Título: Bancos privados cobiçam a Nossa Caixa
Autor: Feltrin, Luciano; Nascimento, Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/05/2008, Finanças, p. B1

26 de Maio de 2008 - O Banco Nossa Caixa virou o ativo mais cobiçado do mercado brasileiro, após o anúncio de intenção do Banco do Brasil de comprar a instituição. Na última sexta-feira, grandes bancos brasileiros manifestaram a mesma intenção e insistiram que um leilão deve ser realizado para a venda, enquanto o preço das ações da Nossa Caixa disparava, chegando a alcançar alta acima de 40% na metade do dia. O governador José Serra, do Estado de São Paulo, que detém o controle do banco - o 12 maior em ativos do País -, afirmou, contudo, que a única proposta recebida para iniciar negociações foi a do BB e que o critério para decidir será o que for melhor para o Estado e funcionários da instituição. "O que vamos defender é que se obtenha o máximo de recursos para fazermos investimentos em estradas, transporte, metrô, saúde, educação, saneamento", disse Serra, quando questionado sobre a possibilidade de fazer um leilão. O governador afirmou que está aberto a novas propostas. "Se quiserem fazer, podem fazer", disse, acrescentando, entretanto, que é natural pensar que a proposta do BB será sempre a melhor para o Estado do que "em princípio, propostas dos bancos privados", pelo interesse que o Banco do Brasil tem nos depósitos judiciais da Nossa Caixa, de R$ 16 bilhões. "Esses depósitos só podem ficar em banco público." Se uma empresa privada comprar o banco não poderá levar tais depósitos, o que, teoricamente, a levaria a fazer uma oferta menor do que a do BB, que os considera relevantes, já que formam um funding de baixo custo. Mesmo sem esses ativos, a instituição paulista é vista como uma das operações mais interessantes em um mercado ainda em consolidação. Essa é a avaliação do Unibanco, 6 colocado do País em ativos. "Não restaram muitas opções. A Nossa Caixa é um dos poucos ativos remanescentes de qualidade em um mercado (São Paulo) onde temos planos de expansão. Porém, acreditamos que, como o controlador do banco é estatal, qualquer iniciativa de transferência deve ser feita em um leilão, procedimento que garantiria transparência ao negócio", afirma o vice-presidente de varejo do Unibanco, Márcio Schettini. Bradesco e Banco Itaú, respectivamente, 1e 2 colocados em ativos, e Banco Santander também marcaram posição no mesmo sentido. "O leilão traz as coisas às claras, com o preço correto, que seria formado da concorrência entre os interessados", afirmou o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, em nota. Santander e Itaú confirmaram, por meio da assessoria de imprensa, que um leilão seria a forma mais adequada para a venda da Nossa Caixa. Segundo Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, agência classificadora de risco, a competição elevaria o preço da Nossa Caixa, mas o processo seria mais demorado, principalmente, porque tem de ser aprovado pela Assembléia Legislativa do Estado, mais propensa a um acordo entre as instituições públicas. Serra também lembrou que tanto um leilão mais amplo como um menor devem ser examinados pela Assembléia e observou que a Nossa Caixa desperta tanta atenção por ser um banco enxuto e profissional. "Não há troca-troca político algum. É um ativo interessante e São Paulo tem muita demanda por investimento. Se houver uma proposta boa, vamos aceitá-la. Se não convier, não vamos vender", disse, rebatendo especulações de que teria acertado a venda diretamente com o presidente Lula. Uma eventual incorporação da Nossa Caixa pelo BB também será analisada pelo Banco Central (BC). O presidente do BC, Henrique Meirelles, disse à Agência Brasil, que ela será observada "do ponto de vista prudencial e de concentração bancária, e caso o negócio seja fechado, nós vamos olhar como temos olhado todas as demais fusões e aquisições normalmente". As ações ordinárias da Nossa Caixa valorizaram-se 31,5% no fechando o último pregão da semana passada, negociadas a R$ 36,30. O efeito foi oposto com os papéis do BB, que reagiram à notícia registrando queda de 2,81% - mais do que o dobro das perdas do Ibovespa na sessão - a R$ 28,33. "O comportamento de alta das ações da Nossa Caixa é fácil de ser explicado. O percentual de subida foi até modesto e pode ser acentuado nos próximos dias", afirmou o analista de bancos da corretora Ágora, Aloisio Lemos. "Como o banco está listado no Novo Mercado, seus acionistas minoritários terão direito a receber pelos papéis 100% do valor que for desembolsado ao bloco de controle em caso de a venda vingar", disse Lemos. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) está atenta à negociação e investigará o comportamento das ações dos dois bancos nos pregões que antecederam as negociações para saber se algum participante do mercado obteve informações privilegiadas. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(