Título: Energia da cana-de-açúcar ganha espaço no mercado livre
Autor: Scrivano, Roberta
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/06/2008, Infra-estrutura, p. C9

São Paulo, 11 de Junho de 2008 - Mais uma comercializadoras de energia do mercado livre vai ingressar no ramo da biomassa para incrementar sua carteira de oferta de eletricidade. "Já tínhamos o plano de diversificar os nossos negócios e, com a falta de energia disponível no mercado para fecharmos contratos de longo prazo com os consumidores livres, optamos por aproveitar novos segmentos de geração para a comercialização", afirma Paulo Toledo, diretor da Ecom Energia. A empresa, por enquanto, tem 20 megawatts médios contratados oriundos de usinas de biomassa. A Ecom não é a primeira comercializadora a entrar no mercado de venda de energia oriunda da cana-de-açúcar. A primeira foi a Comerc Energia, que anunciou no mês passado o ingresso no setor ao fechar contratos com usineiros que juntos somaram 310 megawatts de energia. A Ecom Energia prevê incrementar seus contratos de biomassa em 50% até o final deste ano, o que impulsionará seu faturamento. "Acreditamos que esse novo setor já traga até 10% de retorno no faturamento ainda em 2009", prevê Toledo. Em 2006, a Ecom faturou R$ 55 milhões, montante que saltou para R$ 85 milhões no ano passado. Para 2008, a previsão é chegar nos R$ 120 milhões. Toledo classifica o setor de biomassa como promissor e potencial gerador de liquidez no mercado de energia. "Com os recentes aumentos no preço da energia, as usinas de cana descobriram mais um produto, que é a venda de eletricidade", diz. Além disso, comenta, a Ecom já estuda a compra de safras de cana-de-açúcar futuras, para garantir o incremento em sua carteira de oferta. Em entrevista recente, Cristopher Alexander Vlavianos, diretor da Comerc Energia, disse que uma usina de biomassa é capaz de gerar 60 megawatts (MW) de potência e consome cerca de 15 MW. Portanto, pode pôr no mercado 45 MW. "O mercado de biomassa está em plena expansão. As novas usinas não pensam mais em produzir açúcar e álcool e, sim, etanol e energia elétrica", ressaltou Vlavianos à Gazeta Mercantil. E o interesse das usinas pela produção da energia se dá também pelas altas verificadas no preço do insumo. "A energia é uma commodity e como todas as outras está em alta", comentou o presidente da Comerc. "Antes as usinas jogavam o bagaço da cana fora e hoje elas geram energia a partir desse insumo". Estabilização do mercado A busca das comercializadoras por outros segmentos também se justifica pela estabilização do mercado livre nacional. "A falta de oferta de energia disponível para ser comercializada no mercado livre, além de limitar os negócios, é muito prejudicial ao setor e, por isso, alguns consumidores que poderiam ser livres ainda não migraram para o ambiente de livre contratação", afirma o diretor da Ecom. Toledo diz que o movimento de entrada de novos consumidores no mercado livre segue em ritmo de conta gotas, isso porque a grande maioria dos que se encaixavam nas regras do ambiente livre já é integrante do segmento. "A partir de 2012, o movimento no mercado livre voltará a ser intenso". Comercialização de etanol "O setor de biomassa, assim como o de etanol, tem grande potencial de crescimento. Acreditamos nesse segmento, por isso vamos investir", comenta Toledo. Segundo o executivo, a empresa já estuda até mesmo o ingresso na comercialização de etanol. "Já estamos começando a planejar formalmente uma nova empresa para comercialização de etanol", adianta o diretor. "A idéia é atuarmos como uma espécie de corretora, fazendo contratos futuros e sem investimentos em materiais físicos como caminhão, galpões de armazenamento e tanques (necessários para o transporte e estoque de etanol)". De acordo com Toledo, a Ecom pretende terceirizar esse tipo de serviço. O aumento de 17,1% da participação dos derivados da cana-de-açúcar na matriz energética nacional contribuiu, em 2007, para elevar para 46,4% a participação das energias renováveis na matriz energética do País. Em 2006, a fatia das renováveis na matriz se limitava a 44,9%. O maior responsável pelo fenômeno foi o etanol, cuja produção de 20,1 bilhões de litros foi proporcionada por uma safra de 495 milhões de toneladas de cana em uma área plantada total de 6,7 milhões de hectares. Mais participação na matriz No ano passado, o álcool e a biomassa responderam por 16% do total de energia gerada no Brasil e ultrapassaram, pela primeira vez na história, a fonte hídrica (14,7%) no ranking nacional de geração, segundo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O avanço do álcool e, conseqüentemente, o enfraquecimento do petróleo, foi motivado principalmente pela popularização dos carros flex fuel e pelo aumento da mistura de álcool anidro na gasolina comercializada no País. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9)()