Título: Cearenses diversificam negócios com Cabo Verde.
Autor: Adriana Thomasi
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/09/2004, Gazeta do Brasil, p. B-13

Encontro em Fortaleza permite contratos que totalizam US$ 1 milhão em vários segmentos, como o metal-mecânico. O segundo encontro Ceará-Cabo Verde encerra hoje a maratona de negócios com possibilidades de contratos avaliados em US$ 1 milhão, envolvendo áreas de construção civil, móveis, metal-mecânico, químico, alimentos, bebidas e calçados, foco de interesse dos importadores do arquipélago. Cerca de 104 empresas - 24 de Cabo Verde, 2 do Senegal e as demais do Ceará - reunidas no Centro de Negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE), participam da edição que acaba hoje.

"De um modo geral, os encontros funcionaram como multiplicador das relações comerciais com o continente africano", observa o superintendente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Cin/Fiec), Eduardo Bezerra Neto. O vice-presidente para Assuntos Internacionais da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Roberto Proença de Macedo, calcula para o ano algo em torno de US$ 1 milhão em exportações para Cabo Verde.

O empresário tem expectativas ainda mais otimistas para os próximos anos. "Em 2005, projetamos exportar US$ 2,8 milhões, correspondendo a 1% dos embarques brasileiros para o arquipélago", adianta. As estimativas avançam para cerca de US$ 10 milhões, em 2010.

"Trabalhamos apara ampliar as relações comerciais e culturais entre as duas regiões, que ano passado corresponderam a contratos equivalentes a US$ 1 milhão, fortalecendo a posição do Ceará como principal ligação a Cabo Verde e do continente africano", confirma Bezerra. Em 2003, cerca de 76 empresas cearenses participaram do encontro que reuniu 10 importadores africanos.

"Essa investida resultou em aumento na pauta de exportações do estado, além da prospecção de novos negócios e definição de uma rota específica de navio por meio da Atlantic Shipping Company Inc.", comemora Bezerra.

Resultados promissores

No primeiro semestre deste ano, o estado exportou cerca de US$ 650 mil ao arquipélago de Cabo Verde, enquanto em todo 2003 as vendas atingiram US$ 568 mil. "Saltamos da sétima para a quarta posição no ranking dos estados brasileiros que exportam para Cabo Verde", afirma.

Os embarques de produtos cearenses para o arquipélago vêm evoluindo nos últimos anos. Em 1996, representavam US$ 55.736.

Os negócios, iniciados há cerca de 6 anos, envolvem exportações de barras de ferro/aço, laminados, fogões, gás combustível, calçados, móveis e sucos de frutas. Rômulo César Macário Fernandes, do setor de exportação da cearense Tuboarte, diz que as perspectivas de negócios são animadoras. "O número de importadores dobrou nesta segunda edição. Além disso, estamos trocando informações com os empresários do arquipélago", afirma.

Qualidade

A Tuboarte exporta um ano para Cabo Verde e, conforme Fernandes, a expectativa é duplicar o volume negociado de 25 mil peças, entre camas e estofados. As projeções envolvem vendas realizadas no decorrer deste ano e do próximo. "A qualidade do produto, facilidade de montagem e a durabilidade vem entusiasmando os compradores", observa.

No mercado nacional, a Tuboarte comercializa seus produtos para as regiões Norte e Nordeste. "Estamos em negociação também com os Estados Unidos", adianta Fernandes. A empresa produz cerca de 80 mil peças mensais e trabalha com a perspectiva de crescer de 10% a 15% neste ano, a partir da implementação das vendas com o mercado norte-americano.

O importador Braz de Andrade, dono da empresa do mesmo nome, um dos 20 a participar do encontro de Fortaleza, acredita em negócios globais em torno de US$ 2 milhões, montante projetado para todo 2004. Na próxima viagem, prevista para a primeira semana de outubro, Andrade, que comercializa material de construção, prevê embarques de 25 contêineres de produtos, incluindo móveis residenciais e de escritórios.

O empresário diz que o preço do frete do Brasil para Cabo Verde ainda inibe o avanço dos negócios. Andrade afirma acreditar que definida essa ques-tão, o crescimento dos negócios "poderia ser espantoso".

Possibilidade de mais negócios

O arquipélago importa cerca de 70% de tudo o que consome. Os contratos fechados com empresários cearenses fornecedores de material de construção, móveis e eletrodomésticos pelo importador Filomeno de Carvalho, desde dezembro de 2003, somam algo em torno de US$ 100 mil. "Teríamos condições de negociar até cinco vezes mais, mas dependemos de transporte", diz, ao apontar a falta de regularidade de navios.

Para este ano estão programadas sete viagens para Cabo Verde, mas os números poderão duplicar, em 2005, dependendo da demanda, informa o presidente da norte-americana Atlantic Shipping Company Inc., Victor Lopes DePina, pioneiro na rota Cabo Verde-Ceará. A companhia opera com duas embarcações na rota Estados Unidos-Cabo Verde e Cabo Verde-Brasil (capacidade para 94 contêineres) e, de acordo com o armador, o negócio somente se torna lucrativo com ocupação superior a 70% do navio.

Nova investida

O superintendente do Sebrae-CE, Sérgio Alcântara, anuncia para outubro, missão de negócios com destino a Cidade da Praia, capital de Cabo Verde, e Dakar, no Senegal, entre os dias 6 e 13. "Vamos levar um grupo de 40 empresários do Ceará", informa. A idéia é de fortalecer o intercâmbio entre os dos parceiros. O roteiro inicia por Cabo Verde, com feira de produtos cearenses para comercialização e rodada de negócios, previstas para até dia 8.

A parada seguinte será Dakar, onde os empresários tratam de negócios até dia 13, informa Alcântara. O Sebrae também vai ministrar cursos de qualificação e apresentar sua grade educacional e gerencial aos empreendedores e empresários do arquipélago. "A idéia é ofertar as ferramentas disponíveis e mostrar a expertise do Sebrae fora do Brasil", adianta.

A estratégia envolve uma primeira rodada de cursos, com possibilidade de formar multiplicadores no arquipélago. De acordo com Alcântara, esta é a segunda investida do gênero e os resultados começam a aparecer. "Há 11 anos o Ceará não exportava para o Senegal e, neste 2004, retomou os negócios com embarques da ordem de R$ 200 mil", informa. O encontro de negócios é uma iniciativa do governo do estado, Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) por meio do Centro Internacional de Negócios (Cin), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-CE) e a Atlantic Shipping.

kicker: Projeções indicam para 2005 vendas de US$ 2,8 milhões ao arquipélago

kicker2: Negócios envolvem ferro/aço, laminados, fogões e gás combustível