Título: Mercosul e Asean vão negociar um acordo de livre comércio
Autor: Assis, Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/06/2008, Nacional, p. A4

São Paulo, 6 de Junho de 2008 - O governo brasileiro conseguiu avançar no processo de aproximação com os países asiáticos. Em novembro deste ano, 10 ministros representantes de nações que integram a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) e ministros de países do Mercosul se reúnem para discutir a possibilidade de se estabelecer um acordo de livre comércio. Os países asiáticos serão liderados por Cingapura, país que mantém uma das economias mais abertas do mundo. O ministro da indústria e comércio de Cingapura, Lim Hng Kiang, que participou ontem de encontro com empresários em São Paulo (SP), organizado pelo International Enterprise Singapore São Paulo Office, afirmou que a abordagem de livre mercado é estratégica para o seu país. Para Paulo Alberto da Silveira Soares, embaixador brasileiro em Cingapura, o encontro programado para o dia 24 de novembro reunirá, pela primeira vez, os ministros da Tailândia, Filipinas, Malásia, Indonésia, Brunei, Vietnã, Mianmar, Laos e Cambodja, coordenados por Cingapura, para discutir com representantes do Mercosul a produção de estudos de viabilidade de acordo de livre comércio. "Há uma sutil evolução na nossa maneira de pensar e já se admite a alternativa de um acordo de livre comércio com os países da Asean", afirma Soares. "Achamos que o etanol tem um potencial enorme e Cingapura pode se tornar um centro de distribuição (hub) importante a preços competitivos", comenta Soares. A plataforma de negócios que pode ser montada a partir do país permitiria alcançar os mercados da Índia e vários países asiáticos. Soares espera que "entre 5 a 10 anos eles serão o centro de distribuição do etanol brasileiro". O estreitamento das relações comerciais entre Brasil e Cingapura está na pauta do ministro Kiang. Em sua passagem pelo Brasil, Kiang manteve contatos com o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, encontrou-se com o ministro Miguel Jorge, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e manteve encontros com representantes do Ministério da Energia. Kiang esteve também reunido com técnicos da Receita Federal, em Brasília, para discutir a flexibilização do tratamento tributário aplicado a Cingapura. Este movimento de aproximação começou em 2007 por meio de ações do corpo diplomático do Itamaraty, comentou Soares. "Há um memorando de entendimento assinado em setembro de 2007", diz Soares. Neste documento os dois países lançaram a idéia de se estudar a viabilidade de uma abertura de mercado. O etanol entrará na agenda de 2008 em um seminário que o Itamaraty pretende promover naquele país em outubro com a finalidade de discutir o tema dos biocombustíveis. A corrente de comércio entre Brasil e Cingapura alcançou o total de US$ 2,5 bilhões e as projeções indicam que este volume de negócios deverá saltar para US$ 3 bilhões. O País figura na 28 posição entre os parceiros comerciais. Na opinião de Kiang, o País tem potencial para subir neste ranking. Empresas como a Petrobras, Sadia, Companhia Vale do Rio Doce (Vale) e Weg têm bases em Cingapura. Para o ministro, o país tem infra-estrutura eficiente, se destaca na área de equipamentos para indústria petrolífera, refino de petróleo, semicondutores, reparos de navios e constitui um dos mais importantes centros financeiros internacionais. Na avaliação de Kiang, o Brasil poderia adotar Cingapura como hub, um pólo para centralizar seus negócios no mercado asiático A instalação no Brasil de um escritório da Temasek Holdings, empresa de investimentos globais de Cingapura, está relacionada à estratégia de reforçar as relações comerciais. A Temasek mantém uma carteira de investimentos de US$ 120 bilhões (equivalente a 164 bilhões de dólares de Cingapura). De acordo com Kiang, o Brasil é um componente-chave entre os países do Bric. Para ter uma boa exposição e chances de aumentar o volume de negócios entre os dois países era necessário ter uma estrutura física no mercado brasileiro. O ministro acredita que há perspectivas positivas na área de infra-estrutura. Na visão de Kiang, esta parceria não abrangeria portos e aeroportos, mas o gerenciamento destas estruturas, softwares e sistemas inteligentes. A integração entre os países poderá ser intensificada durante a feira LatinAsiaBiz, que será realizada de 22 a 23 de setembro e reunirá a comunidade de negócios da região. O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, abriu a possibilidade de participar deste encontro. Por sua vez, Roberto Giannetti da Fonseca, diretor da Fiesp, informou que a entidade vai compor uma delegação para participar do evento marcado para setembro. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)()