Título: São Paulo é crucial para o PT, PSDB e DEM
Autor: Seabra, Marcos
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/06/2008, Politica, p. A10

São Paulo, 23 de Junho de 2008 - A disputa pela prefeitura paulistana ganhou contornos decisivos para a sobrevivência de dois dos principais partidos da cena política brasileira: o DEM, do prefeito Gilberto Kassab, e o PSDB, do ex-governador Geraldo Alckmin. O PT, por sua vez, trouxe a ex-prefeita e ex-ministra do Turismo, Marta Suplicy, de volta à São Paulo na tentativa de recuperar a administração da maior cidade do País. Para o cientista político e professor do Ibmec/SP, Carlos Melo, o Democratas vive uma etapa decisiva para sua sobrevivência, inclusive para suas pretensões nacionais. "O DEM joga todas as suas fichas em uma vitória em São Paulo". O racha no PSDB, provocado pela insistência de Alckmin em lançar sua candidatura e de seus desafetos tucanos em apoiar o prefeito Kassab, trouxe conseqüências danosas para o futuro do partido. "É uma verdadeira batalha que se avizinha para o futuro próximo", diz Melo. Veja a seguir, os principais pontos da entrevista concedida à Gazeta Mercantil pelo professor do Ibmec/SP. Gazeta Mercantil - Qual a importância dos programas políticos nas alianças fechadas até agora entre os partidos que disputarão a prefeitura paulistana? Os programas partidários nas negociações de alianças foi relegada a um segundo plano. As conversas estiveram muito vinculadas aos interesses de cada um - como tempo de rádio e televisão e as obras que vão fazer - do que a identidade entre as legendas. Na verdade, existem programas básicos em todas as candidaturas para resolver a maioria dos problemas apresentados pela população, principalmente nos setores de Educação, Saúde e Transporte. A não ser que alguém venha com alguma idéia original, são variações sobre os mesmos temas. Gazeta Mercantil - A principal marca desta eleição, ou pré-campanha, tem sido a briga entre os tucanos. Isso vai deixar cicatrizes? O que parece inevitável é que o PSDB vai dividido para esta eleição, independente da aliança que o partido fechar. Com uma candidatura de Kassab não consigo acreditar que os tucanos, todos, vão fazer uma campanha unida, com vontade. O que vimos foi uma tentativa de tirar o Alckmin da jogada deixando o campo mais limpo, aberto e propício para a evolução da candidatura do Kassab. Já com uma candidatura viabilizada de Alckmin eu não acredito que os vereadores tucanos, que defenderam a candidatura do prefeito, tendam a abrir mão de suas posições na prefeitura e passar a apoiar o Alckmin. Gazeta Mercantil - E o PT, qual a posição deve tomar nesse cenário? O PT tem um problema estrutural. Ele quer ser apoiado por todo mundo, mas não quer apoiar ninguém. Aliás, essa estratégia fez com que o presidente Lula intervisse nas discussões com o "bloquinho de esquerda", em São Paulo. O "bloquinho" tem candidato forte em Minas, que não consegue o apoio petista, assim como no Rio onde o PT resolveu lançar candidato próprio, perdendo, inclusive, o apoio do governador Sérgio Cabral, do PMDB. A história se repete em outras cidades do Brasil. Na Bahia, onde o partido conseguiu, surpreendentemente, ganhar a eleição em 2006 porque fez uma aliança com o Geddel Vieira Lima (Ministro da Integração Nacional) do PMDB, agora não consegue mais este acordo em Salvador. De qualquer forma, o fato do deputado federal Aldo Rebelo, do PCdoB, aceitar ser o vice na chapa da ex-prefeita Marta Suplicy na disputa pela prefeitura paulistana não vai sair de graça. É pouco provável que a aceitação do Aldo não tenha incluído acordos nos casos de Belo Horizonte, com a candidatura de Márcio Lacerda (PSB), e do Rio, com a Jandira Fhegali, do PCdoB. Gazeta Mercantil - Em São Paulo, a Marta tem vantagem com essa briga entre os tucanos? A Marta parte de um patamar muito alto, ainda assim não houve uma corrida dos partidos em torno de sua candidatura. Principalmente se levarmos em consideração as características absolutamente adesistas dos partidos no País. A melhor explicação é que o piso é alto, mas o teto é baixo. Além disso, os partidos suspeitam dos acordos com o PT. O apoio pode não reverter em nada no futuro, mesmo com a vitória na eleição. O que os partidos pensam é na possibilidade de aumentar a representação. Se o PT não quiser ficar para trás terá que fazer concessões. Mesmo tendo uma candidata que é competitiva, ainda que com uma grande rejeição. Gazeta Mercantil - Foi com concessões que Kassab ganhou apoio? O Quércia (Orestes Quércia, do PMDB), por exemplo, foi apoiar o Kassab porque ele sabia que o prefeito pode dar a ele o que ele quer. O ex-governador queria apoio e legenda para disputar o uma vaga ao Senado, em 2010, e recebeu. Isso nos faz lembrar 2002, quando ele fez um acordo com o PT e não recebeu a contrapartida, o apoio ao Senado. Gazeta Mercantil - Alckmin também tem um piso alto ... Eu acredito que o Alckmin fez uma avaliação muito ruim dos resultados que conseguiu na eleição de 2006. Ele deve acreditar que conseguiu levar, por méritos próprios, a disputa com o Lula para o segundo turno. Mas eu acho que o Lula é que permitiu que acontecesse um segundo turno com os erros cometidos por sua equipe em sua campanha. Alckmin obteve menos votos do que no primeiro turno e o pior, em seu próprio estado. Isso deveria ser levado em consideração pelo Alckmin. Gazeta Mercantil - O senhor acredita que Alckmin terá, pelo menos, a máquina administrativa estadual a seu favor? É preciso sempre lembrar que a máquina estadual tem uma ação muita relevante na cidade de São Paulo. Do jeito que as coisas estão, na verdade Alckmin poderá ter não só a máquina do estado como a da prefeitura contra ele. Gazeta Mercantil - Quais são as chances do Kassab em sua avaliação? Ele pode crescer muito, talvez, com a rejeição da Marta . Na verdade, para ele é matar ou morrer. Ele terá que dizer que o Alckmin é egoista, só pensa em sí, em seu projeto pessoal. Ele terá que desgastar o Alckmin por esse caminho. Eu considero que a Marta está no segundo turno, principalmente porque o PT na cidade tem um piso muito alto. Então teremos um disputa para saber que irá para o segundo turno disputar com a ex-ministra. Essa estratégia de Kassab criticar Alckmin está certa porque não adianta criticar a Marta que já têm 30% dos votos, que é o piso. Na verdade será uma derrota muito ruim para ambos, um prefeito em exercício e um ex-governador e candidato à presidência da República, sequer chegar ao segundo turno. Gazeta Mercantil - Uma derrota seria definitiva para Kassab? Podemos dizer que para ele, que ainda é novo, há uma chance de candidatar-se ao Senado, por exemplo. Isso pode ser verdade para ele, Kassab, mas para o DEM isso não funciona. O partido está jogando todas as suas chances de sobrevivência na eleição de São Paulo. Para o DEM, é fundamental ganhar em São Paulo. Gazeta Mercantil - E para o PSDB? Para eles as possibilidades ainda são grandes. Essa disputa do Alckmin por sua candidatura é apenas o primeiro turno de uma batalha que vai se transformar em uma grande guerra no futuro. De qualquer forma, as decisões no partido sempre foram tomadas pelos caciques, mas ele, os caciques, morreram ou saíram de cena. Portanto, não existe mais uma liderança respeitada suficientemente para resolver um problema como esse criado com o Alckmin. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(

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