Título: Brasil lamenta a perda de ex-primeira-dama
Autor: Assis,Jaime Soares de ; Ribeiro, Fernando Taquari
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/06/2008, Politica, p. A8
São Paulo, 26 de Junho de 2008 - O Brasil, com a morte da ex-primeira-dama Ruth Correa Leite Cardoso, perde uma das principais referências na área social. A serenidade e capacidade intelectual a tornaram uma personalidade única capaz de dar ao papel de primeira-dama uma nova dimensão. Na definição do ex-ministro da Saúde (governo Fernando Henrique Cardoso), Adib Jatene, "ela era uma unanimidade". Seu velório, realizado na Sala São Paulo da Estação Julio Prestes, reuniu populares, políticos e empresários de todas as linhas e atividades. Do empresário José Mindlin ao banqueiro Márcio Cipriano, presidente do Bradesco, passando por ex-ministros como Paulo Renato de Souza, ao ex-governador Paulo Maluf, as homenagens prestadas a Ruth Cardoso foram demonstrações de respeito a sua capacidade intelectual, discrição, dignidade e independência. Também participaram da cerimônia os governadores de São Paulo, José Serra (PSDB) e de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). O enterro de dona Ruth será realizado hoje às 10h no cemitério da Consolação, em São Paulo (SP). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também viajou à São Paulo para prestar soliedariedade ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua família. Lula chegou ao velório às 17h30 acompanhado da primeira-dama Marisa Letícia e dos ministros, Franklin Martins (Comunicação Social), Dilma Rousseff (Casa Civil), Fernando Haddad (Educação), Nelson Jobim (Defesa), Hélio Costa (Comunicações), Edison Lobão (Minas e Energia) e Miguel Jorge (Desenvolvimento). Emocionado, Lula trocou um forte abraço com o ex-presidente FHC. Os dois ficaram ainda alguns minutos conversando ao lado do caixão da ex-primeira dama. Em seguida o presidente deixou o local por volta das 18h10 sem falar com a imprensa. Ele já havia lamentado publicamente a morte de Ruth na noite de terça-feira. "É uma grande perda para o País. Será sempre lembrada pelas sementes que plantou em sua brilhante carreira, por iniciativas como o Comunidade Solidária", disse Lula na ocasião. Ruth morreu no apartamento da família, em Higienopólis, na capital paulista, na noite de terça-feira aos 77 anos. Um enfarte fulminante foi a causa da morte. A ex-primeira-dama tinha problemas cardíacos e já havia realizado duas cirurgias para implantar próteses no interior das artérias coronarianas para desobstruir o fluxo sanguíneo. Ela foi internada na quinta-feira da semana passada no hospital Sírio Libanês. Na ocasião, sofria com dores no peito. Ruth permanceu internada até segunda-feira, quando recebeu alta. Neste dia, ela passou ainda pelo Hospital do Rim e da Hipertensão, onde fez cateterismo e foi liberada pelos médicos para ir para casa. Para o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), Ruth Cardoso se destacou por ter conseguido fazer com que a política social do governo federal fosse mais abrangente e incorporasse a iniciativa privada neste processo. O cardiologista e ex-ministro Adib Jatene reforçou o caráter generoso da ex-primeira dama. "Ela me ajudou muito no governo, na realização do programa saúde da família", afirmou Jatene, que ocupou o cargo de ministro da Saúde no primeiro governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para Jatene, uma das marcas da ex-primeira dama foi sua simplicidade, demonstrada quando participou da inauguração de uma unidade de saúde na cidade de Camaragibe, em Pernambuco. A ex-ministra e pré-candidata à prefeitura de São Paulo Marta Suplicy considerou Ruth Cardoso mais que uma intelectual brilhante e uma referência na sua área de especialização, a Antropologia. "Como feministas trabalhamos juntas e nisso ela ajudou muito o presidente Fernando Henrique Cardoso a ter uma outra visão e conseguiu inovar a atuação da primeira-dama, título que não apreciava. "Ela não gostava desse nome, mas ela conseguiu inovar e ser uma primeira-dama extremamente competente para o Brasil", disse Marta. Foi "uma perda porque ela pensava grande. Era uma pessoa, muito equilibrada, muito gentil". Sua influência política sobre o Fernando Henrique era "maior do que as pessoas talvez imaginassem. Ela era, dos dois , a mais progressista", ressaltou Marta. O ex-ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, considera que Ruth Cardoso "revolucionou a política social do País". Amigo da família Cardoso, o ex-ministro foi um dos primeiros a receber a notícia da morte de Ruth Cardoso. Doutora em antropologia pela Universidade de São Paulo, Ruth Cardoso, estudou na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos (EUA) e foi professora. Lecionou na faculdade de Filosofia, Ciências, Letras e Ciências Humanas da USP e das Universidade do Chile, Maison des Sciences de L¿Homme (França) e Universidades de Columbia e Berkeley (Estados Unidos). Casada com o sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com quem teve três filhos, Ruth Cardoso faleceu às 20h40 do dia 24 em consequência de arritmia cardíaca. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(