Título: PNBE chega à maioridade com perfil discreto e novas bandeiras
Autor: Assis, Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/07/2008, Nacional, p. A6

São Paulo, 3 de Julho de 2008 - Vítima do sucesso de suas propostas de democratização das relações entre empresas e trabalhadores, cidadania e sustentabilidade e da concentração de lideranças com brilho próprio, o Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) encolheu. A entidade não-governamental atinge a maioridade com um perfil discreto e sem queixas em relação a seu papel de "encubadora de movimentos", na definição de seu presidente, Mario Ernesto Humberg. A sociedade brasileira incorporou as propostas do movimento que buscou novas bandeiras, como as das reformas tributária e política para conduzir o País a uma sociedade justa, democrática, ética e sustentável. "Decidimos que nossa preocupação é lançar idéias que ajudem o País, e não ser donos delas. É um pouco diferente da maior parte dos movimentos. Nós ficamos contentes que os outros roubem as idéias porque a nossa proposta é melhorar o País, não ter vantagens ou projeção pessoal com isso". No seu auge, o PNBE tinha 400 integrantes, escritórios em Ribeirão Preto (SP), São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Este quadro foi reduzido à metade por conta de divergências em relação à representatividade empresarial, vôos-solo de seus principais dirigentes e rachas internos. Várias de suas propostas também foram incorporadas pela sociedade civil e deram origem a entidades como o Instituto Ethos, Transparência Brasil, Minha Rua Minha Casa, e ao Instituto São Paulo Contra a Violência, que criou o Disque-Denúncia. Na época havia uma insatisfação de jovens empresários com a forma como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) era conduzida, conta Humberg. Os empresários queriam mais independência e consideravam a Fiesp muito ligada ao governo e em constante posição de confronto com os sindicatos. Contrariando as expectativas da Fiesp, o encontro realizado há 21 anos, no início de junho de 1987, reuniu mais de 2,5 mil empresários no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo. O grupo conseguiu convencer Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro da Fazenda do governo de José Sarney, a participar do debate sobre o cenário econômico e sobre propostas para a Assembléia Nacional Constituinte. Na linha de frente, vários líderes empresariais como Paulo Butori, atual presidente do Sindipeças, Oded Grajew, do Instituto Ethos, Emerson Kapaz, ex-deputado federal e ex-dirigente do Transparência Brasil, Luiz Carlos Delben Leite, ex-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e Joseph Couri, presidente do Sindicado da Micro e Pequena Indústria (Simpi), entre outros. O processo de sucessão na Fiesp provocou as primeiras baixas no PNBE. Emerson Kapaz lançou uma chapa para concorrer com o empresário Carlos Eduardo Moreira Ferreira à presidência da Fiesp. Integrantes do movimento como os empresários Adauto Ponte e Mario Bernardini aceitaram participar da chapa de Ferreira por acreditar que seria possível mudar a entidade e promover as transformações de dentro para fora. "Quem foi para a chapa de Moreira Ferreira se desligou do movimento", diz Humberg. "Houve um racha no PNBE". Para Humberg, os objetivos iniciais, apesar das turbulências, foram alcançados. "O PNBE se dedicou muito à questão trabalhista no início". Alguns integrantes do movimento, com Oded Grajew à frente, e líderes sindicais como Jair Meneghelli, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, foram a Israel para ver os resultados do pacto social estabelecido no País, a exemplo do que ocorrera na Espanha, onde trabalhadores e governo se uniram para encontrar soluções para a crise econômica. Houve também uma mudança significativa na Fiesp. A entidade começou a divergir do governo com alguma freqüência e os sindicalistas passaram a freqüentar os debates na entidade. "Não era mais uma briga, não eram mais inimigos", comenta Humberg. "Esse papel do PNBE inicial desapareceu porque todo mundo passou a adotar esta postura", afirma. "As idéias nascem aqui e crescem na sociedade. Isso aqui acabou virando uma encubadora de idéias e associações", diz Sylvaih Kerubaum, diretor do PNBE e empresário do ramo editorial. O arejamento que ex-integrantes do PNBE levaram à Fiesp fez com que o movimento desse uma guinada nos anos 90. A questão da ética na política tornou-se a bandeira no período em que o País era presidido por Fernando Collor de Mello. Esta vertente deu origem a várias associações e organizações. Outra proposta, da busca da cidadania, é hoje compreendida e faz parte da visão da sociedade. "O próprio Partido dos Trabalhadores (PT) criou o Instituto da Cidadania. Deixou de ser uma bandeira exclusiva do PNBE", diz Humberg. A colisão com processos eleitorais voltou a produzir estragos no PNBE durante a campanha do PT à Presidência da República. "O movimento era talvez a única entidade que tinha uma participação de empresários favoráveis ao Partido dos Trabalhadores", afirma Humberg. Parte dos associados considerou importante participar do governo e da política partidária, uma atitude que contrariava os princípios do PNBE. "Houve uma discussão interna, acabou criando um desgaste", comenta Humberg. Cerca de 40% dos empresários deixaram o movimento neste período. Foi criada também a Associação de Empresários pela Cidadania (Cives), uma entidade paralela ao PT. A Cives inicialmente foi dirigida por Grajew, que também fez parte da primeira equipe do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O empresário Emerson Kapaz escolheu a via político-partidária e se elegeu deputado federal em 1998. No início, as reuniões eram feitas na sede da Natura, na rua Bela Cintra, na região dos Jardins, em São Paulo. Luiz Seabra e Guilherme Peirão Leal, co-presidentes da Natura, eram participantes ativos do PNBE, informa Humberg. "Na hora de consolidar a associação, nem todos ficaram", comenta. Os empresários que tinham lideranças consolidadas em seus setores preferiram se concentrar em suas entidades de origem. "De certa maneira fomos vítimas de nossas próprias criações, mas nos conformamos com essa posição", diz Humberg, que apresentou ao ex-ministro Luiz Gushiken o projeto Brasil 2022, com propostas para o futuro do País e viu em seguida o governo lançar o Brasil 2020, que depois foi rebatizado com o nome original. A defesa da ética na política é outro componente complicado do ponto de vista empresarial e dificulta a entrada de novos membros, que temem perder contratos com o governo. A falta de remuneração também é outro impeditivo. "Nós temos uma certa limitação para conseguir quem trabalhe de graça", afirma. Do número recorde de 400 associados, o PNBE conta atualmente com cerca de 200 e apenas uma sede em São Paulo. Este encolhimento é um fenômeno que afeta diversas entidades no Brasil e no exterior. "Na Anistia Internacional acontece a mesma coisa", afirma Kerubaum. Para Humberg, "desapareceu o impulso da juventude para mudar o mundo".