Título: Menos imposto não baixa preço no Brasil, alfineta Lula
Autor: Lorenzi, Sabrina; Americano, Ana Cecília
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/05/2008, Nacional, p. A8

Rio, 27 de Maio de 2008 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou ontem derrubar a tese do "quanto menos imposto mais barato fica". Mostrou que, pelo menos no Brasil, a redução da carga tributária nem sempre provoca queda nos preços. Diante de uma platéia de empresários e economistas que sempre questionam a elevada carga tributária do País a cada edição do Fórum Nacional, promovido pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, Lula alfinetou: "É engraçado, não vimos os produtos reduzirem de preço com o fim da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Parece que apenas aumentou o ganho daqueles que pagavam CPMF". O últimos indicadores de inflação dão razão ao presidente da República. Desde o fim da CPMF, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cresceu 2,08%. E o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (IPC-FGV) subiu 2,16% no mesmo período, de janeiro a abril. Os preços continuam crescendo, tanto por causa da pressão das matérias-primas como pelo aumento da demanda aquecida. As promessas de benefícios para os consumidores após o fim do imposto não se concretizaram, pelo menos sob a ótica da evolução da inflação. Uma análise mais detalhada dos preços, porém, impede qualquer conclusão por parte até de quem elabora esses indicadores. André Braz, pesquisador da FGV responsável pelo IPC, afirma que é difícil mensurar o impacto do fim da CPMF na inflação. As maiores altas vêm dos alimentos, que subiram 4,06% desde o fim do imposto, pressionados por razões externas. "Não temos condição de contabilizar se a retirada da CPMF de fato não contribuiu para baixar preços. Não sabemos se não fez diferença ou se essa eliminação contribuiu para que a alta do produto fosse menor, não sabemos". Em apenas quatro meses, o óleo de soja encareceu 30,61%, o feijão preto subiu 37,46%, as refeições fora de casa ficaram 4,3% mais caras. Em compensação, bens de consumo duráveis estão mais baratos desde o fim da CPMF. Os preços dos computadores e refrigeradores estão 4,03% e 2,88% menores. Braz explica que não dá para saber até que ponto o dólar fraco provocou esta queda nos preços e se a CPMF pode ter ajudado nestas reduções. Talvez. "Quem perde são os pobres" A redução de preços de alguns bens duráveis, porém, foi insuficiente para neutralizar o aumento de preços, em todos os grupos investigados pela FGV. Além de alimentação, vestuário, saúde, educação, tudo ficou mais caro depois do fim da CPMF. E o presidente Lula responsabilizou a todos: "A inflação não é apenas uma coisa do governo, jamais pedirei para alguém ser fiscal da inflação, mas todos temos responsabilidades, sabemos onde está e de onde ela vem. Quem perde com a inflação são os pobres", afirmou. Lula criticou os críticos do Estado forte. "O Estado tem que ser forte, para atender a quem precisa. São milhões e milhões de almas, mulheres e crianças, brasileiros que não vão a Brasília, que não têm lobby". Com o fim da CPMF, lembrou, o governo deixou de arrecadar R$ 40 bilhões e disse que "quem perdeu com isso foi o PAC da saúde". E completou: "Ao falar de CPMF aqui, certamente arrumei algum adversário", acrescentou Lula ao se dirigir à platéia de empresários. O presidente também cobrou do Congresso a aprovação da Reforma Tributária e outras questões. "Confio no Congresso para completar as principais modificações que ainda estão pendentes como, por exemplo, a lei das licitações e do novo sistema brasileira da concorrência". Empresários sem medo E voltou a declarar que o combate à pobreza é o foco principal do seu governo. "Não vale a pena governar se não for para reduzir a pobreza e as desigualdades. É assim que meu governo toma conta da economia. É essa bússola que me orienta a tomar minhas decisões". E concluiu: "Estamos todos no mesmo barco, trabalhadores e empresários. Empresários brasileiros que acreditaram no Brasil e investiram, que não tiveram medo do Lula nem fugiram para Miami", brincou. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)( e )