Título: Planos de saúde pesam mais no bolso
Autor: Branco, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 23/04/2011, Cidades, p. 31

Em um cenário de inflação, o brasiliense está preocupado com o reajuste dos planos de saúde. A alta de preços sempre foi motivo de inquietude para os brasileiros e para o governo federal, que se desdobra para controlá-la. Quando a inflação está relacionada a gastos essenciais, o cenário torna-se mais preocupante.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que, nos últimos 12 meses, Brasília registrou alta no custo da saúde suplementar acima da média nacional, além de superior aos valores detectados em todas as outras regiões metropolitanas onde acontece o levantamento. A variação positiva do item no Distrito Federal ficou em 7,37%, enquanto no Brasil houve oscilação de 7,06%. Também no primeiro trimestre do ano, a elevação dessa categoria de gastos castigou o bolso dos candangos. Brasília foi a segunda capital com reajuste mais acentuado, de 1,85%. Ficou atrás apenas de Salvador, onde o aumento foi de 1,87%. Para especialistas, pelo fato de os planos de saúde terem peso significativo sobre o orçamento familiar e de constituírem uma despesa de difícil substituição, os movimentos de elevação preocupam.

O economista Nilton Marques de Oliveira, professor do Centro de Estudos Avançados e Multidisciplinares (Ceam) da Universidade de Brasília (UnB), diz que para enfrentar os avanços no custo de vida, a solução é elencar as despesas mais importantes e dar prioridade a elas. A mensalidade do plano de saúde é um dos gastos que a família deve lutar para manter. ¿Procurar alternativas mais baratas para convênio de saúde tem um problema sério: você não vê bons profissionais cobrando pouco. Por mais difícil que seja, o ideal é cortar outras coisas para pagar o plano. Controlar o lazer, pesquisar no supermercado e deixar o carro dentro de casa com mais frequência são algumas das sugestões¿, pondera Oliveira.

Ele acredita que o fato de o custo da mensalidade no DF ter oscilado acima da média nacional e da de outras unidades da Federação está ligado à elevada renda per capita dos brasilienses. ¿Médicos e dentistas vão pedir salários altos. Despesas com aluguel de salas e espaços, entre outras, também são mais altas¿, destaca.

Taxa extra Professor do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da UnB, o também economista Roberto Piscitelli concorda com Nilton de Oliveira no sentido de que a pressão inflacionária sobre os planos de saúde deixa os usuários sem opção. ¿Todos dependemos desses serviços. Todo mundo que ascende um pouquinho na escala social se filia a um plano de saúde, que é para não depender do atendimento público. De outra parte, as operadoras cobram muito e pagam muito mal aos seus prestadores de serviços. Agora, você tem mais esse escândalo, de médicos cobrando taxa extra¿, afirma.

O economista diz preocupar-se com aumentos de alguns itens do orçamento. ¿Este ano, os reajustes acima da inflação concedidos a algumas categorias do setor privado não vão se repetir. Se cada componente dos gastos familiares vai aumentando, é evidente que a conta não vai fechar no fim do mês. Vamos começar a ter problemas com a inadimplência¿, alerta.

Piscitelli critica um fator que considera agravante no aumento do custo de vida para os brasileiros. Para ele, o fato de o reajuste de serviços e produtos ser frequentemente indexado à inflação do período anterior não é saudável. ¿Os custos acabam sendo reajustados porque os preços aumentaram em uma proporção maior ou menor. Há um teto que todo mundo pode usar. Esse mecanismo vai se reforçando, se propagando e ajuda a manter o nível de inflação¿, afirma. Ele cita como exemplo de despesas que são reajustadas segundo a inflação os contratos de aluguel, alguns planos de saúde, e os medicamentos, cujo aumento é autorizado anualmente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ambos servidores públicos federais, Carla Miranda, 43 anos, e o cunhado dela, Márzio Deon Rezende, 50, têm a sorte de contar com plano de saúde com 70% da mensalidade subsidiada pelos órgãos públicos onde trabalham. Carla, que não tem dependentes, paga R$ 180 por uma cobertura que considera boa. ¿Ainda este ano tive gastos com cirurgia, e não tive do que reclamar.¿ Márzio, que arca com o convênio para si e para a família, paga R$ 250. ¿Se eu tivesse que pagar o plano cheio, meu orçamento ficaria bem mais comprometido. Gastaria, no mínimo, R$ 400¿, conta.