Título: Presidentes mostram discurso afinado
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/09/2004, Internacional, p. A-12

Venezuela defendem a criação de uma aliança comercial, política e econômica entre os países da América do Sul. Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Venezuela, Hugo Chávez, mostraram um discurso afinado durante o encerramento do V Encontro Empresarial Brasil-Venezuela, ontem, em Manaus, sobre a necessidade de se reduzir entraves burocráticos para ampliar o comercio entre os dois países.

O presidente Lula da Silva abriu seu discurso parabenizando o povo venezuelano pela "consolidação da democracia ", ao confirmar a permanência de Chávez no comando do país, num referendo realizado em agosto. "Que ninguém coloque em dúvida a lisura desse processo, que foi conduzido de forma honesta e justa. Podemos afirmar que há democracia de verdade na Venezuela", disse. Chávez agradeceu o apoio de Lula.

Comércio

O presidente brasileiro lembrou ter sido criticado há dois anos, quando afirmou ser amigo de Chávez, em meio à delicada situação política no país vizinho. "Não tenho medo de investir na Venezuela. Espero que os empresários venezuelanos não tenham medo de investir aqui", afirmou. "Há potencial para trocas tecnológicas, comerciais e técnicas para fortalecer as empresas dos dois países".

Lula defendeu a criação de alianças estratégicas com a Venezuela, de forma a intensificar o comércio entre os dois países. De acordo com o presidente, os negócios bilaterais deverão movimentar US$ 2 bilhões neste ano. Em 2005, o valor deve chegar a US$ 2,5 bilhões.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, ressaltou que o comércio entre Brasil e Venezuela nos primeiros oito meses do ano ultrapassou todo o montante negociado durante todo o ano de 2003. "Além disso, cresceu em 45% o número de empresas que promovem o comércio bilateral", afirmou, dizendo que esse aumento foi igual para todos os lados. Furlan lembrou que a Amazônia foi o motor de crescimento do País nos seis primeiros meses do ano. Citou os investimentos feitos a partir do Brasil, em uma montadora de veículos na Venezuela , que deverá utilizar até 60% de autopeças produzidas naquele país.

Faltam investimentos

O ministro disse ainda que faltam investimentos na área rodoviária para incrementar o comercio entre os países e flexibilizar as exigências sanitárias e alfandegárias. Durante o encontro, foram assinados diversos compromissos de investimentos, como o da Companhia Vale do Rio Doce e da Corporación de Desarrollo de la Región Zulia para a exploração de carvão mineral na Venezuela. Entretanto, esse investimento já havia sido acordado durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso.

"Em 2003, trabalhamos para nos recuperar , e agora, em 2004, vemos sinais claros de que entramos em um novo ciclo da economia. Decisões como a associação da Venezuela ao Mercosul e os sinais de recuperação econômica que vemos nos dois países dão alento às aspirações de se proporcionar melhores condições de vida para nossas populações", disse Lula da Silva. O presidente afirmou que essas alianças devem ser discutidas em uma macro-rodada de negócios bilateral em novembro, nas Islas Margaritas.

O presidente sugeriu uma ampla conversa com o país vizinho para retirar os entraves técnicos, legais e burocráticos que prejudicam o comércio bilateral. "Acordos assinados há 10 anos ainda permanecem como meros protocolos de intenções e não devem se converter em projetos de verdade. Com a Venezuela, iremos além de um simples tratado. É de mútuo interesse a definição de um pensamento estratégico para a população, para que possamos consolidar a integração regional nos âmbitos político, social e econômico."

Ataques à burocracia

Chávez também atacou a burocracia. "Há quem diga que um cargo público não é algo perigoso. Não concordo. Afinal, algum cidadão pode abrir a porta da repartição", disse. "Nosso inimigo não é a CIA, nem o Pentágono, é a burocracia. Há muita gente dentro do governo especialista em fechar as portas", completou.

O presidente venezuelano propôs a discussão, em toda a América do Sul, de revisão das leis que regulamentam o comércio entre os países e o combate à "atrofia" que impede que a região tenha uma identidade própria. Chávez voltou a defender a formação de uma empresa petrolífera sul-americana e a criação de um canal de televisão que tenha abrangência nesses países.