Título: Oposição acredita que sócio brasileiro é peça chave do caso
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/07/2008, Politica, p. A9
Brasília, 3 de Julho de 2008 - Sem muito alarde, as denúncias de que a cúpula do governo interferiu na venda da Varig a favor do fundo norte-americano de investimento Matlin Patterson voltam hoje à pauta de discussões do Senado. Os integrantes da Comissão de Infra-Estrutura ouvem o empresário Marco Antônio Audi, um dos três sócios brasileiros que se associou ao fundo para comprar a VarigLog e, posteriormente, a Varig. Também está marcado o depoimento do deputado estadual do Rio, Paulo Ramos (PDT). O parlamentar presidiu a CPI da Assembléia Legislativa do Rio que investigou a venda da companhia aérea. Audi fez exigências para comparecer ao Senado. Pediu para falar por pelo menos uma hora e meia sem ser interrompido pelos parlamentares. Pretende apresentar um resumo de todos os aspectos relativos aos três ex-sócios do fundo - os outros sócios são Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel e não devem comparecer na audiência. Os senadores que compõem a base governista e da oposição são cautelosos ao tratar do caso. Avaliam que as acusações da ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, de que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, teria pedido para que o órgão regulador não verificasse se os brasileiros teriam condições financeiras para participar da negociação e emitisse aval para a venda da Varig. Na comissão, Audi deve relevar detalhes de como a Volo do Brasil, sociedade que se formou para comprar a VarigLog, pagou os mais de US$ 5 milhões pela atuação no processo do advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Audi já revelou que pelo menos oito empresas da sociedade foram inseridas nas transações e fizeram pagamentos periódicos, sem valores fixos na conta corrente do escritório de Roberto Teixeira. Para o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), Audi é peça chave dessa investigação e será decisivo para a definição dos próximos passos da investigação. Na audiência do mês passado, Agripino pediu o cancelamento do depoimento de Teixeira alegando que a ausência dos três sócios brasileiros deixaria os esclarecimentos do compadre de Lula sem valor. Desta vez, quem não deve comparecer é Teixeira. "Vamos esperar o que ele (Audi) tem a dizer. Não vamos fazer um circo em cima do depoimento. Se houver fatos novos, que responsabilizem este ou aquele vamos tomar as medidas cabíveis", diz Agripino Maia. Os parlamentares de oposição também lança esperanças quanto ao depoimento do deputado fluminense Paulo Ramos (PDT). O relatório da CPI da Alerj que investigou o caso afirma entre outros pontos que há sinais de que a VarigLog foi beneficiada no processo de compra da Varig em leilão, em julho de 2006. Uma das evidências citadas no texto é o adiantamento de US$ 20 milhões pelo representante do Matlin Patterson no Brasil, Lap Chan, para impedir que a empresa falisse. Na prática, na época, antes do leilão, Chan chegou a fazer vários adiantamentos com base em recebíveis, que são vendas de passagens com cartão de crédito. O relatório da CPI da Alerj, produzido pelo deputado estadual Paulo Melo (PMDB), afirma que é essencial a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico dos empresários brasileiros da VarigLog com a justificativa de que eles não têm "tradição" no setor e que a estrutura societária constatada tinha preponderância significativa de pessoas jurídicas ou naturais estrangeiras na sua composição. Os governistas, no entanto, não se abalam com os depoimentos e dizem considerar o depoimento e as suspeitas da ex-diretora da Anac sem fundamento. "É um assunto encerrado", sentenciou a líder do PT, Ideli Salvatti (SC). Para os líderes alinhados com o Palácio do Planalto, o assunto ganhou um tom político e não se sustentou. "Não tem porque levarmos esta investigação adiante", completou.