Título: Inflação e juros já arrefecem atividade industrial, alega CNI
Autor: Severo; Rivadavia
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/07/2008, Nacional, p. A5

Os efeitos da inflação e da alta nos juros começam a impactar o crescimento da atividade industrial no País. Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para o mês de maio, houve arrefecimento na expansão industrial. "Podemos estar diante de um momento de inflexão na série de crescimento", avalia o economista da entidade Paulo Mol. A atividade industrial vinha registrando forte expansão desde o começo de 2007 e chegou a um pico na virada deste ano. Mas agora, os efeitos para conter o consumo por parte do governo começam a ter reflexo na previsão de investimentos dos empresários do setor. Para os economistas da CNI, os investimentos das grandes indústrias estão dando sinais de acomodação, mas apostam que o crescimento continuará em níveis altos, só que com um ritmo menor no segundo semestre. Renato da Fonseca disse que esse fenômeno está ocorrendo porque os empresários de cada setor conseguem perceber que a demanda pelos seus produtos pode diminuir, pelo reflexo das expectativas em razão da política de elevação dos juros praticada pelo Banco Central e o aumento do superávit primário. Paulo Mol avaliou que a elevação de juros e a maior economia do governo devem continuar enquanto a inflação estiver em alta, o que pode alterar os planos de investimentos em alguns setores, embora reconheça que "é difícil ter um cenário muito claro neste momento conturbado da economia mundial". Faturamento recua Essa tendência de acomodação aparece quando se analisa o faturamento das empresas que teve um crescimento de 7,9% no acumulado do ano, mas de apenas 0,9% em maio em relação ao mês anterior. Em relação ao mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 5,3%. O aumento no faturamento das empresas foi puxado pela produção de automóveis que cresceu 23,8% no acumulado do ano, equipamentos de transportes 21,6% e máquinas e equipamentos que aumentou em 18,4%. A produção de veículos responde sozinha por 34% desse incremento nos ganhos da indústria. O aumento do emprego ocorreu nos mesmos setores que tiveram crescimento de faturamento. No acumulado do ano o incremento é de 4,5%, mas em maio o incremento foi tímido, de 0,7%. Os segmentos que mais contribuíram foram Alimentos e Bebidas que responde por 25% desse total, Máquinas e Equipamentos que foi responsável por 23% do aumento e a produção de automóveis que tem 16% dessa fatia. A mesma coisa aconteceu com a Massa Salarial que cresceu 5,6% entre as médias dos cinco primeiros meses de 2008 e de 2007 e apenas 0,4% em maio na comparação com abril. Sem querer arriscar se o crescimento da indústria neste ano vai superar os 5,4% apurados em 2007, Mol avalia que o ritmo de 7,9% registrado nos cinco primeiros meses do ano deverá diminuir até o final do ano. UCI estável Outro indicador que mostra essa tendência de puxada no freio é a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) da indústria que chegou a um ponto de estabilidade. Em maio, as empresas operaram com 83,2% de sua capacidade, muito próximo aos 83,1% registrados em maio de 2007 e também perto da média de 2007 que foi de 82,4%. De acordo com os economistas, esse patamar indica que houve uma maturação de investimentos que começaram a ser realizados em 2006. Eles explicaram que embora a UCI tenha permanecido estável, a produção no período aumentou. A manutenção do nível do uso da capacidade instalada aconteceu ao mesmo tempo em que houve crescimento das horas trabalhadas de 2,7% e do emprego em 3,8%, na comparação com o mesmo período do ano passado, o que para os economistas da CNI, são um "indício claro de maturação de investimentos". Segundo a Confederação da Indústria, a pressão inflacionária não passa pela falta de oferta de produtos industriais. O crescimento dos investimentos continua forte, próximo do dobro do PIB. "Em 2006 esse incremento foi de 10%, em 2007 de 13% e este ano ainda está na casa dos dois dígitos", aponta Mol.