Título: Teixeira comparece ao Senado, mas depoimento é adiado
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/06/2008, Politica, p. A7
Brasília, 19 de Junho de 2008 - Os partidos de oposição surpreenderam ontem os governistas e colocaram em votação na Comissão de Infra-Estrutura do Senado o adiamento do depoimento do advogado Roberto Teixeira, amigo do presidente Lula, e suspeito de ter praticado tráfico de influência nas negociações envolvendo a Varig. A movimentação oposicionista foi motivada, segundo líderes, para evitar que a palavra de Teixeira, diante da ausência dos três sócios brasileiros do fundo norte-americano Matlin Patterson, que teria se beneficiado da suposta interferência da cúpula do Palácio do Planalto, prevalecesse por falta de contraponto. Teixeira foi ao Senado, mas voltou para casa sem dar explicações. "Vou pensar [num novo depoimento]. Cumpri com a obrigação de explicitar os fatos", disse o advogado que participou da transferência acionária da empresa. A suspensão do depoimento engessa os desdobramentos do caso. São dois os motivos: o recesso parlamentar, que começa no próximo dia 18, e as eleições municipais de outubro. Nos cálculos dos governistas, não há espaço para a convocação de Teixeira e dos três sócios do fundo, Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Luiz Eduardo Gallo antes do recesso dos senadores e na volta, muitos estarão nas eleições municipais. Governistas avaliam que, sem a comprovação de fatos, as denúncias criaram apenas uma crise artificial. Os oposicionistas minimizaram as críticas. Apenas cinco senadores presentes na reunião aprovaram requerimento para que Roberto Teixeira seja ouvido depois dos três sócios da VarigLog, que não compareceram ao Senado alegando que tinham compromissos em São Paulo. "Seria um tiro no pé. Ele falaria e ficaria apenas a versão dele. O Audi (sócio do fundo) nos disse que tem documento para provar o lobby de Teixeira, então não podíamos matar o assunto desse jeito", justificou o líder do DEM, José Agripino Maia (PMDB-RN). Sem conseguir falar aos senadores, Teixeira deixou para a comissão cópia de documentos negando ingerência do seu escritório junto ao governo e aos órgãos reguladores para garantir a aprovação da venda. Fez questão de defender a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e negou as denúncias da ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, de que Dilma pediu ao órgão regulador pressa na aprovação da venda. Teixeira negou qualquer proximidade com a ministra. Segundo Teixeira, seu escritório foi contratado para assessorar a VarigLog no leilão de venda da Varig, que ocorreu em junho de 2006, quando, no entendimento dos donos da VarigLog, a venda da ex-subsidiária de cargas para a Volo já tinha a aprovação do antigo Departamento de Aviação Civil (DAC). Documentos entregues por Denise Abreu na Comissão de Infra-Estrutura, que ainda estão sendo analisados, deixariam claro que Teixeira exerceu empenho incomum para viabilizar a venda da empresa aérea e que a Casa Civil corroborou, interferindo e pressionando a Anac durante todo o processo. Pela cronologia da transação, Teixeira, que recebeu US$ 5 milhões do empresário Marco Antônio Audi para que a VarigLog passasse ao comando do fundo americano Matlin Patterson, comandaria depois a transferência da empresa para a Gol, numa ação envolvendo comprador e vendedor em todas as pontas da transação. Exclusão de sócios é mantida O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu ontem manter a exclusão dos três sócios brasileiros da VarigLog, Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Luiz Eduardo Gallo. O escritório Thiollier e Advogados, que defende os empresários brasileiros, confirma que irá recorrer ao Superior Tribunal de Justiça contra a decisão provisória que excluiu seus clientes. Em nota, o Matlin Patterson disse considerar correta a decisão da Justiça. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)()