Título: Queda no consumo ressuscita fantasma da crise na Argentina
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Fonte: Gazeta Mercantil, 17/06/2008, Internacional, p. A11
Buenos Aires, 17 de Junho de 2008 - A falta de produtos alimentícios nas gôndolas dos supermercados, a escassez de gasoil e naftas, a redução de insumos industriais, a queda do consumo e o freio do mercado imobiliário agitam o fantasma da crise na Argentina, afetada pelo locaute agrário que dura a quase 100 dias. Nas províncias de Córdoba e Rosário falta combustível. Perto de 30 rodovias continuavam semi-bloqueadas ontem, feriado na Argentina, onde milhares de produtores agropecuários em rebeldia fiscal impediam a passagem dos caminhões carregados com grãos, no marco da greve de comercialização de grãos retomada no sábado. Economistas já prevêem comprometimento no crescimento econômico do país. O protesto recrudesceu no fim de semana depois que a Gendarmería (polícia de fronteira) desalojou um bloqueio da rodovia 14, a do Mercosul, e deteve por algumas horas 19 manifestantes, incluindo o carismático dirigente rural Alfredo de Angeli. O novo locaute agrário prevê terminar amanhã com uma "jornada de luta em todo o país", embora De Angeli tenha advertido que "se for necessário ficaremos mais cem dias nas rodovias". O oficialismo convocou para amanhã um ato na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, para respaldar a política econômica da presidente Cristina Kirchner e afastar o que considera ser uma tentativa de desestabilização. O vice-presidente Julio Cobos afastou-se ontem da dureza oficial ao recomendar o diálogo e pedir ao Congresso que apresente idéias e propostas para encontrar uma saída para o conflito.Cobos é um "radical `k¿" (por Kirchner), em alusão ao grupo que se separou do partido de oposição Unión Cívica Radical (UCR, social-democrata) para se aliar com o governamental kirchnerismo (peronismo social-democrata) e ajudar a eleger, no pleito presidencial de outubro passado, Cristina Kirchner, com 45,2% dos votos. O governo enfrenta a revolta dos agricultores, que rejeitam as retenções (impostos) móveis das vendas externas de grãos, em particular da soja, cuja colheita foi calculada este ano em cerca de US$ 24 bilhões. Os efeitos do prolongado conflito já são sentidos com força no interior do país e começam a ser sentidos em Buenos Aires, já que os piquetes parciais de agricultores foram somados, na semana passada, ao protesto dos caminhoneiros prejudicados pelo conflito. O setor imobiliário, que não muito tempo atrás prosperava, também registrou, nas últimas semanas, queda entre 20% e 30%, segundo operadores. "A crise do campo foi um impacto forte. O homem do interior aplicava os excedentes da colheita em investimentos imobiliários para ele e seus filhos e agora está na expectativa", disse Mario Gómez, diretor da imobiliária Toribio Achával. A paralisação agrária põe em xeque um país que exporta anualmente perto de US$ 35 bilhões em produtos alimentícios, mais de 50% das vendas externas.Com crescimento médio anual de quase 9% desde 2003, a Argentina debatia há três meses se desacelerava ou não a economia para frear a inflação. Mas o clima parece ter mudado ao ponto de as vendas de varejo registrarem queda de 0,4% de janeiro a maio, a maior desde a crise de 2002, ante igual período do ano passado, segundo a consultoria Ecolatina. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(AFP e agências)
-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 17/06/2008 01:23