Título: Medidas para restringir crédito voltam à discussão no governo
Autor: Cavalcante, Simone; Nicoletta, Costábile
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/06/2008, Nacional, p. A6

São Paulo, 19 de Junho de 2008 - O governo está convencido de que a elevação da taxa básica de juros, a Selic, e o comprometimento com superávit fiscal maior não serão suficientes para manter a inflação sob controle, dentro da meta (entre 2,5% e 6,5%, com centro de 4,5%). Diante disso, voltaram à mesa de discussão da equipe econômica medidas para restringir o crédito, sobretudo nos financiamentos de eletrodomésticos e automóveis - que hoje podem ser comprados com empréstimo de até seis anos. Uma das propostas aventadas é aumentar o requerimento de capital das instituições financeiras para empréstimos considerados de maior risco. Com isso, os bancos teriam menos lucro nas operações de financiamento, pois seriam obrigados a manter mais dinheiro em caixa para emprestar o mesmo montante atual. "É uma medida que está sendo considerada razoável por várias pessoas", diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que na segunda-feira passada se encontrou com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em São Paulo, para conversar sobre as possíveis restrições ao crédito. "Serviria ao mesmo tempo para fazer com que a demanda caísse e como regra de prudência", afirma Belluzzo, lembrando que, guardadas as proporções, a crise do subprime nos Estados Unidos teve início com um "boom" de crédito cada vez mais arriscado. Para Belluzzo - que faz parte de um conselho econômico informal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, é preciso regular o crescimento do crédito no Brasil. Muito embora admita que o País tenha baixo percentual de crédito em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) - 36,1% em abril, segundo o Banco Central -, Belluzzo vê problemas na velocidade com que isso está acontecendo. Ao ser adotada, a medida atingiria duas pontas: veículos e eletrodomésticos. Nos dois casos, tanto o montante quanto o prazo de pagamento podem ser reduzidos pelas instituições financeiras. No varejo, por exemplo, a maioria das grandes lojas fizeram acordos com os bancos para ter condições de ampliar o número de prestações ao consumidor. Em reuniões com seus ministros, o presidente Lula tem reiterado que o controle da inflação e a manutenção do poder aquisitivo dos consumidores de menor renda são prioridade de seu governo. Vários integrantes da equipe econômica têm dado sinais de que é necessário encolher as linhas de financiamento a pessoas físicas. "O consumidor terá de escolher entre comprar a geladeira nova ou o que vai dentro dela", comentou Guido Mantega. Em entrevista concedida ontem à TV Bloomberg, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ser necessário desaquecer os gastos do consumidor, depois que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ter alcançado 5,58% no período de 12 meses encerrado em maio. Em março, Mantega anunciou o estudo das medidas, mas, como a inflação mostrava-se pouco mais comportada, Lula desmentiu o ministro. Com a ameaça de estouro da meta, a percepção mudou. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(

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