Título: Uso de roaylties do petróleo para educação une aliados e oposição
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/06/2008, Politica, p. A9

A entrevista exclusiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Gazeta Mercantil e ao Jornal do Brasil teve imediata repercussão junto ao Congresso Nacional. A idéia de se aproveitar os recursos a serem gerados com o petróleo - Lula disse acreditar que em poucos anos o País estará entre as maiores potências do mundo nesse setor - em um fundo para a educação e em outras medidas de combate à pobreza conseguiu uma proeza: recebeu elogios tanto de governistas como de representantes da oposição. "A indústria do petróleo ganha muito dinheiro e a educação, assim como a saúde, deve ser priorizada", disse Valdir Raupp (RO), líder do PMDB no Senado. Para o oposicionista Roberto Freire, presidente do PPS, a intenção de Lula em usar o dinheiro do petróleo para a Educação foi a única parte "aproveitável" e mais lógica do discurso do presidente Lula. Já o presidente do DEM, o deputado Rodrigo Maia (RJ), demonstrou preocupação com o possível acirramento no embate entre governo federal e seu estado pelos royalties. Nos demais temas, aliados e oposição mantiveram os seus discursos. Enquanto os primeiros fizeram coro com Lula, os outros reforçaram as críticas. A principal delas foi quanto à posição do governo em relação à criação da Contribuição Social para a Saúde (CSS), substituta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). "A CSS foi engendrada pelo Palácio do Planalto", disse o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal. "Ele não quer votar a Emenda 29, mas não tem coragem de vetar porque é impopular. Aí, tenta aprovar a CSS e submete a Câmara a esse vexame." "Metamorfose ambulante" Quanto ao futuro político de Lula, representantes da oposição disseram não acreditar que ele vá desistir do poder depois de 2010, enquanto os governistas opinaram ser difícil ele se afastar do poder. Freire e Aníbal classificaram o presidente da República como "uma metamorfose ambulante" e, por isso, não acreditam que cumprirá a promessa de não voltar à vida pública. Para Maia, o presidente precisa reafirmar sempre que não pretende voltar porque o debate sobre terceiro mandato desestabiliza seu governo. Quanto à sucessão, apesar das especulações dizendo que a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, é a candidata do presidente para 2010, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), disse acreditar que ela é apenas um nome em meio a outros no grupo de possíveis candidatos. "Creio que ele disse a verdade, ela não é candidata. O problema é que tentaram antecipar o processo eleitoral." Em relação aos bons resultados econômicos celebrados por Lula, os oposicionistas preferem afirmar que o Brasil tem sido salvo por uma situação internacional favorável. Em outras palavras, o presidente tem sorte. "Não é um apelo do presidente que vai abaixar a inflação", disse Aníbal. Ela (a inflação) é resultado da incapacidade da gestão, que desperdiça muito e deveria reduzir os gastos públicos." Freire foi ainda mais enfático: "Lula adora comparar seu governo com o de Fernando Henrique. Ele (Lula) que tome cuidado, porque vai ter de chamar FH para ensiná-lo a conter a inflação." O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, rebateu as críticas feitas ao partido por Lula: "Se o PT tivesse tido a metade da responsabilidade que o PSDB tem hoje como oposição, o Brasil estaria 10 anos à frente e não correria o risco da volta da inflação." Apesar dos elogios, os aliados deixaram alertas para o presidente. O deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) pediu atenção ao caso Varig. Há temor de que o problema atrapalhe os trabalhos do Congresso. O parlamentar defendeu a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. "O depoimento de Denise Abreu (ex-diretora da Anac) tirou a escada da oposição, quando afirmou que não recebeu ordens de Dilma", analisou, acrescentando, no entanto "que a atuação do governo deixou a desejar, nesse caso. O governo deixou de apreciar um plano feito pelos funcionários da Varig, que reergueria a empresa". Além de revelar que não pretende voltar ao poder e da criação do fundo para a educação com os recursos do petróleo, Lula adiantou que, após fazer o seu sucessor, seu objetivo é descansar e viajar pelo País. Outro ponto de destaque foi a simpatia revelada pelo presidente ao candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama. (Ver mais à página A13) (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Luciana Abade e Pedro Vieira)

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 17/06/2008 01:04