações (Unasul), órgão que pretende unir 12 países da América do Sul e Caribe como uma instância de mediação de conflitos na região, o presidente do Equador, Rafael Correa, procurou a imprensa. Diante das câmeras, disparou críticas contra o governo da Colômbia, país cujas relações com o Equador estão estremecidas desde que tropas colombianas invadiram o território equatoriano em um ataque contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), no início do ano. Álvaro Uribe não se fez de rogado para responder. Depois de almoço entre os 12 chefes de Estado reunidos em Brasília para a instalação da Unasul, no Itamaraty, também buscou os órgãos de comunicação. "A Colômbia expressou todas as suas posições esta manhã. São importantes essas reuniões para que se diga tudo o que precisa dizer e para que não se deixe de falar nas reuniões para dizer à imprensa", atacou Uribe. Mais cedo, Rafael Correa classificou as relações entre os dois governos de "deploráveis". "Enquanto continuem os ataques do governo colombiano, enquanto continuem as campanhas na mídia, as calúnias de que eu teria ordenado às Forças Armadas não perseguir as Farc, de que o Equador abriga terroristas, é muito difícil reatar as relações", sentenciou Correa. A briga dos dois presidentes sul-americanos deu o tom da tensão que cerca a Unasul já em sua instalação. Antes mesmo da efetiva constituição do organismo, o ex-presidente equatoriano Ricardo Borja, indicado para a secretaria geral da Unasul, renunciou ao cargo. Alegou não acreditar na força política do órgão para resolver conflitos entre os países da América do Sul.Conselho de Segurança Outro sobressalto impediu que um dos braços do Unasul - seu Conselho de Segurança, idealizado para unificar políticas de defesa entre os países signatários - fosse instalado junto com o órgão. O governo colombiano recusou-se a participar do conselho. Dar a conhecer informações estratégicas do setor de defesa do país comprometeria o combate às Farc, argumentou o presidente Álvaro Uribe, que também pediu o reconhecimento das Farc como forças terroristas. O governo brasileiro, só para citar um exemplo, não reconhece. Segue o entendimento da Organização das Nações Unidas (ONU) em seu julgamento. Presidente temporária da Unasul, a presidente chilena Michelle Bachelet anunciou a criação de um grupo de trabalho que, nos próximos 90 dias, tentará reduzir as resistências dos governos sul-americanos ao conselho. Só depois desse prazo os países da região voltarão a discutir a criação do órgão. "Eu estou há seis anos na Presidência do Brasil e cada vez que discutimos uma proposta de acordo que envolve um ou mais países, às vezes levamos meses discutindo, e tem que ser assim até que todos estejam convencidos de que a proposta é boa para todos os países", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, negando que a proposta do conselho tenha fracassado já em seu nascedouro. Os desentendimentos entre países sul-americanos seriam um "sinal de vida" no continente, entende Lula. Mas o processo de solidificação da Unasul, bandeira da política externa brasileira, ainda demorará para acontecer, admitiu o presidente. "A caminhada até construirmos a muralha da China vai demorar muito tempo", discursou Lula, depois da reunião de assinatura do tratado constitutivo do organismo. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12)(