Título: Oposição tenta nova convocação de ministra da Casa Civil
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/06/2008, Politica, p. A8
Brasília, 11 de Junho de 2008 - A orientação da oposição no Senado é de cautela. Na Câmara é para o ataque. Hoje, a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (CDEIC) vota um requerimento pedindo a convocação da ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para dar explicações sobre a venda da Varig. O documento inclui mais seis pessoas envolvidas nas denúncias da ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, de interferência da cúpula do governo a favor do fundo norte-americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros. A iniciativa é do vice-líder do DEM na Câmara, Fernando Fabinho (BA). A idéia é fechar o cerco, além de Dilma e de seu braço-direito, a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, aos proprietários da Gol Linhas Aéreas. Podem ser convocados o empresário Nenê Constantino, um dos sócios da Gol, e seu filho, Constantino de Oliveira Júnior, que preside a companhia. O requerimento pede ainda que prestem esclarecimentos o diretor da VarigLog, Marco Antônio Audi, e a advogada Valeska Teixeira, que representa a VarigLog. Valeska é filha de Roberto Teixeira, amigo do presidente Lula, que também é acusado de ter usado seus contatos junto ao governo federal para obter vantagens financeiras para os compradores da Varig e da VarigLog. O deputado explica que resolveu questionar a Gol diante das notícias de que mesmo tendo uma oferta de US$738 milhões de dólares feita pela TAM, a VarigLog, então dona da Varig, optou por uma proposta de US$ 320 milhões da família Constantino. "Isso precisa ser esclarecido. É uma diferença de capital bastante significativa", diz o vice-líder. O diretor da VarigLog, Marco Antônio Audi, teria confirmado que foi pressionado a fechar o negócio pela pior oferta por seu sócio estrangeiro na empreitada, o chinês Lap Chan, representante do fundo americano de investimento Matlin Patterson. As supostas pressões da ministra sobre a Anac, no entanto teria ocorrido antes da venda da Varig para a Gol, porque era preciso tornar oficial a própria compra da VarigLog para o grupo de empresários liderados por Marco Antonio Audi. Segundo Denise, a Anac sempre desconfiou que os brasileiros faziam parte da negociação apenas como laranjas. "É fundamental a participação dos empresários para entendermos qual o caminho de toda esta negociação e até mesmo para saber se as denúncias procedem", diz Fernando Fabinho. Para emplacar a convocação de Dilma e dos demais personagens da venda da Varig, o deputado vai ter que convencer a maioria governista. Dos 16 deputados da comissão, nove são de partidos alinhados com o Palácio do Planalto, quatro são da oposição e três são considerados independentes. "Sei que o caminho é difícil, mas entendo e estou tentando explicar aos outros deputados que é melhor ouvirmos de uma vez a versão da ministra e contrapormos com as denúncias que não param de surgir a cada dia", justifica o vice-líder. Orientações O requerimento que pode trazer a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, de volta ao Congresso na condição de acusada deve ser votado no mesmo momento em que a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, começa a falar na Comissão de Infra-Estrutura do Senado a respeito de suas acusações. Ontem, a cúpula do governo reuniu líderes e integrantes governistas da comissão para dar orientações sobre a postura que devem assumir na sessão de hoje. No encontro, coordenado pelo ministro das Relações Institucionais, José Múcio, Dilma e seu braço-direito apresentaram aos senadores todo o processo de venda da Varig e da VarigLog. Dilma e Erenice, inclusive, prometeram armar hoje os governistas com uma espécie de apostila com todos os detalhes técnicos e cronológicos da venda que possam garantir que a operação foi feita dentro da legalidade, seguindo à risca a Lei de Falências. A linha de defesa dos governistas é de que os motivos que levaram Denise a envolver a ministra nas denúncias é um possível ressentimento, uma vez que deixou o governo respondendo a uma sindicância e um processo no Ministério Público de São Paulo, além de não ter sido acolhida em nenhum outro cargo público. "É preciso entender que tem interesses comerciais de empresários e interesses políticos de desgastar o governo. Foi fundamental para que possamos ter informação para fazer um debate de alto nível na comissão", avalia o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES). A oposição, na outra linha de tiro, diz que é preciso dar todo espaço necessário para que Denise possa explicar e comprovar todas as acusações. "Não temos estratégia. Vamos ouvir com muita atenção a senhora Denise para depois definirmos nossos próximos passos. Não vamos ser afobados", afirma o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)()