Título: Governo quer aumentar oferta de alimentos nos próximos anos
Autor: Exman, Fernando
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/06/2008, Nacional, p. A5

Brasília, 20 de Junho de 2008 - O governo aposta no aumento da produção de alimentos para combater a inflação e melhorar as condições do Brasil de enfrentar crises financeiras internacionais. Essa foi uma das decisões da reunião de ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com ministros, técnicos da área econômica e economistas. No início do mês que vem, o presidente anunciará medidas para elevar a produção das próximas safras. Os ruralistas terão facilidades na obtenção de financiamentos. A compra de máquinas também será incentivada. O preço mínimo de diversos produtos e o seguro para a produção serão garantidos. A agricultura familiar será beneficiada. O Executivo lançará ainda um programa para a recuperação de áreas degradadas a fim de expandir a fronteira agrícola do País. Esses territórios somam cerca de 50 milhões de hectares. Assim, acredita o governo, a Amazônia será protegida. Além de aumentar a oferta doméstica de alimentos, o governo quer elevar as exportações para reduzir o risco gerado pelo crescente déficit em contas correntes. Até abril, o saldo negativo somou US$ 14,1 bilhões no ano ¿ um recorde para o período. O presidente descartou a adoção de medidas heterodoxas observadas no exterior, como o tabelamento de preços feito no México e na Argentina; a criação de barreiras às exportações, como as da Argentina; ou a proibição de mercados futuros de commodities agrícolas anunciada pela Índia. Para Lula e seus auxiliares, o efeito das duas primeiras medidas é o oposto do idealizado. Em vez de reduzir, acaba elevando os preços dos alimentos. Em relação à última ação, a análise do governo é que ela é ineficaz por que os preços das commodities seguem cotações internacionais. "A resposta do Brasil será diferente. Vamos produzir mais, estimular a agricultura e aproveitar o vento que sopra", comentou o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), um dos conselheiros do presidente convocados. Participaram também da reunião os ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Planejamento, Paulo Bernardo, da Agricultura, Reinhold Stephanes, da Casa Civil, Dilma Rousseff, e da Comunicação Social, Franklin Martins. Estavam também presentes o economista Luiz Gonzaga Beluzzo e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Em viagem internacional, o presidente do Banco Central foi representado pelo diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro da instituição, Alexandre Antonio Tombini. O encontro teve início com uma apresentação de Mantega sobre a conjuntura. Em seguida, o debate foi iniciado. Concluiu-se que a economia internacional enfrenta a maior aceleração de preços desde a década de 1970 e o terceiro choque do petróleo. O Brasil, no entanto, ponderaram, está bem posicionado. Tem reservas internacionais e a inflação está controlada dentro da banda estabelecida ¿ 4,5% com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A alta das cotações dos alimentos, disseram, deve-se ao crescimento da demanda em países emergentes e ao deslocamento de aplicações no sistema financeiro para os mercados de commodities agrícolas e de petróleo. O presidente Lula chegou a comentar que tentará discutir na reunião do G-8, marcada para o mês que vem no Japão, uma regulamentação internacional contra essa especulação. Lula defendeu a austeridade fiscal, mas decidiu não elevar o superávit primário. A economia do governo para o pagamento de dívidas continuará a somar os 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) da meta mais 0,5 ponto percentual garantido pela criação de um fundo soberano. Além disso, o presidente manteve a decisão de aumentar o Bolsa Família. Um dos momentos tensos da reunião ocorreu justamente no debate sobre os gastos públicos. O senador disse que o governo não deveria aumentar despesas enquanto a crise internacional persistir. Defendeu inclusive a rejeição da proposta de emenda constitucional (PEC 29), que eleva os investimentos na saúde e cria a Contribuição Social para a Saúde (CSS). Os representantes da equipe econômica não gostaram. O presidente apenas garantiu que não verá problemas em vetar projetos do Congresso que representem um risco à austeridade fiscal. Embora favorável, o Executivo resiste a defender a criação do tributo. Antes de tomar outras decisões para conter a inflação, o governo esperará os efeitos de algumas medidas, como a elevação da taxa básica de juros, a liberação das importações de trigo e a redução da Contribuição de Intervenção no Domí-nio Econômico (Cide). Outra ação que ainda renderá frutos, acreditam os integrantes do conselho e o presidente, é o aumento do compulsório sobre operações de leasing. A regra deve retirar R$ 40 bilhões da economia. Eles optaram por ainda não restringir mais o crédito, já que o consumo das famílias tem diminuído. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)()