Título: Petróleo, o calcanhar de Aquiles chileno
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/06/2008, Internacional, p. A14

São Paulo, 3 de Junho de 2008 - A economia do Chile, uma das que mais cresce na América do Sul, começa a sentir fortemente o impacto da alta dos preços do petróleo, negociado próximo dos US$ 130 o barril, num país praticamente sem produção local. O pacote de medidas anunciado ontem pela presidente Michelle Bachelet - que inclui a injeção de US$ 1 bilhão no fundo para subsidiar os preços dos combustíveis - chega em um momento crítico para o Chile que vê o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) desacelerar e a inflação atingir praticamente o triplo do índice registrado há 12 meses. (ver tabela ao lado). "A alta cotação do petróleo tem pressionado a inflação chilena e esse pacote pode ajudar a conter a alta dos preços internos", comenta Paulo Sandroni, o professor de Economia da Escola de Administração de Empresa de São Paulo (EAESP) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para o economista, o Chile tem a vantagem de ser um importante exportador de cobre, o que tem ajudado a incrementar o PIB do país, mas os ganhos recentes com a forte alta dos preços das commodities podem não compensar o aumento do custo das importações de petróleo. "Se os preços do petróleo continuarem a subir, o pacote não será suficiente para conter a alta da inflação e isso poderá prejudicar a economia interna, uma vez que os fretes também irão subir", acrescenta Sandroni. A professora de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Thania Soto, compartilha a mesma opinião, mas faz um alerta: "O pacote vem em uma hora perigosa para o Chile. Bachelet tem sofrido críticas por não ter feito isso antes, uma vez que o país já atravessou por crises energéticas no governo anterior e agora corre o risco de comprometer a economia interna", afirma Thania, que também é coordenadora de curso de Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi. Ela lembra que o país importa praticamente 100% do óleo consumido e os caminhoneiros convocaram uma greve geral de 48 horas a partir de hoje por considerar as medidas do governo insuficientes para conter a alta dos preços. Para o pesquisador do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), é ligado à Universidade Cândido Mendes, Flávio Leão Pinheiro, o Chile tem poucas alternativas para conter a alta dos preços. Ao contrário de seus vizinhos, não possui uma estatal forte como o Brasil e a Venezuela para subsidiar os preços dos combustíveis e ajudar a conter a inflação, recorda. E, como depende ainda do gás da Argentina, que atravessa uma crise de abastecimento, também tem uma alternativa de matriz energética comprometida. "O Chile é um país muito dependente de importações de matéria-prima energética e a alta do petróleo poderá comprometer as políticas sociais de Michelle Bachelet", acrescenta. Além disso, a estratégia comercial chilena, voltada para os países da costa do Pacífico é considerada equivocada por Thania. "Está na hora de o Chile começar a se preocupar em melhorar a política de vizinhança", afirma ela, acrescentando que os principais fornecedores de gás natural, Peru e Chile, têm um histórico de disputas territoriais. Na opinião da professora, o Brasil poderia ser um grande aliado do Chile para o desenvolvimento de uma nova matriz energética, o biocombustível.