Título: Itamaraty vive a 1ª- greve de sua história
Autor: Exman, Fernando
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/06/2008, Nacional, p. A4
Brasília, 10 de Junho de 2008 - Insatisfeitos com o andamento das negociações salariais mantidas com o governo, oficiais e assistentes de chancelaria iniciaram ontem - e devem manter durante o dia de hoje - a primeira paralisação da história do Ministério das Relações Exteriores. Segundo os líderes do movimento, as duas categorias contam com aproximadamente 1.400 integrantes e 1 mil servidores teriam apoiado a iniciativa. A paralisação ocorrerá durante as 24 horas de hoje. Por causa do fuso horário, a manifestação já havia começado ontem em embaixadas e consulados em países como Japão e Cingapura. Aderiram os servidores de 38 embaixadas, 17 consulados e sete escritórios de representação do Itamaraty. A crise entre parcelas das duas categorias e os diplomatas tem potencial para atrapalhar o funcionamento do Itamaraty e a vida de cidadãos e empresários. Os oficiais e assistentes de chancelaria são responsáveis por grande parte das atividades burocráticas do Ministério das Relações Exteriores e seus órgãos. Assistem, por exemplo, os brasileiros no exterior que precisam expedir documentos, estão presos, hospitalizados ou detidos pelas imigrações. Emitem também vistos a estrangeiros interessados em entrar no Brasil. Ou seja: se alguma empresa quiser enviar um executivo ao País durante a paralisação, não obterá a permissão. Atividades administrativas também poderão ser afetadas, como licitações, o envio e o recebimento de malas diplomáticas. Segundo Paulo Édson Medeiros Albuquerque, porta-voz da Associação Nacional dos Oficiais de Chancelaria do Serviço Exterior Brasileiro (Asof) e do Conselho Nacional dos Assistentes de Chancelaria (Conac), a paralisação foi deflagrada porque o Itamaraty não cumpriu um acordo fechado. Atualmente, os oficiais de chancelaria têm salários iniciais e finais de R$ 4.629,00 e R$ 6.058,51, respectivamente. Quanto aos assistentes de chancelaria, o piso salarial é R$ 1.549,40. O teto soma R$ 2.942,75. Já os diplomatas começam a carreira recebendo R$ 7.751,97 e têm uma remuneração máxima de R$ 11.775,69. A demanda inicial dos oficiais de chancelaria era um salário de R$ 8.125,23 a R$ 10.562,61. Já os assistentes exigiam um piso de R$ 5.063,55 e teto de R$ 7.300,93. Depois de longas negociações, as categorias aceitaram a contraproposta apresentada pelo Itamaraty, segundo a qual os vencimentos dos oficiais iriam de R$ 6.299,05 a R$ 9.218,12 e os dos assistentes passariam a variar entre R$ 4.837,67 e R$ 7.079,51. O acordo, entretanto, esbarrou no Ministério do Planejamento. O órgão determinou que os aumentos não ultrapassem 19%, percentual em estudo para outras carreiras da administração pública federal. "Na prática, os diplomatas estão usando isso para conseguir aumentos maiores para eles mesmos", acusou Albuquerque. "Nós, oficiais de chancelaria, reivindicamos o salário de gestor. Como diplomata e oficial de chancelaria são duas carreiras de nível superior, o salário deveria ser praticamente o mesmo." Ontem, o Ministério do Planejamento aceitou cumprir o acordo firmado pelos diplomatas com os oficiais de chancelaria. As negociações referentes aos assistentes, no entanto, continuavam pendentes. Um integrante da área econômica do Executivo ironizou: "Equiparar as carreiras é um delírio. Passar no concurso do Itamaraty é uma das coisas mais difíceis que há. Além disso, é o Ministério do Planejamento quem negocia com as categorias." (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()
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