Título: Lula defende uma revolução dourada para combater fome
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/06/2008, Empresas, p. C1

Roma, 4 de Junho de 2008 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discorreu nesta terça-feira em Roma, na reunião de cúpula da FAO, sobre a grave onda de fome no mundo num tom claro e forte, com o qual defendeu "uma revolução dourada" baseada nos biocombustíveis e no fim do subsídios. Em um discurso de 20 minutos, Lula ilustrou a "revolução dourada", que combina terra, sol e tecnologia de ponta para criar "um conceito novo de segurança para um mundo, no qual não apenas a energia, mas também as ideologias sejam renováveis". "A globalização que se instalou de forma tão ampla na indústria precisa chegar à agricultura", afirmou na reunião convocada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O presidente do Brasil convidou a comunidade internacional a adotar medidas viáveis e corajosas para impedir que 100 milhões de pessoas na África, Ásia e América Latina entrem no limite da desnutrição com suas conseqüências sociais, como calculam as Nações Unidas. "Não devemos nos enganar: não haverá solução estrutural para o tema da fome no mundo enquanto não sejamos capazes de direcionar recursos para a produção de alimentos nos países pobres e, de forma simultânea, eliminarmos as práticas desleais que caracterizam o comércio agrícola". "É intolerável o protecionismo que atrofia e desorganiza a produção agrícola dos países pobres", disse aos quase 40 chefes de Estado e de Governo presentes na reunião, incluindo vários europeus, que concedem subsídios milionários a seus agricultores. Lula defendeu ainda a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar do Brasil e afirmou que "a razão da atual crise de alimentos é sobretudo a distribuição". O presidente de uma das maiores potências agrícolas mundiais considera que entre os fatores que influenciam a alta espetacular dos preços dos alimentos está o elevado preço do petróleo, que passou de 30 a 130 dólares em pouco tempo, e não os biocombustíveis. "É preciso afastar os sinais de fumaça lançados por lobbies poderosos, que pretendem atribuir à produção de etanol a responsabilidade pela recente inflação do preço dos alimentos. Mais que uma simplificação, se trata de uma piada", disse. "Muitas pessoas falam do aumento dos preços, mas se calam ao analisar o impacto da alta do preço do petróleo nos custos de produção dos alimentos", comentou. O Brasil, ao lado dos demais países da América Latina, pediu às Nações Unidas que organizem uma conferência internacional para discutir o tema e lidera a luta contra os subsídios concedidos pelos países ricos a seus produtores agrícolas. C10(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(AFP)