Título: Lula convoca o País a plantar o que puder
Autor: Staviski, Norberto
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/07/2008, Agronegocio, p. C9

Curitiba, 3 de Julho de 2008 - Na expectativa de alcançar uma produção 5% maior no campo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem na capital paranaense o Plano Agrícola e Pecuário 2008/2009 (PAP), que prevê volume de crédito de R$ 78 bilhões, o que representa um incremento de R$ 8 bilhões em relação ao total liberado na safra 2007/2008. Para o Plano Agrícola de Agricultura Empresarial, segundo foi anunciado, serão destinados R$ 65 bilhões. Para o plano para a Agricultura Familiar, que será detalhado hoje em Brasília, serão outros R$ 13 bilhões. Esta foi a primeira vez que o PAP foi lançado fora de Brasília. Num auditório com mais de 1,3 mil pessoas, formado quase todo por lideranças da área rural e produtores, Lula disse que a renegociação que está sendo planejada para as dívidas agrícolas irá "desbloquear a agricultura brasileira para que ela possa ser muito mais produtiva. Há muitas dívidas impagáveis e incompatíveis com o valor principal", disse. A Medida Provisória 432, que irá regularizar o endividamento do setor e está no Congresso, prevê algum tipo de benefício para R$ 72 bilhões de um total de R$ 87,5 bilhões em débitos do setor rural. Lula lembrou que o valor da dívida foi elevado entre 10% ou 20% devido à incidência de juros e mora sobre o valor principal. "Se nós quisermos receber temos que dar condições de as pessoas pagarem. Não adianta ficar castigando a vida inteira se não vai receber", afirmou. Preocupado com o peso dos preços dos alimentos na inflação, o presidente disse que está interessando em descobrir até que ponto a especulação é responsável por isso: "Nós saímos de R$13 bilhões para R$ 260 bilhões de compras no mercado futuro de alimentos, e até pedi para que o Ministro da Fazenda juntasse uma equipe de pessoas, chamasse o Reinhold Stephanes, para a gente ver quais os efeitos disso no preço dos produtos hoje", avisou. Sobre o PAP para a agricultura familiar, o presidente disse que entre outras coisas será anunciado financiamento para que 60 mil tratores sejam entregues aos agricultores. "Queremos fazer uma revolução", destacou. Ele quer que os agricultores familiares não se restrinjam à produção de subsistência. "Quando o mundo precisar comer, o Brasil tem que dizer venha comprar porque o Brasil tem para vender", afirmou. "É para plantar o que puder", disse. "Tem que falar para os pequenos que é bom ganhar dinheiro, comprar televisão nova, comprar carro novo, comprar roupa nova para os filhos", acrescentou. "Não está escrito na Bíblia que pequeno tem que ser pobre", ensina. Lula também defendeu a idéia de um plano agrícola para o longo prazo em substituição à política atual, que é anunciada todos os anos. "O que nós queremos, daqui para frente, não é todo ano anunciar um plano. Nós poderemos ter um plano para cinco anos. Na medida em que as regras estão bem estabelecidas, com políticas de seguro e de financiamento, as pessoas já sabem como têm que proceder para plantar", disse. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, por sua vez, destacou que o anúncio do Plano Agrícola e Pecuário 2008/09 não é uma atitude isolada do ministério para apoiar a agricultura. "É um plano de todo governo", afirmou. Ao fazer o primeiro discurso na cerimônia de lançamento, o ministro ressaltou que o governo já anunciou este ano a reestruturação da dívida do setor agrícola, tarefa que "parecia impossível". Dentro do grupo de medidas de apoio ao setor, Stephanes informou que o governo espera aprovar ainda este ano um projeto enviado ao Congresso Nacional que prevê a criação do Fundo de Catástrofe para o setor. Segundo o ministro, outra medida positiva, reivindicada pelo agronegócio, foi a liberação de recursos para a defesa sanitária e o investimento de cerca de R$ 1 bilhão em pesquisa agropecuária. Esses investimentos vão permitir à agricultura brasileira um novo "salto tecnológico", explicou. (Gazeta Mercantil/Caderno C )