Título: A Amazônia tem dono e o Protocolo de Kyoto faliu
Autor: Americano, Ana Cecília; Lorenzi, Sabrina
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/05/2008, Nacional, p. A8

Rio, 27 de Maio de 2008 - O XX Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos (INAE) foi palco para vários recados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem, no Rio de Janeiro, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Falando para uma platéia de empresários, professores, o Prêmio Nobel de Economia Edmund Phelps e dois governadores - Jaques Wagner (PT/BA) e Sérgio Cabral (PMDB/RJ) - Lula foi enfático na defesa da soberania do País sobre a Amazônia. "A Amazônia tem dono", frisou o presidente no único momento em que arrancou aplausos da platéia. Aludia aos países que, segundo ele, são responsáveis por "70% da poluição mundial e agora ficam de olho na região" devido ao desmatamento. Lula também defendeu o etanol brasileiro. O argumento é a importância da contribuição do etanol brasileiro diante de um mercado de combustíveis fragilizado pelos fortes desequilíbrios de oferta e de demanda de petróleo. O presidente defendeu o papel do País na nova ordem mundial em que vários países em desenvolvimento estão crescendo a um ritmo mais vigoroso do que as economias tradicionais e sua crença no sucesso da reunião de cúpula da Unidade das Nações Sul-Americanas (Unasul), realizada ao final da semana passada. Em mais de 40 minutos, seu discurso comportou, ainda, críticas dirigidas a economistas pessimistas que erraram projeções, à imprensa, à política ambiental de alguns países desenvolvidos e aos setores empresariais. Para Lula, o Protocolo de Kyoto faliu. "Quem teria algo a fazer, nem chegou a referendar o acordo multilateral", provocou. "Mas nós já retiramos 800 milhões de toneladas de do ar e oferecemos ao mundo um combustível não poluente, que é o etanol de cana-de-açúcar". Segundo o presidente, os donos da Amazônia são os índios, os seringueiros e o povo que tem consciência da importância da diminuição do desmatamento. Lula frisou, ainda, que a região possui 25 milhões de habitantes que também têm direito de acessar os bens que outros brasileiros. "Por que é que eles teriam de ficar segregados do desenvolvimento?", perguntou. O etanol foi objeto de várias considerações durante o discurso. "O Brasil oferece ao mundo o etanol", afirmou, ressaltando suas qualidades em eficiência energética, custo e produtividade. "Nós vamos convencer o mundo de que esse biocombustível pode ajudar a diminuir a crise energética, a poluição e também a inflação", declarou. Ele ressaltou o papel de lobbies e preconceitos existentes nos países em desen-volvimento contra o combustível. "Eles só serão vencidos com um intenso debate público", garantiu. E prometeu ir a Roma na Conferência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) na semana que vem para defender os interesses brasileiros contra o que chamou de "campanhas orquestradas" contra o combustível renovável. Lula falou ainda sobre o papel do Brasil na ordem mundial. E comprometeu-se a, ao participar do G20, intervir junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) para pôr fim às barreiras comerciais -- adjetivadas de "um muro inaceitável" que as nações desenvolvidas erguem para perpetuar a miséria nas nações pobres e em desenvolvimento. Já em relação à Rodada de Doha, Lula acredita que ela deverá ser concluída até o final do ano. Para ele, os governantes dos países ricos devem dar uma chance ao livre fluxo mundial de grãos, proteínas e biocombustíveis. Lula comemorou, por fim, o que chamou de sucesso da Conferência da Unasul. "Nossa região torna-se um interlocutor cada vez mais indispensável à medida que o mundo se vê diante da necessidade de compatibilizar segurança alimentar, suprimento energético adequado e preservação do meio ambiente." E aproveitou para criticar a imprensa que retratou o evento como um fracasso. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)()