Título: Alimentos pressionam e IPCA tem alta de 0,79% em maio
Autor: Americano, Ana Cecília
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/06/2008, Nacional, p. A8

Rio, 12 de Junho de 2008 - O que já se percebia nas gôndolas dos supermercados confirmou-se tanto no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), quanto no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de maio, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A inflação do mês passado - de 0,79%, medida pelo IPCA - foi a mais alta para um mês de maio desde o início do Plano Real. Foi, também, a maior taxa desde abril de 2005, que bateu, na ocasião, nos 0,87%. O INPC registrou uma alta ainda maior: entre as famílias mais pobres, com renda de um a seis salários mínimos, nas quais o impacto dos alimentos é maior, a alta alcançou 0,96%. A situação é particularmente preocupante, pois o vilão da alta dos preços - a categoria dos alimentos e bebidas, que representou 54% do IPCA - tradicionalmente tem um peso menor na formação do índice no mês de maio. "É bom lembrar que estamos tratando de um mês do primeiro semestre, período das safras no Brasil", comentou Eulina Nunes, coordenadora de índices de preços do IBGE. "Historicamente, temos muitos maios em que, no IPCA, o grupo dos alimentos contribui com índices negativos", frisa a economista, citando 2006, quando a categoria registrou uma queda de 0,03%; 2002, 0,59%; e 2000, 0,67%. E, quando os índices dos alimentos não são negativos, as altas registradas no IPCA são, em geral, muito menores nesta época do ano, a exemplo de maio de 2007, que acusou alta de 0,16%. Tirando o 0,43 ponto percentual (p.p.) que o grupo de alimentos e bebidas contribuiu para a formação do IPCA, sobra 0,36 ponto para todo o restante do índice, abrangendo, por exemplo, produtos não-alimentícios, serviços bancários, combustíveis e ônibus urbanos. Eulina chama a atenção para o fato de que os alimentos persistentemente têm pressionado a inflação de forma generalizada desde o segundo semestre do ano passado até maio, período em que apresentaram alta de 1,95%. Em 2007, totalizaram aumento de 10,79% nos 12 meses do ano. Neste ano, entre janeiro e maio já acumulam uma alta de 6,40%. O arroz, por exemplo, teve aumento de 19,75% no mês, contribuindo com 0,11 ponto percentual do IPCA. O pão francês e as carnes aumentaram 4,74% e 3,45%, respectivamente. No sentido contrário, os preços das frutas recuaram 5,40% e o feijão carioca registrou queda de 11,26%. "Mas é bom lembrar que este grão teve nos últimos doze meses uma alta de 127%; portanto essa queda pode ser considerada como apenas uma acomodação", ressalta Eulina. A alta dos alimentos tem um impacto mais acentuado no orçamento das famílias com menor renda. "Quanto maior a alta nesse grupo, maior a corrosão do poder de compra das classes mais baixas, as quais dedicam boa parte de seus orçamentos à compra de alimentos", diz Eulina. O INPC confirmou o fenômeno. Nos cinco primeiros meses do ano, as famílias com menor rendimento no país acumularam alta de 3,32%. Comparando, no caso do IPCA, as famílias com até 40 salários mínimos, o acumulado do ano é menor, 2,88%. Quando os dados se referem aos produtos não alimentícios, pelo IPCA, os serviços bancários aumentaram 8,74%. Os ingressos para jogos de futebol também deixaram os torcedores mais distantes dos gramados: subiram 19,69%. E o óleo diesel a variação foi de 7,24% nas bombas de todo o País, devido ao reajuste de 15% nas refinarias a partir do dia 2 de maio. "Neste grupo, contudo, as altas são localizadas, pontuais", comenta Eulina. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)()