Título: Disputa entre ACM e Bornhausen causa convulsão no PFL
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/09/2004, Política, p. A-11

O PFL está em convulsão interna após o pedido de expulsão do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), feito na terça pelo deputado Ônyx Lorenzoni (PFL-RS). Aliados de ACM começaram a circular um baixo-assinado de apoio ao senador baiano. O presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), considerou o documento uma afronta e ameaçou deixar a legenda caso a idéia prospere. Preocupados em evitar que o partido sangre ainda mais, bombeiros passaram o dia tentando diminuir a altura das chamas que consomem a legenda.

"O futuro é imprevisível. Existem pessoas hábeis que estão, a meu pedido, buscando um milagre para atravessarmos essa crise", definiu o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).

Na noite de terça, mesmo dia do pedido de expulsão de ACM, a cúpula pefelista jantou no restaurante Piantella, em Brasília, tradicional ponto de costuras políticas da capital. A avaliação feita era de que o encontro de um grupo de senadores do PFL com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi inoportuno e, por ser em plena campanha, seria inevitável a utilização eleitoral do encontro.

"Se o presidente Lula quisesse jantar com o PFL, convidasse todos. Houve um grupo convidado que foi, outro convidado que não foi e outro que nem convidado foi, como eu", resumiu o vice-presidente da legenda, senador José Jorge (PFL-PE).

Mas o comando pefelista também concluiu que o erro não seria suficiente para expulsar ACM, o que agravaria ainda mais a crise interna. Na manhã de ontem, nova reunião, desta vez com a presença do senador César Borges (PFL-BA), um dos convivas do presidente Lula. Foi neste encontro que surgiu a idéia da lista de apoio que contaria, segundo aliados de ACM, com a assinatura da maioria dos deputados e senadores.

"Isso é uma afronta, eu não aceito. Se essa idéia prosperar, eu deixo o partido logo após as eleições", esbravejou Bornhausen, antes de seguir para Santa Catarina, onde participaria de eventos de campanha.

Apesar do arroubo verbal, aliados de Bornhausen lembram que ele também ameaçou deixar a presidência do partido durante as últimas eleições internas. Só foi reeleito por absoluta falta de candidatos para disputa. O senador Demóstenes Torres (PFL-GO) resumiu bem a encruzilhada vivida pelo PFL. "Tanto ACM, como Bornhausen, são ícones do PFL, têm uma história partidária".

Em seu primeiro mandato no Senado, Demóstenes prefere adotar o discurso judiciário, defendendo que se "dê tempo ao tempo". Segundo ele, o ideal é que o desfecho do procedimento seja adiado, para que o processo possa ser analisado com a cabeça mais fria. "A participação no jantar não é suficiente para expulsarmos Antônio Carlos Magalhães. Mas também não podemos diminuir a autoridade do presidente Bornhausen", alegou.

O relator do processo, deputado Eduardo Sciarra (PR), refugiou-se no estado e não deu entrevistas. Para César Borges, a expectativa é de que o pedido de expulsão seja arquivado por falta de embasamento. Borges nega que a intenção seja divulgar, neste momento, qualquer carta de apoio a ACM. "Isso será o último recurso, só se for necessário. Até porque esse medida é arriscada", declarou.

Na avaliação do grupo, a divulgação do documento apenas evidenciaria uma disputa de poder pela legenda. Além de medir a força de cada um dos lados, ainda colocaria em evidência os apoios de cada um. Aliados de Bornhausen, contudo, não vêem as coisas da mesma maneira.

"O Demóstenes assinou este documento mas disse que, se o processo for até o final, votará de acordo com a orientação do partido. O que está em discussão não é a preservação de Antônio Carlos Magalhães, mas a unidade do PFL", resumiu Agripino.

kicker: Encontro com o presidente Lula precipitou um pedido de expulsão do senador baiano