Título: Chávez quer uma aliança militar
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/09/2004, Internacional, p. A-12

Presidente venezuelano defendeu a idéia, para proteger a Amazônia, no encontro com Lula. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, voltou a defender a criação de uma aliança militar com o objetivo de "proteger a soberania" da América do Sul. "É um novo fator geopolítico para o mundo", afirmou ontem, em Manaus, onde participou do encerramento do V Encontro empresarial Brasil-Venezuela. "Eu e o presidente Lula voltamos a discutir a criação de uma Organização do Tratado do Atlântico Sul (Otas) para contrapor o ponto de vista da região, frente às forças do Norte". A elaboração da Otas, de acordo com Chávez, foi mencionada há meses, durante a reunião de chefes de Estado sul-americanos em Buenos Aires. De acordo com Chávez, há conversas preliminares para a formatação da aliança.

"O império do Norte quer tomar a Amazônia de nós. Cabe à América do Sul criar mecanismos de defesa da biodiversidade. A Amazônia não é minha nem do presidente Lula. É de todo o povo. Há 200 anos, Bolívar disse que o dia da América do Sul ainda não havia chegado. Creio que ainda teremos essa chance de dizer que nosso dia chegou", disse.

Segundo o presidente venezuelano, a aliança militar deverá fazer parte de um amplo tratado de integração política, social, energética e econômica entre os países do Cone Sul. "Temos de tratar com sensiblidade os problemas regionais, como financiar o desenvolvimento e solucionar problemas de saúde pública. Não acho certo deixar nas mãos do neoliberalismo a solução dos problemas: o mercado não vai resolver nada. Não podemos deixar que a economia mande na política

Sobre o petróleo, afirmou que a Venezuela não deve reduzir sua produção diária, para se adequar ao acordado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que, com essa medida, alega que pode regular o preço do barril no mercado internacional. "Há uma superoferta de petróleo no mundo e não é culpa da Opep se a cotação superou os US$ 40. A culpa é dos EUA, com seus ataques ao Iraque", disse. De acordo com Chávez, o preço "sensato" para o barril é cerca de US$ 30.

De acordo com o ministro brasileiro das relações exteriores, Celso Amorim, o primeiro encontro do presidente Hugo Chávez com Lula após o referendo foi marcado pela discussão de formas de fortalecer o a cooperação bilateral. Entre as áreas mais discutidas figuravam energia, proteção da biodiversidade, comércio exterior e cooperação militar para proteção da Amazônia. "Também há a possibilidade de a Venezuela ingressar no fundo de combate à pobreza formado por Brasil, Índia e China, o que devemos discutir no próximo dia 20 em nova York", afirmou.

Entretanto, o chanceler negou que Lula e Chávez tenham discutido a criação de um tratado amplo de cooperação militar na América do Sul. Amorim também disse que outro ponto de discussão é a integração da Venezuela no Mercosul e a participação do país em missões de ajuda humanitária da ONU. A cooperação militar entre os países deverá ser discutida em reunião que deverá se realizada em outubro.