Título: Amazônia não deve ser santuário
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/05/2008, Politica, p. A7

Brasília, 23 de Maio de 2008 - O ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, conseguiu, na quarta-feira, em dia de Congresso Nacional esvaziado por causa do feriado, transformar em pura polêmica o depoimento que prestou, durante audiência pública conjunta das comissões de Meio Ambiente e da Amazônia da Câmara dos Deputados. Discordou da proposta do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que defende a criação de uma guarda nacional para defender a floresta, procurou eximir-se da participação na saída da ex-ministra Marina Silva do governo e, depois de falar por exatos 60 minutos, abandonou o plenário sem responder a perguntas dos deputados interessados em ouvi-lo. Mangabeira foi embora escoltado por pelo menos cinco seguranças. E prometeu voltar no dia 11, caso algum parlamentar ainda queira interrogá-lo. Durante o curto período em que esteve na Câmara dos Deputados, o ministro disse que é preciso acabar com a idéia de que a Amazônia deve ser mantida como um santuário "para o deleite da humanidade" sem desenvolver ações produtivas. Segundo ele, a idéia de que é preciso desmatar para desenvolver também precisa ser combatida. "Nos propomos a fazer algo que o mundo ainda não fez: acrescentar conteúdo ao desenvolvimento sustentável", disse. Posse segura A questão fundiária foi apontada por Unger como um dos problemas mais sérios da região Amazônica. Ele acredita que, sem garantias jurídicas, o Brasil "vai construir em areias movediças". Para acelerar a posse segura, o ministro defende a regulamentação fundiária sem licitação. Segundo argumentou, nenhum país continental conseguiu resolver seus problemas fundiários sem simplificar as leis sobre o tema. O ministro defende uma estratégia para a Amazônia sem floresta, dominada por savanas tropicais e cerrado, e outra para a Amazônia florestal. Defendeu, também, um regime tributário na Amazônia florestal que faça a floresta "valer mais em pé, do que derrubada". Se não tiverem condições, as populações de pequenos produtores agrícolas ou extrativistas que se encontram na fronteira entre o cerrado e floresta vão desmatar para transformar a madeira em carvão", argumentou. Segundo relatou, ele já está conversando com os governadores dos Estados da Amazônia Legal sobre ações de desenvolvimento sustentável na região. Entre os temas, a revisão do arcabouço jurídico para resolver a questão fundiária, a situação das pequenas populações que vivem em regiões de fronteiras, a industrialização do complexo verde e o investimento em recursos humanos para a região. Para Mangabeira, é preciso mudar a realidade industrial da região amazônica e beneficiar as indústrias que transformam os produtos da floresta. O ministro defendeu, ainda, uma contribuição mensal para as populações que vivem próximas à floresta fazerem uma vigilância comunitária. Mangabeira considerou prematura a sugestão do futuro ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, sobre a criação de uma guarda nacional para a Amazônia. "É prematuro. Mas não sou eu quem vai desenvolver o Plano da Amazônia Sustentável". Mangabeira afirmou não acreditar que tenha sido uma crítica a sua pessoa, a sugestão de Minc, para que o Plano Amazônia Sustentável seja gerenciado pelo Meio Ambiente. "Eu não entendi assim. Estou consciente das minhas limitações e preciso confiar na generosidade dos brasileiros". O ministro negou ter sido o pivô da demissão da ex-ministra Marina Silva. Ele elogiou Marina, a quem espera poder contar com a ajuda. "A ação pública da ministra Marina demonstra as qualidades que todos nós devemos ter na vida pública e na execução de tarefas: modéstia, coragem, tenacidade, esperança e imaginação", disse. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)()