Título: Congresso se prepara para ouvir envolvidos
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/06/2008, Direio Corporativo, p. A9

Brasília, 6 de Junho de 2008 - A base governista mudou a estratégia para blindar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no Congresso e surpreendeu a oposição. Ontem, na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, antes mesmo dos oposicionistas tomarem a iniciativa, os líderes governistas propuseram um acordo para convocar a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, além de realizar uma audiência pública sobre a negociação da venda da companhia aérea Varig e Varig Log. Ao todo, 12 pessoas envolvidas na transação começam a prestar esclarecimentos na próxima quarta-feira sobre a suposta interferência do governo na venda da companhia aérea. A orientação para autorizar a convocação de Denise partiu do Palácio do Planalto. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), avaliaram que evitar a presença da ex-diretora da Anac - que acusa a ministra de intervir no processo de venda em favor do fundo norte-americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros - daria munição para a oposição. A defensiva poderia, segundo os governistas, gerar novos constrangimentos a Dilma. Portanto, os líderes alinhados com o Palácio do Planalto preferem ouvir a sustentação das denúncias contra a ministra para depois traçar uma tática que evite levar Dilma ao Congresso no papel de acusada. "Vamos ouvir atentamente o que ela (Denise) tem a dizer e depois avaliamos como devemos agir. Agora, não tem porque envolver, neste primeiro momento, a ministra Dilma. Não há blindagem. Temos maioria para rejeitar todos os requerimentos da oposição", declarou Jucá. Para desviar a atenção em torno das acusações contra Dilma, os governistas também conseguiram aprovar os depoimentos do ex-diretor da Anac, Milton Zuanazzi e do juiz da Primeira Vara Empresarial do Rio de Janeiro Luiz Roberto Ayoub. Os governista, inclusive, já preparam um arsenal de perguntas e até questionamentos sobre a postura da ex-diretora da Anac. A idéia é levantar suspeita sobre a credibilidade das denúncias. Na sessão de ontem, a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), e o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) colocaram sob suspeita a iniciativa de Denise e disseram estranhar que somente agora, passados três anos da operação de compra e venda das empresas, ela tenha feito as acusações. Para a líder e o peemedebista, a declaração de Denise veio no momento em que Dilma estaria disposta a ser candidata à Presidência da República nas eleições de 2010. "A questão é política. A oposição teme a possível candidatura da ministra", declarou Ideli. Vantagens financeiras A oposição, por outro lado, acredita que consegue incomodar a cúpula do governo com o relato, na comissão, do advogado Roberto Teixeira, amigo do presidente Lula e, que de acordo com Denise, teria usado seus contatos junto ao governo federal para obter vantagens financeiras para os compradores da Varig e da VarigLog, subsidiária que opera no transporte de carga. Tucanos e democratas apostam que podem complicar a vida da ministra os depoimentos do procurador Manuel Felipe Brandão e dos ex-diretores da Anac Leur Lomanto e Jorge Veloso, que confirmam as denúncias de Denise. "Nós vamos a fundo nesta história. Queremos todos os detalhes. A Denise já disse que tem como provar o que fala, então, vamos esperar para vê até onde essas denúncias vão nos levar", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Oposição não descarta CPI Mesmo com a boa vontade dos governistas em ajudar na convocação de Denise, os oposicionistas ainda não desistiram totalmente de pedir a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a venda das companhias. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) diz que se as explicações não forem convincentes começará a recolher as assinaturas necessárias. "É um escândalo que supostamente chega à prática de suborno, à configuração de empresas fantasmas, à troca de um procurador-geral da Fazenda Nacional e à utilização de um compadre do presidente da República, que é advogado. Isso tudo tem que ser esclarecido", disse o senador. Explicações do PAC Apesar do entendimento de não envolver a ministra no caso da Varig e da VarigLog, a Comissão de Infra-Estrutura quer convocar Dilma no próximo dia 19 para falar sobre a situação da hidrelétrica de Belo Monte (PA), que faz parte das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O requerimento de convocação da ministra, de autoria do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), está aprovado desde o dia 8 de fevereiro. Segundo o presidente da comissão, Marconi Perillo (PSDB-GO), a audiência com Dilma ainda não foi confirmada porque foi preciso aguardar o processo de substituição do titular do Ministério do Meio Ambiente, pois a ex-ministra Marina Silva também deveria participar do debate. Flexa Ribeiro argumenta que a presença da ministra é importante porque a construção da usina faz parte do PAC, mas que ainda enfrenta a resistência de ambientalistas e indigenístas. O senador lembrou que, no dia 20 de maio, o engenheiro da Eletrobrás Paulo Fernando Rezende foi agredido por índios caiapós ao final de uma palestra, no encontro Xingu Vivo para Sempre, em Altamira (PA). Na palestra o engenheiro defendeu a construção da hidrelétrica de Belo Monte. "É importante que a `mãe do PAC¿ nós explique o que esta acontecendo na região", disse Ribeiro. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)()

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