Título: Alckmin acusa Kassab de pressionar delegados tucanos
Autor: Ribeiro, Fernando Taquari
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/06/2008, Politica, p. A9

São Paulo, 20 de Junho de 2008 - Em mais um episódio do racha interno no PSDB paulistano, o ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do partido à prefeitura de São Paulo, condenou ontem os tucanos dissidentes que registraram nesta semana chapa encabeçada pelo atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição. Sem entrar em detalhes, Alckmistas acusam os tucanos favoráveis a Kassab de terem pressionado os delegados da sigla, com direito a voto na convenção, para assinarem a lista que criou a chapa alternativa. "Eu acho que essas coisas já deveriam estar abolidas da política brasileira. Não tem cabimento numa cidade mundial como São Paulo pressão sobre gente simples, humilde, delegados. Muita gente relatou coisa triste", disse o ex-governador sem, no entanto, relatar que "coisas tristes" seriam essas. Alckmin também comentou as denúncias de que promessas de cargos na prefeitura foram utilizadas como moeda de troca para atrair delegados à chapa dissidente. "Na prefeitura, todas as informações são neste sentido." Ontem à noite, o presidente do diretório do Jardim São Luís, zona Sul de São Paulo, Pedro Vicente, afirmou que ele e outros delegados do partido receberam propostas de suborno para trocar de lado e apoiar a tentativa de reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM). "Primeiro ofereceram cargos. Depois, falaram no dinheiro", disse Vicente. De acordo com Vicente, uma pessoa que se identificou pelo nome de Marcos Aurélio da Silva, do diretório estadual, queria que ele mudasse o voto dos delegados do Jardim São Luís. Em troca, Marco Aurélio teria oferecido primeiro dois cargos na prefeitura. "Eu perguntei para que iria querer cargo na prefeitura por apenas seis meses e então ele falou em dinheiro", afirmou Vicente. "Primeiro falou em R$ 100 mil. Depois, disse que R$ 50 mil ele pagava na hora, em dinheiro". Ontem à noite, ao saber da denúncia, Kassab tentou desqualificar as acusações. "Espero que não seja verdadeira (a denúncia). Todos sabem que são acusações de âmbito eleitoral", afirmou. Respeito O deputado federal, Silvio Torres (PSDB), demonstrou irritação com as eventuais pressões sobre os delegados. "É uma falta de respeito que um partido (DEM) interfira num outro. Há ação do prefeito para convencer delegados nossos", criticou Torres, um dos principais aliados de Alckmin. O presidente do diretório municipal da sigla, José Henrique Reis Lobo, contemporizou ao descartar a hipótese de abrir uma investigação interna para apurar as denúncias. As acusações de pressão sobre os delegados foram rebatidas pelo líder do PSDB na Câmara Municipal paulistana, vereador Gilberto Natalini. Ele argumentou que os rumores são uma tentativa de desqualificar a tese da aliança com o prefeito. "Essas acusações mostram o desespero desse pessoal de perder a convenção no domingo". De acordo com Natalini, Nelson Botom, ligado ao deputado federal José Aníbal (PSDB), e Paulo Cerceari, próximo a Lobo, passaram ontem o dia ao telefone, tentando cooptar os delegados que aderiram à coligação com Gilberto Kassab. As declarações dos alckmista foram feitas durante a cerimônia de adesão do PHS à candidatura do ex-governador. Com o apoio, o tucano terá cerca de seis minutos no horário gratuito de rádio e TV, uma vez que na coligação já estão o PTB, PSDC e o PSL. Também estavam presentes ao evento, realizado no diretório municipal do PSDB, o deputado estadual, Campos Machado (PTB), vice na chapa encabeçada por Alckmin, e alguns tucanos, como os deputados federais, José Aníbal, Silvio Torres e Edson Aparecido. Ao agradecer o apoio do PHS, o ex-governador demonstrou confiança e otimismo na convenção do PSDB - a ser realizada no próximo dia 22. "Na segunda-feira, o PSDB terá candidato próprio", disse. Ontem, o presidente nacional da legenda, senador Sérgio Guerra (PE), desembarcou na capital paulista para tentar apaziguar os ânimos no ninho tucano. Guerra se reuniu com o grupo kassabista para tentar dissuadi-los da idéia da chapa alternativa, encabeçada pelo atual prefeito. Segundo Natalini, o senador pediu para os vereadores não nacionalizarem a disputa municipal. Alckmin, por sua vez, disse que não vê problemas no fato de os vereadores do PSDB levarem a proposta de aliança com o DEM até a convenção do partido. Para ele, não há razão para a bancada tucana na Câmara Municipal desistir da opção pelo prefeito. "Não vejo nenhuma razão para desistirem, não há problema. Nós queremos ouvir o partido, deixa o partido falar, deixa o partido escolher o candidato", disse Alckmin. Sobre a queixa dos vereadores com relação a forma de votação na convenção, o ex-governador afirmou que as urnas eletrônicas e o voto secreto são uma regra para evitar constrangimentos. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(- Colaborou Marcos Seabra)