Título: País pode calibrar expansão do crescimento, diz Coutinho
Autor: Assis, Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/06/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 17 de Junho de 2008 - A elevação da taxa de juros deverá ter um efeito moderado sobre os investimentos, afirmou ontem o economista Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para Coutinho, não há sinal de arrefecimento da ampliação das inversões em ativos fixos em razão das medidas adotadas pelo governo para conter a alta de preços. Neste momento "é difícil derrubar os investimentos" porque os fatores que levam à expansão são muito fortes. "O que o Brasil pode fazer é calibrar o crescimento", declara. Uma das medidas para efetivar este ajuste, além dos aumentos da Selic, é a contenção do crédito. Coutinho ponderou que esta decisão está nas áreas do Banco Central e do Ministério da Fazenda. "Não estou recomendando", a diminuição da oferta de crédito para conter a elevação inflacionária. Durante encontro organizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF-SP) realizado ontem, em São Paulo (SP), Coutinho declarou que "a decisão política do governo é a de manter a inflação sob controle". Segundo o presidente do BNDES, há um choque de preços internacionais "de fora para dentro", puxado pelas altas do petróleo, minerais e alimentos que têm atingido todas as economias. A solução é tomar medidas prudentes sem afetar a expansão da economia. "É possível, no caso brasileiro, calibrar a taxa de expansão porque a economia brasileira é propensa ao crescimento". Para Walter Machado de Barros, presidente da IBEF, o mercado espera que, o Banco Central deverá aumentar a Selic em 0,25 ponto percentual na próxima reunião, em julho, e reduzir o consumo. Para Machado, a moderação do crédito deve acompanhar esta medida. De acordo com o presidente do IBEF, a reversão da curva inflacionário deve ser obtida com a revisão dos prazos de financiamento, que estão extremamente longos, e "a redução da facilidades que convida o consumidor a ir às compras", afirma Machado. O governo deverá estimular o aumento da oferta agrícola para moderar as pressões sobre os preços em um ambiente global, afirma o presidente do BNDES. O anúncio do plano de safra, que será realizado em breve, apontará as medidas O aumento de produtividade foi apontado por Coutinho como fator que tem reduzido a transferência dos aumentos para os preços. Poucas economias têm uma fronteira de investimentos na área de infra-estrutura tão atraente como a brasileira, diz Coutinho. As ofertas primárias no mercado de capitais chegaram a R$ 131 bilhões e a oferta de crédito registrou uma expansão de 30% em 12 meses, até abril de 2008. A rentabilidade privada também está em nível elevado com lucro de R$ 120 bilhões das grandes empresas. O Produto Interno Bruto (PIB) cresce há 25 trimestres e a taxa de formação bruta de capital se eleva há 12 trimestres acima do PIB. Os investimentos em ativos fixos têm crescido em um período em que todos os fatores colaboram para este incremento. "Não será fácil o percurso daqui para a frente", diz Coutinho. Foi relativamente fácil chegar aos resultados atuais "com vento a favor". Daqui em diante, o governo terá de "gerenciar expectativas". Na sua avaliação, mesmo com aumento dos juros e o cuidado com a inflação, não há como derrubar os investimentos. As carências na área de infra-estrutura devem manter níveis elevados nos segmentos de infra-estrutura ligados a energia e recuperação da malha rodoviária "Quem não investir, perderá o bonde", declara o presidente do BNDES. O estoque de projetos aprovados soma R$ 110 bilhões de janeiro a abril de 2008.Os desembolsos somam R$ 76 bilhões neste período. "Isso mostra que a demanda por crédito permanece firme". As linhas de Finame têm crescido a uma média de 35% ao ano e de forma "espraiada por todos os setores", diz Coutinho. "Teremos de fazer um esforço de funding para não frustrar e sustentar o ciclo de crescimento em um momento em que o vento não estiver tão a favor", comenta. O BNDES criou uma superintendência nova e dobrou a área de mercado de capitais do banco para poder analisar as empresas pequenas e avaliar os "intangíveis" e ser capaz de oferecer suporte a projetos apoiados na estratégia de mercado e capacidade dos empreendedores. De acordo com Coutinho, a economia pode desacelerar e ficar abaixo de 16%% de expansão do investimento ainda estará dentro das previsões. "Nosso plano é sustentar o crescimento do investimento em 12%", disse. "Se a confiança for mantida, os investimentos continuarão fluindo. O Banco Central tem mostrado capacidade de manter essa confiança", afirma. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()