Título: Para governo, fatores estruturais superam a conjuntura adversa
Autor: Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 13/06/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 13 de Junho de 2008 - O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), Luciano Coutinho, fizeram questão de minimizar os efeitos nocivos da atual conjuntura econômica - a contínua valorização do real e o ciclo de aumento da taxa Selic em razão da inflação - sobre as decisões de investimento. Ambos participaram ontem do painel sobre política industrial no Congresso da Indústria 2008, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ambos os integrantes do governo basearam a defesa em questões estruturais da economia brasileira. "Há três anos as empresas vêm recuperando sua rentabilidade. Há uma robustez no ciclo de investimentos e uma geração da massa de lucro que vem sendo reinvestida na capacidade produtiva", disse Coutinho, acrescentando que anteriormente as inversões estavam concentradas no setor de preços relativos relacionados ao comércio exterior. "Agora as aplicações estão generalizadas". Segundo o presidente do BNDES, as empresas brasileiras têm um nível de alavancagem baixo em comparação com as de outros países, o sistema bancário do País está saudável e disponível a expandir o crédito, embalado pelo crescimento ininterrupto da renda, do consumo e do emprego. "Tudo isso confere robustez ao investimento e condições de sustentar esse ciclo", afirmou. "Além disso, não vamos subir a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo)". O banco estima que a taxa de investimentos total da economia chegue a 18,6% no final deste ano, subindo para 19,7% em 2009 e alcançando 20,9% ao término de 2010. Coutinho, embora mostrando-se bem otimista, admitiu que a confiança na capacidade de investir continua se as expectativas de inflação estiverem sob controle. "É preciso fazer sacrifícios, pois a inflação é uma coisa ruim. No caso dos alimentos, há uma preocupação firme do presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) para que haja a ampliação da oferta. Temos de ter uma resposta dos dois lados: o Banco Central de um e o setor produtivo de outro", disse. "Acho que a política fiscal tem ajudado já, as despesas não estão crescendo além e houve um aumento do primário (superávit)", acrescentou. Ainda tentando separar o conjuntural do estrutural, o ministro Miguel Jorge disse esperar que o efeito das altas da taxa de juros seja apenas para arrefecer a inflação, e não atinja as intenções de investimento dos empresários. Segundo ele, o ciclo de alta de juros pode se prolongar pelos próximos seis meses. "Pelas avaliações não só de dentro do governo como dos institutos de pesquisa que têm indicado a possibilidade de aumentos da inflação, isso (a alta) deve ir até o final do ano, mas isso é só uma hipótese". O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, questionou a necessidade de haver um esforço adicional do BC em relação à elevação dos juros para alcançar o centro da meta oficial (4,5%). Segundo ele, a autoridade monetária poderia considerar usar os intervalos de tolerância, permitidos pelo regime de metas de inflação. Para este ano, os intervalos são de dois pontos percentuais para mais ou para menos, portanto, entre 2,5% e 6,5%. "Ninguém defende a inflação e sabemos que outros países também estão passando pelo mesmo, mas o esforço de se manter o centro da meta precisa ser avaliado", ressaltou. Ao ser questionado sobre os efeitos da conjuntura sobre a política industrial, Jorge fez questão de ressaltar que a conjuntura não comprometerá as metas estabelecidas para o Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP). Ele disse que em abril do ano passado, quando os integrantes do governo estavam elaborando a política, câmbio e juros já não eram os ideais. "A política de desenvolvimento industrial não foi elaborada levando em conta questões conjunturais no âmbito macroeconômico. Ela é estrutural, uma política de Estado e, não, de governo." Com a política, o governo pretende ampliar entre este ano e 2010 o investimento fixo de 17,6% para 21% do Produto Interno Bruto (PIB) ¿ dos atuais R$ 450 bilhões para R$ 650 bilhões ¿ elevar o investimento privado em Pesquisa e Desenvolvimento dos atuais 0,51% do PIB para 0,65% do Produto, ampliar a participação das exportações brasileiras no comércio mundial de 1,18% para 1,25% e aumentar em 10% o número de micro e pequenas empresas exportadoras. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()