Título: Pessimismo com tendência da inflação amplia alta dos juros
Autor: Góes, Ana Cristina
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/06/2008, Finanças, p. B2

São Paulo, 27 de Junho de 2008 - A conjunção do pessimismo do mercado com um pacote de notícias corporativas decepcionantes derrubaram as bolsas européias e norte-americanas e espalharam o mau humor no pregão doméstico, levando a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a devolver os ganhos registrados na quarta-feira e ditando alta nos contratos de juros futuros negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Nem o dólar comercial, que na quarta-feira rompeu a barreira psicológica de R$ 1,60, escapou ileso do clima negativo do mercado. A divisa norte-americana acabou o dia com alta de 0,75%, cotada a R$ 1,604 na venda e R$ 1,602 na compra. Na esteira de Wall Street, a Bovespa despencou 2,89% para 63.946 pontos. O giro financeiro somou R$ 6,7 bilhões. Nas bolsas européias o dia começou ruim, com o mercado repercutindo as declarações do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, de que deve elevar a taxa básica de juros em breve. O clima no pregão em Wall Street não poderia ser diferente. A notícia de que o banco de investimentos Goldman Sachs prevê novas baixas contábeis para o Citigroup e o Merrill Lynch devido à crise no crédito nos Estados Unidos somada ao discurso do vice-presidente do Fed, Donald Kohn, reiterando as preocupações com a inflação e a nova disparada no preço do barril do petróleo - a commodity avançou 3,7% para US$ 139,59 - fizeram as bolsas norte-americanas mergulharem no vermelho e encerrarem com desvalorização de cerca de 3%. O índice Dow Jones fechou em baixa de 3,03%, menor nível em 21 meses, o índice SP& 500 caiu 2,94% e a bolsa eletrônica Nasdaq retrocedeu 3,33%. O petróleo registrou uma nova disparada nos preços após a Líbia acenar com a possibilidade de cortar a produção e uma autoridade da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) afirmar que a commodity pode atingir US$ 170 durante o verão do hemisfério norte. "A grande preocupação é o dia em que o petróleo arrebentar a bolsa de Nova York", alerta o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Sobre o desempenho de ontem dos mercados norte-americanos, Gonçalves afirma que já era esperado. "A reação era previs´´ivel. A decisão do Fed de manter os juros em 2% sinalizou que o dólar vai continuar fraco por mais um tempo e disparou o preço do petróleo", avalia Gonçalves. "Por outro lado a inflação em alta gera dúvidas em relação aos bancos fazendo as ações do setor caírem", diz No mercado de juros futuros negociados na BM&F, os contratos encerraram a sessão de ontem com forte alta, em resposta ao cenário externo ruim e ao anúncio de que a taxa de desemprego medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) caiu para 7,9¨% em maio, ante 8,5%. A queda no desemprego foi superior às expectativas do mercado de 8,3% e reforça as preocupações em torno do rumo da taxa básica de juros (Selic), visto que o desemprego menor pressiona a já aquecida demanda interna. O mercado digere o relatório trimestral de inflação, divulgado na quarta-feira. "O relatório veio muito em linha com a ata. O mercado achou que o tom poderia ser mais duro . A percepção é que o ciclo de alta nos juros não tem mais prazo para acabar", afirmou o gerente de renda fixa do Banco Prosper, Carlos Cintra. O DI de janeiro de 2010, o mais negociado , apontou taxa anual de 14,96%, contra 14,79% do ajuste anterior. O dólar fechou em R$ 1,604 na venda, com alta de 0,75%. A aversão ao risco puxa a discreta recuperação da moeda. "O dólar deve oscilar, mas a tendência é de baixa. O BC não tem força para conter a queda do dólar", diz o analista da corretora Alpes, Fausto Gouveia.