Título: Chances de IPCA superar teto da meta são de 25%, diz BC
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/06/2008, Nacional, p. A7
Brasília, 26 de Junho de 2008 - Diante das constantes pressões inflacionárias tanto no mercado interno quanto no externo, o Banco Central (BC) afirma que as chances de a inflação deste ano estourar o teto da meta oficial - de 6,5% - já são de 25%. A informação consta do Relatório de Inflação trimestral, divulgado ontem. Em março a probabilidade era de apenas 4%. O BC elevou para 6% sua estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2008, ante projeção anterior de 4,6%. A meta para 2008 e 2009 é de 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. Porém, o diretor de Política Econômica da autoridade monetária, Mário Mesquita, insistiu em dizer que o BC fará o possível para controlar os preços via aperto monetário. E admitiu que grande parte do aumento dos preços é oriunda do exterior, principalmente do custo das matérias-primas em virtude, principalmente, da produção de biodiesel extraído do milho. Outra parte é atribuída ao aquecimento econômico interno, com destaque para o crescimento da demanda, que cresceu 8,5% no primeiro trimestre deste ano influenciada pelo aumento da massa salarial. Por outro lado, diz Mesquita, a oferta não acompanha tal movimento. "Isso se nota pela pressão inflacionária e aumento das importações", declarou. A pressão inflacionária também ameaça o centro da meta para os próximos dois anos. Consta do relatório que o IPCA deve ficar em 4,7% em 2009, acima da previsão de março, de 4,4%. Caso semelhante é desenhado para 2010, quando a inflação deve ficar em 4,8%, o que representa 0,8 ponto percentual acima da indicação de 4% em março. Portanto, o foco de 2010 também pode estar ameaçado se o Conselho Monetário Nacional (CMN) confirmar, no dia 30 deste mês, a manutenção da meta em 4,5%, conforme prevê a maioria dos analistas de mercado. O prognóstico do BC leva em conta dados colhidos até o dia 13 deste mês, considera a Selic em 12,25% anuais, câmbio em R$ 1,65 e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 5%, cuja previsão foi mantida. A projeção para os preços administrados foi mantida em 4%, levando-se em conta a ausência de reajustes da gasolina. Mesquita afirmou que a instituição está atenta a todos os movimentos de preços e deve agir "tempestivamente" para mitigar as pressões inflacionárias. Em duas reuniões seguidas o BC já elevou a Selic em 1 ponto percentual para 12,25% ao ano. "O Banco Central fará o necessário, enquanto for necessário para manter as projeções alinhadas às metas inflacionárias", repetiu Mesquita cinco vezes durante a divulgação dos dados. O diretor do BC lembrou que em 2005 houve um caso parecido com o apontado para este ano. Na ocasião, diz, temia-se a superação do teto de inflação de 7%. Mas o BC conseguiu intervir por meio da elevação da Selic e trazer a inflação para 5,69%, ainda que tenha ficado acima do foco de 4,5%. "No primeiro trimestre de 2005 a probabilidade de superar a meta era de 24%, caiu para 23% no segundo e para 3% no terceiro trimestre." Pelo fato de a política monetária não ter efeito imediato, ele acredita que as previsões de inflação tendem a convergir para as metas até 2010. Grande parte da pressão dos preços, diz o diretor do BC, é reflexo do aumento do custo dos alimentos no mercado internacional. "Isso tem a ver com o aumento da demanda e com a restrição da oferta principalmente em economias mais maduras, onde as terras têm enfrentado uma concorrência de grãos, principalmente pelo milho, para a produção de bioenergia". Em relação ao mercado interno, o diretor do Banco Central traçou um panorama que reflete uma ameaça de aumento da inflação. Dentre os fatores, citou a concessão de crédito robusta, ainda que em menor ritmo para pessoas físicas, os índices de confiança de empresários e consumidores positivos, vendas no varejo em alta, núcleos de inflação elevados, taxa de desemprego em queda, entre outros. Analistas brasileiros vêm alertando para o fato de que a pressão dos preços no Brasil é proveniente apenas do exterior. E neste caso, o ideal não seria usar o aumento da taxa Selic para conter a inflação, pois poderia abortar o atual ciclo de crescimento econômico. O ideal seria reduzir a carga tributária e os gastos do governo. Mesquita defende o uso do instrumento da política monetária para evitar que as pressões externas se disseminem no mercado interno. Ele argumenta ainda que, em economias mais maduras, como a de países asiáticos, a taxa de investimento representa entre 25% e 40% do PIB, enquanto no Brasil chega a 20%. "Ainda estamos distantes de países desenvolvidos." (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)()