Título: Balança do petróleo tem déficit de US$ 2,75 bi no quadrimestre
Autor: Cardoso, Denise, Scrivano, Roberta
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/06/2008, Infra-estrutura, p. C2

18 de Junho de 2008 - O Brasil registrou um déficit na balança comercial de petróleo e derivados de US$ 2,75 bilhões no primeiro quadrimestre do ano, resultado da diferença entre importações de US$ 7,48 bilhões e exportações de US$ 4,72 bilhões, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O saldo negativo obtido nos primeiros quatro meses de 2008 representa um forte acréscimo de 627% sobre os US$ 378 milhões verificados em igual período do ano passado. O déficit também já supera o valor negativo verificado em todo o ano de 2007, quando a balança do setor fechou com um saldo de ¿US$ 2,33 bilhões. "No acumulado dos últimos 12 meses, entre abril de 2007 e abril de 2008, o déficit já ultrapassa os US$ 10 bilhões", afirma Adriano Pires, diretor da consultoria Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), que aponta um conjunto de fatores para explicar o rombo na balança do setor. "O primeiro deles é o forte crescimento econômico brasileiro, que vem alavancando o setor de transporte e, consequentemente, a demanda por diesel", afirma o analista. O problema é que as refinarias do Brasil não têm capacidade suficiente produzir todo o diesel consumido pela frota de caminhões em circulação, o que obriga o País a importar grande parte do combustível. Entre janeiro e abril, as importações brasileiras de derivados alcançaram US$ 3,2 bilhões, o dobro do valor computado pela ANP entre janeiro e abril de 2007 (US$ 1,6 bilhão). Outro motivo apontado pelo diretor do CBIE para o avanço do déficit da balança é "o baixo aumento da produção brasileira de petróleo, que vem patinando desde 2006. "Desde que a Petrobras anunciou a auto-suficiência, há três anos, a produção vem registrando crescimento pífio", diz o analista. Segundo dados do analista de energia Humberto Viana Guimarães, a produção nacional de petróleo cresceu somente 2,16% nos primeiros quatro meses do ano, em comparação ao mesmo intervalo do ano passado. Com a baixa produção de petróleo, o Brasil reduziu em 59% suas exportações de petróleo no primeiro quadrimestre, para uma média diária de 179,7 mil barris, ante a média de 434,4 mil barris/dia verificada entre janeiro e abril do ano passado. "Do jeito que vai, tudo indica que o déficit da balança de petróleo e derivado passará dos US$ 8 bilhões até o final de 2008", prevê Guimarães A explosão do preço internacional do petróleo também está na lista dos responsáveis pelo resultado ruim da balança comercial do setor deste ano. Em 12 meses, as cotações do barril negociado na bolsa de Nova York praticamente dobraram (ver matéria ao lado), superando os US$ 130. Até janeiro, o Brasil gastou US$ 4,3 bilhões com importações de petróleo bruto, valor 34% sobre os US$ 3,2 bilhões computados no primeiro quadrimestre do ano passado, segundo a ANP. "Apesar de a Petrobras ter anunciado, em 2006, a independência na produção, o País continua tendo de importar petróleo", afirma Guimarães. A busca pelo petróleo no exterior deve-se, diz o consultor de energia, à falta de refinarias no Brasil capazes de processar todo o óleo pesado (tipo predominando no País) extraído dos poços brasileiros. "Faz 30 anos que a última refinaria foi inaugurada no Brasil", afirma. Teoricamente, as refinarias da Petrobras têm capacidade para processar 1,986 milhão de barris diários, para um consumo de 1,761 milhão barris/dia (média diária de refino de petróleo nacional e importado no primeiro quadrimestre). Porém, na prática, nem todo o óleo extraído do solo brasileiro pode ser transformado em derivados, já que o parque de refino do País, erguido a partir da década de 70, foi concebido para processar o petróleo leve, produto de melhor qualidade, de maior valor agregado e que na época da construção das refinarias era largamente importado do Oriente Médio. Com isso, a carência de tecnologia adequada para produzir todo o óleo nacional faz o Brasil ainda gastar bilhões de dólares com a compra de petróleo leve e derivados mesmo tendo alcançado a auto-suficiência produtiva. Por sua vez, a Petrobras é obrigada a despejar o excedente de óleo pesado - entre 200 mil e 400 mil barris por ano - no mercado externo a preços bem inferiores aos valores gastos com o produto importado. "A diferença do preço médio entre o petróleo leve que importamos e o petróleo pesado que exportamos tem aumentado sucessivamente", afirma Pires, diretor do CBIE. Nas contas de Guimarães, no primeiro quadrimestre, o Brasil gastou US$ 100,89 por barril, em média, na compra do petróleo leve importado, enquanto o óleo pesado foi vendido ao exterior a um preço médio de US$ 79,91 por barril. "Por mais que a Petrobras seja auto-suficiente, a estatal importa óleo leve e, por conta do aumento no preço do barril, a compra do óleo no exterior tem ficado cada vez mais cara, o que aumenta o déficit da balança", diz Felipe Cunha, analista do Banco Brascan. Crise energética Segundo o diretor do CBIE, a crise energética registrada no começo do ano - motivada pela falta de gás natural e pelo baixo volume de chuvas nos reservatórios das hidrelétricas - também ajudou a derrubar a conta petróleo do País. "Com o uso intensivo de termelétricas a óleo diesel, que excepcionalmente substituíram parte da geração hidráulica, o País teve de elevar ainda mais suas compras de derivados no exterior", explica Pires. As usinas térmicas, sobretudo as movidas a óleo, têm custos de geração bem superiores aos das hidrelétricas e só são acionadas em situação de emergência, como a crise ocorrida nos primeiros meses do ano. À espera de Tupi Para Felipe Cunha, o analista do Banco Brascan, somente as explorações na camada pré-sal irão fazer com que o Brasil inverta o resultado da balança comercial do setor. O mesmo pensa José Alexandre Hage, professor da Trevisan Escola de Negócios. "À medida que os novos campos forem viabilizados, o déficit fará uma trajetória de baixa". Segundo Hage, a inversão da curva, do negativo para o positivo, não será rápida. "É preciso viabilizar comercialmente os novos poços". Nos últimos meses, a Petrobras vem anunciando grande descobertas de petróleo na bacia de Santos, na chamada camada pré-sal. A principal delas, já avaliada pela estatal, é o campo de Tupi, a maior descoberta de petróleo das Américas desde 1976, com reservas estimadas de 5 bilhões a 8 bilhões de barris. Porém, a Petrobras só começará a produzir petróleo na camada pré-sal em larga escala a partir de 2015. Aposta nas refinarias Nos últimos meses, a Petrobras anunciou investimentos pesados na construção de novas refinarias no País. A usina Abreu e Lima, anunciada no ano passado, está prevista para operar a partir de 2012, em Suape, em Pernambuco. Essa usina terá capacidade para processar 200 mil barris por dia de óleo pesado, justamente o tipo de petróleo predominante no País. A estatal prevê a construção uma outra refinaria no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no município de Itaboraí, com capacidade para 150 mil barris dia e que produzirá, segundo a Petrobras, derivados de alto valor agregado. Porém, essa usina só entrará em produção a partir de 2013. Além dessas usinas, a Petrobras anunciou recentemente a construção de uma refinaria no Maranhão, batizada de Premium 1, com capacidade para 600 mil barris/dia, voltada exclusivamente para exportação de derivados. Ainda na região Nordeste, também será construída a Premium 2, no Ceará, com capacidade para 300 mil barris/dia. Ambas devem entrar em operação em 2015. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 2)()

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 18/06/2008 03:15