Título: Sem depósito judicial, valor da Nossa Caixa cai para R$ 7 bi
Autor: Feltrin, Luciano; Monteiro, Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/05/2008, Finanças, p. B3

27 de Maio de 2008 - O volume de depósitos judiciais detidos pela Nossa Caixa - R$ 16 bilhões no total - não pode servir de pretexto para evitar um leilão de venda do banco, do qual participariam as principais instituições privadas do País. A avaliação, de especialistas em operações de fusão e aquisição consultados pela Gazeta Mercantil, é compartilhada pelo Bradesco, primeiro banco brasileiro em volume de ativos. "Sobre o fato de os depósitos judiciais terem de ser direcionados apenas para bancos federais, achamos que esse não é um fato bem resolvido, tanto que está sub judice no Rio de Janeiro", afirmou o presidente do banco, em entrevista, ontem pela manhã, à Rádio Jovem Pan. De acordo com estimativas da agência classificadora de riscos Austin Rating, excluindo os depósitos judiciais, uma venda da Nossa Caixa deve levantar aproximadamente de R$ 7 bilhões. Segundo o presidente do Banco do Brasil, Antonio Lima Neto, a instituição manteria o interesse na compra da Nossa Caixa mesmo se o banco paulista não contasse com o alto volume de depósitos judiciais. De acordo com o executivo, a Nossa Caixa tem considerável número de agências e pontos-de-venda na principal praça econômica do País, o que deve permitir ao BB atuar em todos os municípios de São Paulo. Além disso, a instituição tem ativos totais significativos, de R$ 51,4 bilhões, considerados atrativos, e conta com 5,7 milhões de clientes, dos quais 1,3 milhão são servidores públicos do Estado. "Temos que olhar o conjunto", disse Lima Neto à Gazeta Mercantil. O presidente do BB, entretanto, não quis responder as declarações de Itaú, Bradesco e Unibanco, que defendem que a venda do banco ocorra em leilão, obedecendo às regras de mercado. Diferentes modelos Uma das possibilidades de levar um hipotético processo de leilão à frente seria a de estabelecer um período de transição para que o novo controlador - caso não seja o Banco do Brasil - possa transferir os depósitos para instituições de controle estatal. "Isso não seria nenhuma novidade. Foi o que acorreu após a aquisição do Banespa pelo Santander", lembrou o professor de finanças do Ibmec Rafael Paschoarelli. Lei de mercado Outros modelos de negociação podem ser adotados durante a venda do banco paulista. O importante é que os anseios do mercado suplantem interferências e barganhas políticas. A opinião é do economista Roberto Troster, ex- Febraban (Federação Brasileira de Bancos). "Essa negociação pode demorar pelo grau de complexidade e sofisticação. Mas há mecanismos que podem torná-la atrativa, desde que prevaleçam as leis de mercado", afirma. Mesmo sem contar com os depósitos judiciais, a aquisição da Nossa Caixa pode ser considerada estratégica para aumentar a participação no principal Estado brasileiro. "As instituições privadas interessadas no leilão devem ter em mente a chance de maximizar ganhos com a folha de pagamentos do funcionalismo paulista", exemplifica Paschoarelli. Avaliação parecida tem Carlos Gros, sócio da G5 Advisors empresa especializada em intermediar fusões e aquisições entre empresas. "O governo paulista pode optar em colocar o preço da Nossa Caixa em um patamar considerado alto para o mercado. Isso faria com que, somente aqueles bancos que vislumbrassem um bom negócio futuro com a aquisição pudesse entrar para valer no páreo", explica o executivo. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)()