Título: Dívida dos EUA cai de estável para negativa
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Fonte: Correio Braziliense, 25/04/2011, Opinião, p. 10

Jamais esteve nas previsões de entidades habituadas a operar certos sismógrafos, para identificar tremores na economia, que os Estados Unidos chegariam, em algum momento, a apresentar nível de insegurança a investimentos. Nem mesmo ao correr da crise mundial, desatada em setembro de 2008 pela insensatez delituosa de Wall Street, a hipótese foi cogitada. Houve, portanto, inevitáveis espanto e perplexidade quando, dia 18, a agência de classificação de risco Standard and Poor¿s (S&P) rebaixou de ¿estável para negativa¿ a perspectiva da dívida soberana dos EUA.

A avaliação, que tem a dimensão de advertência, tomou como fundamento o alto patamar do deficit orçamentário e o elevado endividamento do Tesouro. O país permanece favorecido com a nota AAA, o maior nível no grau de investimento. Traduz-se a análise da S&P como alerta de que o rebaixamento será conclusivo caso a Casa Branca não tome medidas eficazes para mudar o cenário no prazo de seis meses a dois anos. Entre várias, figura em posição prioritária a efetivação de ajuste fiscal severo, a fim de promover adequado equilíbrio nas contas públicas.

Em seguida ao anúncio da Standard, as cotações nas principais bolsas de valores do mundo sofreram baixas fortes, inclusive a de São Paulo. Todavia, o desânimo cedeu ao reconhecimento de que não havia motivo para pânico. Afinal, a divisa norte-americana, o dólar, está longe de ser substituída como moeda de referência nas operações financeiras e do comércio mundiais. Mas restou preocupação quanto ao poder político do presidente Barack Obama para obter do Congresso aprovação ao plano destinado a reduzir a dívida pública e o descontrole orçamentário.

Em outubro do ano passado, Obama emitiu US$ 500 bilhões a fim de aumentar a liquidez do sistema financeiro, esquentar a economia e ampliar o mercado de trabalho. Agora, propõe ao Legislativo cortar as despesas públicas em R$ 4 trilhões nos próximos 12 anos e diminuir os impostos das classes menos remuneradas. Os republicanos pleiteam o mesmo ajuste fiscal, mas em 10 anos, e diminuição dos tributos para os ricos, entre outras medidas opostas às abraçadas pelos democratas.

Por trás do conflito, se estende a disputa pela sucessão presidencial. Ao declarar-se candidato à reeleição em 2012, o atual inquilino da Casa Branca lançou combustível ao contraditório político nas duas casas do Legislativo. Mas, à frente da discórdia, distorções graves na gestão governamental urgem ser removidas, a principal a dívida pública de US$ 14,260 trilhões. Nada menos do que 90% do Produto Interno Bruto (PIB). Quarto maior investidor em títulos da dívida pública norte-americana, o Brasil necessita ficar mais atento ao panorama político-econômico dos EUA.