Título: Falta de gasolina, dilema da Petrobras
Autor: Freitas, Jorge
Fonte: Correio Braziliense, 20/04/2011, Economia, p. 14

Diretor alerta para possível escassez por causa da entressafra do álcool, utilizado para mistura com derivado de petróleo. Estatal nega.

Os preços de etanol estão disparando com o forte aumento da demanda, colocando mais pressão sobre a inflação e elevando temores sobre uma possível falta de combustível em algumas partes do país. Os valores cobrados pelo álcool anidro subiram para níveis recordes, em parte por causa da diminuição da oferta de cana na entressafra, enquanto a colheita se aproxima. Isso pode deixar, em breve, partes do Brasil na posição atípica de não ter etanol suficiente para atender a mistura compulsória determinada pelo governo para a gasolina.

¿O mais difícil (em termos de abastecimento) é o etanol anidro para ser misturado à gasolina. Se houver falta de gasolina, pode ser causada por isso¿, admitiu ontem à agência Reuters o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Depois, a Petrobras informou, por meio de comunicado à imprensa, que Costa não disse que poderá faltar gasolina. ¿Ele ressaltou o que já é de conhecimento público, que existe pouca oferta de álcool no mercado¿, diz o texto.

Toda a gasolina vendida atualmente no Brasil tem uma mistura de 25% de álcool anidro. Nos últimos anos, o governo reduziu o percentual para um nível mínimo de 20% para ajudar a conter a pressão sobre os preços no período de entressafra e evitar qualquer falta. Autoridades têm sugerido que se faça ação similar em breve.

O Brasil produz dois tipos de etanol à base de cana-de-açúcar: o hidratado, que é usado diretamente em automóveis que rodam com o combustível e o anidro, que é misturado a toda gasolina utilizada no Brasil, como forma de manter um limite aos preços de combustível ou para reduzir o consumo de combustíveis fósseis. ¿As pessoas estão com medo de escassez em áreas mais isoladas do país¿, disse Marcelo Andrade, diretor da corretora Ecoflex, do Rio de Janeiro.

Recorde Distribuidores pagaram até R$ 2,80 pelo litro de etanol anidro na terça-feira, incluindo impostos, com ofertas atingindo até R$ 3 por litro, disseram corretores. Isso é um nível recorde, e muito acima dos R$ 2,10 de uma semana atrás. Os preços do etanol hidratado também oscilam em torno das máximas de cinco anos, levando motoristas de veículos flex a aumentar significativamente a troca do etanol pela gasolina, que tem melhor desempenho que o biocombustível.

O etanol hidratado era negociado na terça-feira a R$ 1,70 o litro, acima dos cerca de R$ 1,60 o litro de duas semanas atrás, de acordo com a corretora Mikz. A debandada para a gasolina corroeu os estoques de etanol anidro, forçando algumas usinas a recorrerem a importações para atender à demanda, assim como fez a Petrobras, que importou gasolina. O total das importações de etanol para a Região Centro-Sul do Brasil entre janeiro e maio é agora estimado para atingir 200 milhões de litros, acima dos 150 milhões de litros estimados há um mês.

O governo também está trabalhando em uma proposta regulatória geral para a indústria de etanol. O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, disse que as decisões para garantir o abastecimento de etanol deverão ser tomadas em maio pela Presidência da República.

A pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Miriam Bachi disse que, quando parar de chover no interior de São Paulo, a colheita retomará o ritmo desejado e as usinas poderão processar a cana de forma ininterrupta e aumentar a oferta de etanol anidro, levando a uma queda de preço.