Título: As alternativas na geração de energia
Autor: Saad, Miguel Normando Abdalla
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/07/2008, Opiniao, p. A3

3 de Julho de 2008 - O Brasil possui hoje excepcionais condições para investimentos em infra-estrutura. Economia estável, diminuição de riscos nos investimentos, aquecimento dos negócios, inflação sob controle e aumento de renda da população. Esse conjunto de fatores macroeconômicos estimula o interesse de investidores privados e governamentais. Essa onda de crescimento demanda uma resposta, de mesma intensidade, na disponibilização de projetos de infra-estrutura, sejam eles em novas rodovias, portos, transportes, siderurgia, construção civil e principalmente energia. Considerando um crescimento de 5% do consumo de energia elétrica no Brasil, vamos precisar anualmente de 3 mil MW médios, o que representa uma potência instalada hidrelétrica de aproximadamente 6 mil MW, quase meia usina hidrelétrica como Itaipu ou todo o conjunto do complexo Madeira. Em recursos financeiros, isso demandaria aproximadamente R$ 20 bilhões. Diferentemente de outros cenários, hoje faltam projetos de novos empreendimentos hidrelétricos para aumento da oferta de energia elétrica. Os recursos financeiros, escassos vinte anos atrás, não se configuram mais como um problema a ser considerado. Uma das barreiras a serem enfrentada com responsabilidade nesse processo é a questão dos prazos para obtenção das licenças ambientais. É evidente que se deve buscar uma redução nesses prazos sem comprometer a qualidade do trabalho dos órgãos licenciadores e sem prejudicar o meio ambiente. Esse é hoje um dos maiores entraves para o desenvolvimento da infra-estrutura. O Brasil tem hoje um potencial hidrelétrico de aproximadamente 200 mil MW de potência instalada, mas ambientalmente viável, essa projeção cai para metade. Há que se considerarem as áreas alagadas, a remoção das populações ribeirinhas, as áreas com demarcação indígena, a flora nativa e os animais que precisam ser capturados, protegidos e deslocados de seu habitat. Além da carência de grandes projetos, exceção às usinas do rio Madeira - Santo Antônio e Jirau, que devem estar em funcionamento nos próximos sete anos -, existem projetos licitados há mais de seis anos que não obtiveram licença ambiental e que estão com os seus cronogramas atrasados. Obviamente a questão ambiental não é a única responsável pela falta de projetos. Durante muito tempo não foram feitos investimentos em estudos de inventário de rios e estudos de viabilidade de novas usinas e esse talvez seja o principal fator da inexistência de projetos para serem disputados pelos investidores nos leilões de energia nova programados para este ano. Como faltam projetos hidrelétricos, a alternativa que vem ganhando corpo é a de usinas termelétricas. O Brasil precisa de usinas termelétricas, pois é necessário diversificar a matriz energética para minimizar o risco hidrológico de anos em que chove pouco ou mesmo atraso do início do período de chuvas como ocorreu no primeiro bimestre deste ano. Porém o custo da energia termelétrica para o consumidor é mais alto e, por isso, o Brasil não pode prescindir de bons projetos de usinas hidrelétricas cujo custo da energia é menor. Outra alternativa que vem ganhando corpo é o aproveitamento de Pequenas Centrais Hidrelétricas, que geralmente envolvem menos impactos ambientais. Se, individualmente, esses projetos podem representar pouco acréscimo à oferta de energia elétrica, em seu conjunto significam uma importante solução para o País. Mesmo que seus licenciamentos ambientais sejam tão rigorosos como os enfrentados pelos grandes empreendimentos de geração. Os próximos leilões de energia nova, os denominados A-5 e A-3 que acontecerão em agosto, basicamente contarão com a energia proveniente de usinas termelétricas, sendo cerca de 70% tendo como combustível o óleo, mais caro e com maior impacto ambiental. Nesses leilões, a participação de usinas hidrelétricas será de só 1%. Em termos de capital para fazer frente a esses investimentos, o Brasil não deve ter problemas, pois as empresas privadas têm disponibilidade para isso e o BNDES oferece financiamentos de longo prazo a custo atrativo. Além disso, com o grau de investimento obtido pelo Brasil, haverá certamente aumento de oferta de dinheiro para financiamento de infra-estrutura. Recursos que obviamente serão direcionados para o aumento do parque gerador brasileiro para fazer frente à alavancagem do desenvolvimento, de forma sustentável e responsável. Colocando irremediável e felizmente o Brasil no caminho do crescimento. kicker: Diversamente de outras épocas, faltam projetos para a área hidrelétrica