Título: Demanda por alimentos e energia eleva oferta de emprego no campo
Autor: Tenório, Roberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/06/2008, Empresas, p. C1

São Paulo, 2 de Junho de 2008 - Após 30 anos de estagnação, o setor agropecuário voltou a oferecer emprego. Tomou o sentido inverso do percorrido nas últimas décadas, quando liberou mão-de-obra em favor de outros setores da economia, como o de serviços e a indústria. Segundo o professor de Estratégia da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Fava Neves, a demanda por alimentos e por energia estimula a atividade no campo. "Mesmo com a mecanização, a oferta de emprego avança para o trabalho nas diversas lavouras, especialmente na cultura da cana-de-açúcar", diz Neves. Para ele, essa tendência deve-se manter nos próximos anos, pelo potencial brasileiro de crescimento da produção agrícola. Segundo informa, o setor canavieiro é o que mais participa na expansão do emprego. Em média, ocupa seis trabalhadores por hectare, contra apenas um trabalhador por hectare na pecuária. A baixa capacidade de ocupação de mão-de-obra é ainda mais acentuada na cultura da soja. De acordo com a Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), a produção de soja ocupa apenas seis trabalhadores para cada mil hectares em média. Mas a entidade explica que a atividade contribui para a geração de mais 3,8 empregos indiretos e 12,6 vagas indiretas, por cada hectare plantado O professor da USP explica que a cadeia do agronegócio representa de 35% a 40% do total de empregos no País. "Só o setor agropecuário representa 10% deste total". De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, o emprego no campo cresceu 5,83% no acumulado até abril, ficando com um saldo de 87.343 novos postos de trabalho. Mesmo inferior ao do ano passado, quando 91.785 trabalhadores foram contratados, a expectativa do setor é de que os números vão continuar evoluindo. A região que mais expandiu em contratações foi a do Centro-Oeste, com um índice de 11,17% no período e um saldo de 23.537 vagas. Já a região Nordeste perdeu 19.852 empregos (-7,76%). Rodolfo Tavares, presidente da Comissão Nacional de Relações de Trabalho da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), diz que a mão-de-obra rural tende a sofrer grandes transformações por causa da tecnologia e da mecanização. A preocupação do CNA, diz, é atender a demanda por qualificação e requalificação da mão-de-obra. "No caso da cana, os trabalhadores poderão ser preparados para operar máquinas. Precisamos atender esse novo passo da agricultura nacional", conclui. A Sociedade Rural Brasileira (SRB) concorda que é necessário uma ampliação da política social de qualificação. "Não podemos descuidar dos incentivos nesse sentido. Isso já faz parte da política global da SRB", argumenta Cesário Ramalho da Silva, presidente da instituição. Para ele, o setor sucroalcooleiro é um dos grandes responsáveis pelo crescimento das contratações. Responsável pelo maior número de novas vagas na região Centro-Oeste, Goiás é a região que melhor exemplifica a contribuição do setor sucroalcooleiro. Leonardo Veloso, secretário de Agricultura de Goiás, destaca que a fase de plantio ainda requer muitas contratações. "O estado passa por um recorde de contratações, o dobro das realizadas no ano passado", comemora. De 2007 para 2008, a criação de novas vagas em todos os setores dobrou, passando de 7,3 mil vagas para 14,7 mil vagas no comparativo do acumulado até abril. Disse que só na região sudoeste do estado, a agricultura é responsável por dois mil novos postos de trabalho neste ano. Para Márcia Moraes, professora do Departamento de Economia da Esalq/USP, em termos gerais, as novas vagas surgiram em virtude dos carros flex, que impulsionaram a demanda interna por álcool combustível. Ela explica que a renda obtida na atividade canavieira pelos trabalhadores, em geral migrantes, é importante para suas regiões de origem. "No Nordeste, por exemplo, 30% das vendas de eletrodomésticos estão associadas a esse renda que vem de fora do Estado", explica.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(