Título: Opep decide aumentar cota em 1 milhão de barris/dia
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Fonte: Gazeta Mercantil, 16/09/2004, Energia, p. A-9

Medida tem pouco impacto, já que produção atual supera esse número. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) elevou ontem sua cota oficial de produção em 1 milhão de barris por dia (b/d), ou 4%, em uma tentativa de fazer os preços internacionais do produto caírem abaixo de US$ 40. A nova cota de produção, de 27 milhões de b/d, entrará em vigência a partir de 1 de novembro. Mas a elevação não deve ter impacto significativo sobre a oferta atual de petróleo, uma vez que a Opep já estava produzindo cerca de 28 milhões de b/d, acima da cota anterior.

Os preços do petróleo, porém, resistiram em cair após a decisão, o que pode enfatizar preocupações com a inabilidade da Opep em lidar com o forte crescimento da demanda pelo produto. "Este é um sinal para os mercados, e não uma mudança na produção total. Terá um efeito psicológico sobre os preços", disse o ministro do Petróleo do Irã, Bijan Zanganeh.

Alirio Parra, ex-presidente da Opep, afirmou que, falando na prática, a cota já havia sido suspensa. "Então, onde ela se situa não é o importante", disse. A Arábia Saudita, principal produtor mundial, já se comprometeu com seus clientes a manter a oferta alta. O país teme que os altos custos de energia prejudiquem o crescimento econômico global.

Os preços do petróleo atingiram um pico de US$ 49,40 no dia 20 de agosto. O mercado operou com certo nervosismo ontem, temeroso sobre os efeitos do furacão Ivan nas operações petrolíferas no Golfo do México e também pela queda nos estoques dos EUA (ver ao lado). "Eles (Opep) tinham que parecer responsáveis", disse Gary Ross, presidente da consultoria Pira Energy, de Nova York. "Está claro que os sauditas pretendem colocar o pé no acelerador até atingirem sua meta."

Capacidade ociosa

Os altos custos do produto encorajaram alguns produtores a acelerar os planos de novos campos de petróleo, ajudando construir uma capacidade ociosa. Dois novos campos na Arábia Saudita estarão produzindo 800 mil barris diários até o final de setembro, disse o ministro do Petróleo do país. Kuwait e Argélia também aumentarão sua capacidade de produção antes do final do ano, para cerca de 300 mil barris/dia no total, disseram os ministros dos respectivos países. "Este é um sinal de que eles querem que os preços recuem, mas o que os membros da Opep realmente precisam é de mais capacidade ociosa", disse Adam Seminski, analista do Deutsche Bank.

Membros da Opep disseram que o cartel irá reunir-se novamente em 10 de dezembro, no Cairo, para debater a política de produção e a banda de preços da chamada cesta-Opep, atualmente fixada entre US$ 22 e US$ 28 por barril. Há vários meses o preço médio do barril vem se situando acima desse limite. Alguns países querem uma elevação de US$ 5 na banda, fazendo com que a média seja de US$ 30. A Opep também decidiu apontar o ministro do Petróleo do Kuwait, Ahmad al-Fahd al-Sabah, como novo presidente do cartel, sucedendo o indonésio Purnomo Yusgiantoro.