Título: Álcool não acompanha alta do petróleo e prejudica exportação
Autor: Batista, Fabiana
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/06/2008, Empresa & Negócios, p. C1

São Paulo, 3 de Junho de 2008 - Diferentemente do que o mercado esperava, os preços do álcool nos Estados Unidos não decolaram junto com os da gasolina. Bem pelo contrário, recuaram. O que parecia ser uma grande oportunidade de exportação às usinas brasileiras, atualmente está remunerando abaixo dos custos de produção. Cálculos da consultoria Bioagência mostram que, se o preço do etanol americano estivesse acompanhando a alta do combustível fóssil, a remuneração à usina no Brasil seria 40% maior do que está hoje. O cenário é resultado de uma super-produção de etanol nos Estados Unidos, segundo Mário Silveira, analista de gerenciamento de risco da FCStone. Em março, por exemplo, os americanos produziram 730 milhões de galões (de 3,785 litros), 46% mais que em março de 2007 e 39 milhões a mais do que a demanda daquele mês. "Os distribuidores e produtores dos Estados Unidos estão bem abastecidos. A produção tem batido recorde e deve atingir os 9 bilhões de galões (34,065 bilhões de litros, cerca de 10 bilhões de litros a mais do que a brasileira) previstos para este ano", avalia Silveira. O resultado dessa produção recorde foi um aumento do estoque de etanol ao final de março no mercado americano, que elevou-se de 439 milhões de galões em fevereiro para 478 milhões de galões em março. "Além disso, ainda houve uma importação de 24 milhões de galões", acrescenta Silveira. Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência, conta que a expectativa era de que, com a alta do petróleo, os preços do álcool também iriam subir, abrindo mais oportunidades às exportações pelo Brasil. Mas não foi o que aconteceu. Os preços desses dois combustíveis, que estavam "caminhando juntos" com uma diferença de US$ 0,10 por galão, começaram a se descolar em meados de abril e, já em maio, em menos de um mês, essa diferença já era de US$ 1 por galão. Em 4 de março, a gasolina (RBOB) estava cotada na Bolsa de Valores de Nova York (Nymex) a US$ 2,53 o galão, enquanto o álcool, na Bolsa de Chicago (CBOT), a US$ 2,40, diferença de US$ 0,13. Em 16 de abril esse spread estava em US$ 0,25, atingindo em maio US$ 1 por galão. No final das contas, desde abril o preço do etanol vem recuando, enquanto o da gasolina, subindo. Desde 15 de abril, quando a diferença de preço entre os dois combustíveis se acentuou, o valor do etanol na CBOT caiu 5,1% de US$ 2,53 para US$2,40, e o galão da gasolina subiu 15,2% de US$ 2,88 para US$ 3,40. A queda do etanol na bolsa americana, segundo Silveira, também tem relação com a safra no Brasil e a expectativa de entrada de produto brasileiro. "O preço do etanol na Bolsa de Nova York (Nybot), que geralmente é US$ 0,11 maior do que na CBOT por causa do custo do frete, caiu e se equiparou ao valor de Chicago, que representa a referência de preço da região produtora", compara Silveira. Remuneração nas usinas Rodrigues, da Bioagência, calcula que, se o etanol estivesse hoje acompanhando a alta da gasolina as usinas brasileiras conseguiriam vender o combustível ao preço de US$ 694 o metro cúbico, ante os atuais US$ 410. "O fato de o etanol não estar alinhado ao preço da gasolina nos Estados Unidos reduz muito a competitividade do produto brasileiro, sobretudo porque ainda precisa pagar a taxa de US$ 0,54 por galão", avalia Rodrigues. Atualmente, o metro cubico (m3) do etanol está em torno de US$ 660 na usina nos Estados Unidos, que é o valor máximo que o produto brasileiro pode entrar para competir. Assim, subtraindo-se a taxa de US$ 0,54 por galão (US$ 143 por m3), o frete marítimo de US$ 0,23 por galão (US$ 60 por m3) e o frete da usina no Brasil até o porto, assim como taxas portuárias (US$ 47 por m3), sobram à usina US$ 410 por m3 - US$ 0,41 o litro (R$ 0,68 o litro ao câmbio de R$ 1,66), abaixo do custo médio de produção (R$ 0,71 por litro) nas usinas de São Paulo, segundo a consultoria Datagro. "O setor no Brasil não está aproveitando o aumento do petróleo", diz Rodrigues. Até agora, já estão fechados contratos para exportação de 2,5 bilhões de litros de álcool do Brasil, dos quais 60% aos Estados Unidos, segundo levantamento da Bioagência. A previsão para o ano é para 4 bilhões de litros. "Quem comercializou até início de maio conseguiu picos de preços melhores, acima do custo", avalia Rodrigues.