Título: Brasil pode entrar em nova fase de produção de diamantes
Autor: Collet, Luciana
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/05/2008, Industria, p. C2

São Paulo, 29 de Maio de 2008 - Uma área com diamantes descoberta na década de 1990 pela mineradora De Beers, que a desprezou, poderá passar a ser explorada pela Vaaldiam Resources, mineradora canadense com operações no Brasil. A empresa está investindo US$ 3,5 milhões este ano para a realização da última fase de estudos em Braúna, localizada 350 quilômetros a noroeste de Salvador. De acordo com o vice-presidente de exploração da empresa, José Ricardo Pisani, que trabalhou como geólogo da De Beers em Braúna, faltam ser elaborados os estudos finais de viabilidade econômica, que devem ser concluídos até o final deste ano. Caso sejam positivos, a produção poderia começar em 2009 e Braúna se tornaria a primeira área de produção de diamante a partir do tipo de rocha quimberlitos. "O início da produção em quimberlito seria importantíssimo para que o Brasil voltasse ao cenário mundial, atraindo investimentos que podem gerar aumento ainda maior da produção", disse Pisani. Atualmente, o País, que já foi o maior produtor mundial de diamantes, entre a primeira metade do século XVIII e o final do século XIX, sequer figura entre os principais produtores mundiais da pedra. De acordo com International Diamonds Consultants, Botsuwana responde por cerca de 25% do mercado mundial, de US$ 13,1 bilhões, seguido pela Rússia, com 17,5%, África do Sul, 12,9%, Angola, 12,2% e Canadá, 9,9%. "Em 91, o nível de investimentos e de produção do Canadá e do Brasil eram semelhantes, mas o Canadá descobriu uma mina de quimberlitos e desde então foram investidos US$ 2 bilhões no país, que hoje tem receita anual de cerca de US$ 2 bilhões por ano". As minas de diamantes brasileiras são em aluvião, ou seja, a exploração é feita em regiões de cascalho próximo aos rios e oceanos. Foi justamente quando foram iniciadas as primeiras produções em quimberlitos que o Brasil, em 1880, que o País começou a perder colocações entre os principais produtores mundiais. A Vaaldiam, por exemplo, possui duas minas de aluvião em operação: a Duas Barras, em Minas Gerais, e a Chapada, no Mato Grosso. Juntas elas produziram no ano passado 43,1 mil quilates de diamantes - cada quilate corresponde a 0,2 grama - , o que possibilitou uma receita de US$ 12 milhões, com a venda das pedras ao mercado internacional, principalmente Israel e Bélgica, dois dos principais centro importadores e lapidadores de diamantes. Para este ano, a previsão é produzir cerca de 70 mil quilates. Apesar de estar no mercado há pouco tempo, uma vez que começou a operar sua primeira mina em 2006, a produção do ano passado já representou cerca de 65% das vendas internacionais de diamantes brasileiros, que no ano passado atingiram US$ 18,7 milhões. O valor é superior aos dois anos anteriores, mas ainda abaixo dos US$ 20 milhões de 2003 e dos US$ 30,5 milhões de 2002. Ano a ano, o Brasil vêm reduzindo a produção. Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), a produção era de 11 milhões de quilates em 1996 e chegou ao nível mais baixo em 2005, quando foram produzidos 318,59 mil quilates; e exportados US$ 4,95 milhões. O eventual início de produção em Braúna, ou em outra mina de quimberlito, poderia elevar a produção brasileira a um outro patamar, uma vez que um quimberlito considerado pequeno produz cerca de 300 mil quilates de diamantes por ano. Os estudos já realizados em Braúna indicam teores de diamantes de 0,2 quilates por tonelada de quimberlito. Ainda será feita uma amostragem de grande volume, que analisará 5 milhões de toneladas de quimberlitos. "Precisamos encontrar 1 mil quilates neste volume para provar a viabilidade". Além disso, será necessário avaliar o valor das pedras. De acordo com Pisani, já foram retirados da área diamantes que foram avaliados em US$ 20 por quilate e outros em US$ 4 mil por quilate. "Se for acima de US$ 100, e temos indicações de que vai ser, o projeto é viável", disse. A empresa está trazendo da África do Sul uma unidade semi-móvel de tratamento de diamantes, no valor de US$ 3 milhões, para avaliar as pedras. Se para a Vaaldiam, a mina tem se mostrado com um bom potencial, por que a De Beers desistiu da região? Pisani explicou que as grandes mineradoras mundiais estão em busca de grandes minas, de classe mundial. "Elas querem minas de 50 ou 60 anos de vida, enquanto para as júnior (mineradoras menores), se a mina é lucrativa, não importa se só tem 10 anos de vida", disse. A estimativa inicial é de que Braúna tenha cerca de 10 anos de vida, o que pode ser elevado, já que por enquanto a Vaaldiam só pesquisa em uma pequena mina na região de Braúna, existem outras 20 para serem pesquisadas. Além de Braúna, a Vaaldiam deve investir US$ 5 milhões em outros dois projetos de exploração: Pimenta Bueno, em Rondônia, e Catalão, no Goiás. Os dois foram avaliados pela Rio Tinto, que, seguindo os passos da De Beers, deixou de pesquisar o Brasil e focou investimentos em outros países. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 2)(