Título: Posse de Carlos Minc torna-se ato de desagravo a Marina Silva
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Fonte: Gazeta Mercantil, 28/05/2008, Nacional, p. A4

Brasília, 28 de Maio de 2008 - O esforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para desfazer a imagem de guerra entre a equipe econômica e a área ambiental do +governo transformou a posse do novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, em um ato de desagravo à ex-ministra Marina Silva, que deixou o cargo depois de repetidas desavenças com colegas de Esplanada, sobretudo com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Duas semanas depois do constrangimento gerado pela saída de Marina, que limitou-se a enviar uma carta com seu pedido de demissão ao presidente, Lula comparou a ex-ministra a Pelé. Disse não guardar mágoa de Marina e negou a existência de qualquer conflito interno no governo por conta da política ambiental. "Lembro das brigas que criaram entre Dilma e Marina, os desenvolvimentistas contra ambientalistas", disse o presidente, que culpou a imprensa pela "criação" do conflito entre as duas ministras. Afinadas com o discurso de paz entoado por Lula, Dilma e Marina sentaram-se lado a lado na solenidade. Sorridentes, abraçaram-se e trocaram beijinhos no início da cerimônia. "Eu que participava da reunião com as duas não via as brigas que saíam no dia seguinte nos jornais. Quem era a tal de fonte que passava informação que não tinha acontecido na minha mesa?", questionou Lula. Uma das preocupações do presidente Lula desde a saída de Marina foi dissipar a imagem de guerra interna projetada pelos eventos que antecederam o pedido de demissão da ministra. Marina deixou o cargo depois que o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, foi designado como coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS), projeto tido como uma das principais agendas da ministra em sua gestão. No lançamento do PAS, uma irritada Marina rebateu críticas ¿ algumas delas vindas do próprio presidente ¿ sobre a lentidão dos processos de licenciamento ambiental. Ontem, por via das dúvidas, apenas Lula discursou na solenidade. Ainda nas palavras do presidente, Marina foi "injustiçada" pelo noticiário, que não teria divulgado os fatos positivos de sua gestão. "Olhar para tua cara é olhar para a cara do Meio Ambiente no Brasil", derreteu-se Lula, voltado para a ministra. "Há quem escreveu que a relação Marina-Lula estivesse abalada, mas, mesmo nos momentos de maior divergência, a nossa amizade permaneceu inabalável. A única que coisa que não podemos aceitar é que haja uma briga entre o presidente e a ministra." O estilo performático de Carlos Minc não passou ileso ao discurso presidencial. Irônico, Lula levou a platéia ao riso ao dizer que Minc falou, em uma semana, o que Marina não disse em cinco anos e meio no comando da pasta do Meio Ambiente. "Sei, meu caro Minc, o tormento que você vai sofrer", disse Lula ao novo ministro. "Em um primeiro momento tentou-se vender a idéia de que Marina sai porque é ambientalista e Minc entra porque é desenvolvimentista. Entra um carioca que quer destruir a Amazônia. Eu, como conheço os dois há 30 anos, sei que isso não é verdade." Mantendo a premissa de continuidade na política ambiental do governo, o presidente Lula defendeu a rigidez no cumprimento das leis ambientais no Brasil, "do presidente da República ao mais humilde dos brasileiros". As declarações do presidente ocorrem em um momento delicado para o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, na linha de frente do conflito entre governadores e o novo ministro do Meio Ambiente. O governo do Mato Grosso é apontado por Minc como o principal responsável pelo aumento do desmatamento na Amazônia Legal, conforme observado em relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgado em fevereiro deste ano. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Karla Correia)