Título: Controle inexistente de filiação
Autor: Cipriani, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 24/04/2011, Política, p. 4

Alguns minutos do dia, um telefonema, cliques no teclado do computador e você já está dentro. Para comprovar a idoneidade, apenas o documento de identidade e o título de eleitor. Nem mesmo o comprovante de endereço para atestar o domicílio eleitoral se exige na maior parte dos 27 partidos brasileiros, que em breve serão 28 ou 29 ou 30. Desse modo, as legendas, que em nomes e ideologias muito se repetem, chegaram a 2011 com 13.863.268 filiados.

A verificação de dupla filiação, que leva à perda dos dois cadastros, fica por conta da Justiça Eleitoral. E qual a linha ideológica? ¿Não tem uma assim pra te falar¿, responde a atendente de um partido pequeno. O Correio/Estado de Minas ligou para os 27 partidos para pedir a filiação. Em um deles, entre os chamados nanicos, houve até convite para concorrer a uma vaga de vereador nas próximas eleições. Em termos de objetivos ou linhas de atuação, a maioria dos partidos se apresenta como trabalhista: são nove. Outros três estão no campo democrático. Três são socialistas e dois, comunistas. Também com dois exemplos de cada, existem as linhas progressista, republicana, humanista cristã e liberal. O PV segue único com a bandeira verde.

Para o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), sobram partidos no Brasil. ¿Com uns sete ou oito, o país já estaria bem servido para representar os interesses e demandas do eleitorado. Do modo atual, eles funcionam na base do interesse pessoal, procurando a Lei de Gerson: o que é mais vantagem para mim, para minha eleição ou reeleição¿, afirmou.

O professor lista os partidos em tipos específicos. ¿Tem os partidos de aluguel, os partidos com dono, como o PDT que era do Brizola e passou para o Carlos Lupi, ou o Lula, que se achava dono do PT, e o PPS do Roberto Freire, por exemplo¿, avalia Fleischer. Já o PMDB, conforme o cientista, é exatamente o contrário. Os donos são muitos. "São 27 tendências ou mais, um balaio de gato. E não há como encontrar consenso entre diferentes estados nem mesmo escolher um candidato bom para a Presidência da República¿, diz.