Título: Produção industrial recua 0,5% entre abril e maio
Autor: Saito, Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/07/2008, Nacional, p. A7

São Paulo, 2 de Julho de 2008 - Após dois meses consecutivos de crescimento, a produção industrial caiu 0,5% em maio na comparação com abril, na série livre de influências sazonais. Em relação ao mesmo período do ano passado, a indústria mantém ainda desempenho positivo, com expansão de 2,4%, mas em ritmo inferior ao registrado no mês anterior, quando cresceu 10%. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para a economista-chefe do banco Real, Zeina Latif, a queda da produção em maio em relação a abril confirma o quadro de acomodação da indústria que vem se desenhando desde novembro do ano passado. Segundo ela, em 2007, a média de crescimento mensal do foi de 0,8% e hoje está próxima de zero. "A produção industrial está andando de lado", diz. Na avaliação da economista, essa acomodação não é apenas transitória. A expectativa é que o setor industrial cresça 4,6% neste ano, ante expansão de 6% em 2007. O índice de atividade industrial PMI, divulgado ontem pelo banco, mostra que o processo de desaceleração continua em junho. Entre maio e o mês passado, o indicador, que diversos dados como produção, estoque e emprego, caiu de 53,5 para 52,1. Um resultado abaixo de 50 indica queda na economia industrial, acima de 50, expansão, e igual a 50, ausência de mudanças. "Um fator importante é o enfraquecimento do setor externo. Estados Unidos e Argentina, principais parceiros comerciais do Brasil, estão passando por dificuldades", comenta. Zeina Latif acrescenta ainda que as empresas estão enfrentando um cenário de alta dos preços de insumos e a maior parte não tem conseguido repassar o aumento de custos aos clientes. "Não existe intenção de aumentar estoques", afirma a economista, relacionando o fato à elevação da taxa de juros e ao aumento nos preço de insumos. O economista André Macedo, da coordenação de indústria do IBGE, destaca que os dados de maio do instituto foram mais uma vez influenciados pelo efeito do calendário. Em abril deste ano, o maior número de dias úteis ajudou a inflar o crescimento em relação a igual mês de 2007. Já em maio de 2008 a indústria contou com menos dois dias de trabalho. "Além disso, em maio do ano passado, houve uma aceleração do ritmo industrial. A base de comparação é elevada", comenta o avalia. Em junho, diz, o calendário deve ser mais favorável em relação ao mês anterior, com um dia útil a mais. Segundo Macedo, alta de 0,1% na média móvel trimestral até maio em relação ao trimestre encerrado abril mostra estabilidade da produção industrial em patamares elevados. "Ainda não se configurou uma tendência de desaceleração. Precisamos aguardar os próximos resultados", afirma o economista, lembrando que nos próximos meses as bases de comparação serão mais elevadas. O consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, avalia que desde março os dados de produção vêm com "ruídos" devido ao efeito do calendário. "Nos primeiros meses do ano, os economistas temiam um crescimento explosivo da indústria. No frigir dos ovos, o setor cresceu 6,2% entre janeiro e maio, mesmo patamar do ano passado. A temida aceleração, um dos fatores para o início da elevação de juros, não aconteceu", afirma. De acordo com Macedo, do IBGE, os setores de bens de capital e de bens de consumo duráveis continuam liderando o crescimento industrial no acumulado do ano. Com expansão dos investimentos, o setor de bens de capital apresentou aumento de 16,3% na produção entre janeiro e maio. A categoria bens de consumo duráveis avançou 13,7%, impulsionada ainda pelo crédito. No mesmo período de comparação, 20 das 27 atividades apresentaram crescimento, com destaque para veículos automotores (18,2%), máquinas e equipamentos (10,4%), outros equipamentos de transporte (31,9%) e metalurgia básica (7,1%). Inflação e câmbio Por outro lado, o consultor do Iedi alerta para o fraco desempenho da categoria bens de consumo semiduráveis e não duráveis, que cresceu 1,8% no acumulado, bem abaixo da média de 6,2% da indústria. Segundo Gomes de Almeida, esse setor, que engloba atividades como o de alimentos, bebidas e calçados, é responsável por 40% do emprego industrial. "Há duas preocupações. A primeira é se essa indústria não está sofrendo as conseqüências da inflação, sobretudo de alimentos. A outra está relacionada à perda de competitividade diante dos importados, devido à valorização do real. Isso aconteceu no início do ano passado", explica. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)()